quarta-feira, 18 de março de 2009

A «Casa das Bocas», em Viseu, está a ruir

Em Viseu, parte do Jardim de Santa Cristina para Norte uma rua que já teve o nome de rua da Regueira e agora tem a designação de rua João Mendes, mas é mais conhecida por Rua das Bocas, devido a um prédio apalaçado, datando do século XVIII, que tem na frontaria, junto ao telhado, um conjunto de gárgulas em granito, bustos de animais (só pescoço e cabeças de bocas abertas, de que resultou o nome de "Casa das Bocas"). Sendo inicialmente destinado a habitação, serviu também de colégio particular, em regime de internato e, mais recentemente, ali funcionou, no rés-do-chão, uma tipografia.

O solar, há cerca de 50 anos era ladeado por uma enorme quinta, cujo terreno foi urbanizado, com frente para a Rua 5 de Outubro, e está desabitado há cerca de uma década.

Na segunda-feira, 16, à noite, parte do tecto desabou, com estrondo e poeira que assustou os vizinhos.

O interior do país no Centro e Norte tem muitos solares, edifícios apalaçados e outras construções que constituem heranças envenenadas para quem as recebe, porque a sua manutenção e recuperação se tornam impossíveis a não ser que lhes seja dada uma utilização rentável, ou para serviços públicos ou para empresas. O certo é que é pena que desapareçam imagens de um passado, que faziam parte da memória de várias gerações e eram símbolo dos cartazes turísticos da região.

A notícia refere que a autarquia já tinha sugerido a sua demolição aos proprietários, mas é lamentável que não se encare a hipóteses de recuperar a fachada com as célebres «bocas» para instalar algo de útil à cidade. Abundam exemplos de bom aproveitamento de edifícios antigos na cidade, como o antigo Paço episcopal, depois Casa de Reclusão Militar e hoje Solar do Dão; o Solar dos Condes de Prime, anteriormente Casa do Cimo da Vila e dos Ernestos, agora Conservatório Regional de Música; o Solar dos Peixotos, agora Assembleia Municipal; o Solar do Visconde de Treixedo, agora Montepio Geral,; o Hospital da Santa Casa da Misericórdia, agora Pousada Pestana; a casa dos Pais, agora Direcção de Estradas do Distrito de Viseu, etc. etc..

Temos esperança que a autarquia não deixará desaparecer este símbolo da Cidade.

2 comentários:

Amaral disse...

João
É de lamentar que isso aconteça. Infelizmente muito do nosso património é votado ao abandono, tal como os velhos.
Abraço

A. João Soares disse...

Caro Amaral,
Fala-se de património mas não passa de palavras a que não é dado qualquer significado. Neste caso, pelo menos valeria a pena conservar a fachada, com as gárgulas. Uma singularidade da cidade que convinha preservar e, tecnicamente, não seria difícil, pelo que se vê em muitas obras.
Um abraço
João Soares