São preocupantes os abundantes indícios de degradação dos comportamentos do ser humano, que está a progredir a um ritmo assustador. Perderam-se valores éticos que eram considerados essenciais e passou a dar-se valor desproporcionado ao dinheiro e outros aspectos materiais, numa obsessão centrada nos interesses imediatos da ostentação e do consumismo daí resultante.
As crianças estão a ser duplamente lesadas, sendo vítimas da degenerescência dos pais e outros familiares que era suposto transmitirem-lhes lições práticas da vida e do indispensável civismo. Por um lado elas serão gravemente prejudicadas por irem herdar um mundo sem regras morais traduzidas numa escala de valores insubstituíveis; por outro lado, estão sendo vítimas do desleixo efectivo de quem as devia vigiar e resguardar de perigos desnecessários.
Os pais abandonam os bebés nos «berçários» para que outras pessoas os substituam na vigilância de seres indefesos. Tais pessoas, normalmente, sem características técnicas e afectivas adequadas, colocam a prioridade nas tarefas conducentes a evitar acidentes, desprezando a formação integrada dos seres candidatos a adultos.
Depois, as crianças passam para os infantários, onde pouco mais lhes é proporcionado para uma formação cívica adequada. Mas, ao menos, estão preservadas de acidentes graves.
Porém, aos fins de semana, feriados e férias, os pais que, normalmente, não sabem como lidar com os filhos, for falta de hábito de convívio com eles, procuram ser simpáticos e condescendentes, não os contrariando. E nessa liberdade descuidada, ocorrem os acidentes graves. Hoje, é preocupante a notícia do desaparecimento da Criança de quatro anos desaparecida em praia da Quebrada, Angeiras, Matosinhos, que deve ter sido levada pelo mar. E ainda não começou a época balnear, o que já é um péssimo prenúncio, que levou a Autoridade Marítima a pedir mais cuidado nas praias não vigiadas.
Mas o perigo espreita por todo o lado e o desleixo não permite fazer-lhe frente da forma mais eficaz. Também hoje, é noticiado que um menino de quase dois anos e meio que brincava na rua da aldeia, no concelho de Mangualde, com dois irmãos mais velhos, deixou de ser visto e, uma hora depois, foi encontrado num poço, acabando por morrer.
Mas os casos nefastos não param, como mostra a notícia de um automóvel com dois meninos de quatro e de sete anos que se encontravam sozinhos no interior a brincar, se destravou e deslizou despenhando-se de uma altura de cerca de 18 metros, junto ao miradouro de Sebolido, em Penafiel. As criança, demasiado traumatizadas, ficaram em risco de vida.
E isto a acrescentar ao esquecimento de um bebé, pelo pai, dentro do carro fechado estacionado ao sol, acabando por falecer.
As crianças de agora terão de recriar um mundo habitável, em que as pessoas respeitem a vida humana e se comportem com muito senso e com a valorização de conceitos de bom convívio com dedicação ao que é essencial.
Prevenir é prever os perigos para antecipar medidas adequadas a fim de os evitar. É pena que, nos tempos que correm, valores como o cuidado e a prevenção sejam tão ignorados. Por este caminho, onde iremos parar? Quando será que as escolas iniciarão uma eficaz preparação das crianças para serem adultas responsáveis e gerirem eficazmente a sua vida, melhor do que está a acontecer com a geração dos seus pais?
Duplo critério
Há 1 hora
4 comentários:
Anónimo,
Não publiquei um comentário, curiosamente vindo em duplicado, de uma ou de um anónimo. Não o recusei por ser de um anónimo, mas pelo tom irado como foi escrito e pelos termos usados, impróprios de quem é mãe ou pai de uma criança de 3 anos. Poucos dotes didácticos!
No post não quero atribuir os males da sociedade actual aos actuais pais das actuais crianças, não quero dizer que os pais, pelo facto de terem as crianças no infantário, são facínoras. A sociedade transformou-se nisto e as famílias têm de gerir a sua vida da melhor forma.
Uma avó ou um avô em casa pode fazer útil companhia aos netos, mas há mães que não julgam boa essa solução e preferem meter os idosos num lar. Por outro lado, uma criança beneficia em conviver com outras da sua idade, para aprender o civismo, respeitar os direitos dos outros e saber que a sua liberdade acaba onde começa a dos outros.
Mas a transformação da sociedade que chegou a este ponto, que é uma realidade e de nada se beneficia em criticar e a comparar com antigamente, não foi harmoniosa, pois se o tivesse sido, o pessoal dos infantários teria sido melhor preparado para ajudar as crianças num desenvolvimento mais completo e alargado, nos aspectos de inteligência e sensibilidade, de arte e de cultura. Por sua vez os pais devem, no pouco tempo disponível, conviver mais com os filhos num diálogo incentivador de um melhor conhecimento mútuo e de confiança. As crianças precisam de protecção e os acidentes referidos no post podiam ter sido evitados se os familiares ou outros adultos que estavam próximos, fossem mais cuidadosos. O perigo espreita por todo o lado e é bom estar precavido.
A ou o anónimo, precisa de ter capacidade de análise do texto e apresentar o seu ponto de vista com serenidade e boa intenção. Certamente que se tivesse aqui o comentário, não teria dado esta resposta , porque o ser humano reage em função dos estímulos e não é fácil responder com serenidade a palavras mal intencionadas. Penso que, com estas palavras, compreenderá melhor a intenção do post.
Cumprimentos
João Soares
Cara Luísa,
Continue a seguir o slogan: seja prudente, evite o acidente.
Nem tudo se pode evitar, mas ao menos que não aconteçam por falta de cuidados básicos. Repare como hoje caiu uma criança dum 5º andar e ficou em perigo de vida. As varandas e as janelas de casa onde haja crianças não pode deixar de haver redes que as protejam.
Transcrevo aqui um comentário que coloquei noutro blogue:
Parabéns pela felicidade de poder contribuir para a educação e o desenvolvimento dos seus netos e dos adoptivos.
O saber adquirido durante a vida não deve ir connosco para a cova, deve ser comunicado aos mais novos, não por imposição mas apenas como informação de que eles se servirão à sua vontade.
Atrevo-me a transcrever um texto da amiga Maria João Fortunato sobre este tema, recebido hoje:
A Laura fez uma fita levada dos demónios comigo anteontem (em toda a sua vida de quase 5 anos é a 2ª que faz, deve ter-se esquecido da 1ª...). Disse-lhe que, ok, fosse berrando e chorando e que quando decidisse calar-se e tirar o pijama para tomar banho e vestir a roupa adequada - e não a que ela queria - viesse falar comigo. Fui para a cozinha adiantar o almoço, enquanto ela gritou, berrou, esperneou e até atirou ao ar a sua girafa de estimação.
Ao fim de uns 20 minutos de berros, gritos e, por fim, soluços, tirou o pijama e meteu-se na banheira.
Acabámos a manhã no parque infantil (onde eu tinha falado em ir logo bem cedinho).
Expliquei-lhe que gostava muito dela, gostaria sempre. O que não gostava era de birras, berros, gritos, teimosias e más educações.
Como sai a esta avó, é elementarmente inteligente. Declarou "Gosto muito de ti, vóvó. Olha, compras-me um gelado?".
Não pareceu nada traumatizada e até hoje parece que a criança tem comido e dormido como de costume.
Acham que fiz mal em não negociar com ela?...
Ai... estou tão preocupada ...
Refere-se às posições de um psicólogo que se opõe à disciplina das crianças com as quais tudo deve ser negociado!
Um abraço
João Soares
Estimadissimo A. JoãoSoares,
apenas lhe posso render homenagem por sempre, tão delicada e sabiamente, nos proporcionar oportunidade de reflexão.
Sou mãe e vivo com "o coração nas mãos"!
Dedico tudo da minha vida à minha filha e mesmo assim, há falhanços.Mas dedico-me a um ser que pretendo que cresça a valorizar o "ser" e não o "ter".
Obrigada pelo motivo de reflexão!
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