António Lopes, proprietário da fábrica têxtil Fiper, no Teixoso, Covilhã, que emprega 50 pessoas, anunciou que, apesar da sua empresa "registar prejuízos", vai manter os trabalhadores a prazo que agora terminavam contrato, por entender que, na crise, o sacrifício deve ser de todos e não só dos operários. Vai manter os 29 trabalhadores com contratos a prazo, apesar de estar "a registar prejuízos todos os meses".
Disse à agência Lusa: "sei o que estes dramas representam dentro de casa. Já fui trabalhador, dirigente sindical e já os vivi. Agora, em tempo de vacas magras, também devo empobrecer um pouco". "O futuro a Deus pertence. Eu vou tentar aguentar tanto quanto possível e os despedimentos serão a última coisa a fazer".
Esta atitude do empresário veio recordar-me o que ouvi numa aula de economia ou de organização empresarial, há pouco mais de 40 anos. Na sociedade capitalista actual, em que tudo se subordina à ganância do dinheiro, esquece-se o facto de a empresa ter obrigações perante os donos do capital, os gestores, os trabalhadores a todos os níveis, os fornecedores, os clientes e a sociedade envolvente. É uma justa função social da empresa.
A empresa precisa de dar atenção a todos estes agentes económicos e, por isso, a distribuição dos lucros não deve beneficiar apenas os donos do capital e os gestores, mas principalmente os trabalhadores que foram indispensáveis para a sua obtenção. Qualquer destes factores não pode ser esquecido para que a empresa funcione de forma saudável e eficaz. A sociedade envolvente deve ser «acariciada» por outras formas, principalmente, pelo mecenato traduzido em pequenos gestos de apoio à vida social e a um ou outro caso de carência. Na área envolvente se incluem os familiares dos trabalhadores, os vizinhos, que são clientes e por vezes fornecedores. Os fornecedores devem ser respeitados e tratados com seriedade e honestidade; no mínimo devem ver as suas contas pagas com regularidade. Os clientes devem ser bem servidos na qualidade e no preço dos artigos ou serviços fornecidos e no apoio pós-venda, por forma a criar neles uma afectividade que seja garante de continuidade.
Imagine-se como a sociedade será mais harmónica e feliz quando estes aspectos forem encarados com franqueza e lealdade.
O senhor António Lopes dá, com este gesto, uma grande lição aos seus parceiros empresários, muitos dos quais querem continuar a gozar de todas as regalias e que a crise seja paga apenas pelos trabalhadores e suas famílias.
sexta-feira, 8 de maio de 2009
Empresário disposto a empobrecer um pouco
Posted by A. João Soares at 17:03
Labels: empresas, justiça social, lucro
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