quarta-feira, 27 de maio de 2009

Não é fácil fazer uma sentença

Os sorrisos da criança russa...
Isabel Stilwell. editorial@destak.pt Destak. 27 | 05 | 2009.

Espero que os juízes da Relação de Guimarães tenham visto televisão nos últimos dias. Se um dos argumentos contra a família de acolhimento da criança russa era o facto de terem «recorrido» aos meios de comunicação social (os outros fazem os erros, mas a culpa é sempre dos jornalistas, claro...), o que dirão da exposição a que a mãe biológica, a quem entregaram Alexandra, está a fazer da filha, desde o momento em que pisou solo natal? Será que não sentem nem uma pinga de remorsos quando assistem a uma entrevista dada num café, a cara da criança descoberta, e a progenitora a dizer que a família de acolhimento queria a menina para lhe venderem os órgãos ou a darem à prostituição. E depois há os tabefes à frente das câmaras, o que poderia ser sinal da sua total falta de hipocrisia, mas que dadas as circunstâncias mais parece um sinal claro de desequilíbrio...

Provavelmente dirão, como já ouvi na televisão, que a criança também sorriu, deu a mão à mãe, e até deixou que lhe penteasse o cabelo! Quando será que crescemos o suficiente para sermos capazes, sobretudo os técnicos a quem cabem estas decisões, de nos deixar levar por estes sinais exteriores, sejam choros ou gargalhadas, e tomamos consciência de que a avaliação de uma criança tem que ser muito mais profunda do que isto?

Porque é óbvio que uma criança "sequestrada", nem que seja por ordem de um tribunal, vai sorrir para o sequestrador. As crianças, como os adultos, têm mecanismos de sobrevivência, e quando perderam tudo entendem perfeitamente que a sua única saída é conquistar e obedecer a quem estão entregues. Até à oportunidade de fugir ou que a salvem. Quando passam os dias e ninguém chega, morrem por dentro, azedam, revoltam-se em silêncio. Mas continuam a rir. E aí os juízes (e não só) podem dizer que está tudo bem!

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