Encontro de irmãos
José Luís Seixas, Advogado. Destaque. 27 | 05 | 2009
O nosso primeiro-ministro possui algumas qualidades. A principal é a capacidade de comunicação e a fluência oratória. Se Guterres foi em tempos apodado de "picareta falante", a Sócrates caberá epíteto nunca inferior a "palavroso berbequim".
Porém, uma das muitas diferenças entre um e outro (além da cultura, da substância, da profundidade e doutros itens que julgo por bem silenciar) é a absoluta ausência de jeito do segundo para se exprimir em qualquer idioma estrangeiro. O discurso que proferiu em Valência no comício do PSOE, pronunciado num português acidulado por remates onomatopaicos de sevilhanas e flamengo, assemelhou-se a aramaico ou, no mínimo, a qualquer coisa entre o mirandês e o algarvio. Os valencianos assistentes aplaudiram porque, lá como cá, vibra-se muito com o que não se compreende.
Zapatero, por seu turno, veio a Coimbra, fazendo as vezes da aletria em arraial minhoto. A sessão foi coisa mais modesta. Recorde-se que em Valência queimam-se as "fallas" enquanto em Coimbra se queimam as "fitas". E sob a égide da medieva universidade frequentada pelo grande Camões, falou em castelhano, sem pruridos, nem complexos.
A comunicação social fez fluir as semelhanças entre ambos - Sócrates e Zapatero - na idade, na compleição física, no corte de cabelo e na identificação ideológica. Esqueceu-se de outras.
Protagonizam crises nacionais agonizantes. Comungam o mesmo discurso plástico, sem consistência nem alma, feito de slogans e frases feitas, de ideias vagas e de promessas incumpríveis. São lideranças de papel, sem a solidez que a gravidade do momento exige, sem a capacidade de mobilização que impulsione a sociedade a superar-se a si mesma. São exemplos do carreirismo partidário sem passado profissional relevante (ou conhecido), que concebe a governação na base da táctica, que convive com ruptura e dissemina crispação porque lhe falta a grandeza histórica que concita convergências e espírito de unidade. E são homens sós, isolados numa redoma de fracasso que já ninguém quer partilhar.
Enfim, foi um encontro de irmãos e de parentes próximos.
NOTA: É pena que, na sequência da arrogância e rispidez com que, por vezes, cá dentro se dirige aos partidos e deputados na AR e aos jornalistas, não mostrasse, lá fora, mais dignidade e respeito pelo idioma nacional e pelo dos outros Estados, principalmente dadas dificuldades com que luta para se exprimir em idiomas estrangeiros. O bom senso raramente é prejudicial.
quarta-feira, 27 de maio de 2009
«Patriotismo» de Sócrates
Posted by A. João Soares at 21:59
Labels: uso do idioma nacional
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4 comentários:
João
Gostei deste seu post. Concordo.
Abraço
Caro Amaral,
Na vida normal é preciso bom senso, equilíbrio, racionalidade e dignidade, mas essas qualidades são absolutamente imprescindíveis nos políticos devido à responsabilidade que deve pesar nos seus ombros, à visibilidade que procuram a todo o momento e que os obriga a terem cuidado com o exemplo que dão.
Abraço
João
Boa definição. Ente enfadonho e arrogante personagem está amais onde se encontra. Contudo, o pior é que não há quem avance de mérito para o substituir. Pelo contrário, os que estão em lide até são bem piores. Os bons não têm cabidela em partidos fechados e dominados pela corrupção.
A situação quanto a alternativas é desesperante. De todos os senhores deputados na AR, todos, com apenas uma excepção honrosa - de António José Seguro - votaram como ovelhas abúlicas e acéfalas como pastor lhes ordenara pela lei do dinheiro vivo, que coloca os partidos em conivência com a pior espécie de traficantes e corruptos. Ficou provado que realmente são todos iguais, pelo que merecem o VOTO EM BRANCO. Um corja que para defenderem a sua condição de malfeitores colocaram a ganância dos partidos acima dos interesses nacionais. Quando se trata de grandes problemas de Portugal não se unem de tal forma!
Mas perante esta lição que deram sobre a sua corrupção, muitos portugueses não acordaram e, apesar dela, continuarão a dar-lhe o voto.
Um abraço
João
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