Já por várias vezes aqui escrevi sobre o suposto papel dos assessores. São feitos à imagem e semelhança dos seus «patrões» para descanso dos mesmos. Há poucos anos os jornais levantaram uma celeuma acerca da mais de uma centena de assessores que enxameavam os gabinetes, apesar de a maior parte só por lá aparecer em «part-time».
Ouvi na TV uma vereadora, senhora de reconhecido mérito a quem têm sido dados cargos de grande responsabilidade, dizer que tinha ao seu serviço quase uma dezena de assessores e a sua escolha não tinha obedecido a critérios de competência mas de «confiança política». Enfim, uma agência de emprego ou um asilo para não competentes, amigos ou protegidos da oligarquia partidária.
Para maior mal, é desses privilegiados pela tal «confiança política» que saem os deputados, os secretários de Estado, os ministros, e nas autarquias seguem percurso paralelo. Isto ajuda a compreender as broncas que ocorrem frequentemente com a legislação e decisões que depois ou são alteradas - os recuos – ou são mantidos teimosamente causando graves danos na vida nacional.
O artigo que a seguir se transcreve evidencia isso. Os assessores que apenas dizem o que pensam que o patrão deseja ouvir, que apenas sabem dizer, com má pronúncia, «yes sir», não ajudam a fazer o melhor e nem evitam que se cometam erros ou imperfeições desagradáveis. Para nada servem. Mas pelo país fora há milhares destes inúteis que são bem pagos pelo Estado e muitos acumulam com os proventos do tráfico de influências, que lhes é fácil por estarem próximos do bafo dos actores do Poder.
Eis o artigo atrás referido:
Cavaco está sozinho?
Correio da Manhã. 01 Outubro 2009. Por Octávio Ribeiro
Depois de ouvir o discurso de 11 minutos e de seguir as múltiplas reacções, fica a pergunta: estará Cavaco Silva sozinho? O discurso foi mau de mais para um Chefe de Estado que habituou o País ao rigor.
Ninguém das citadas Casa Civil ou Militar teve a coragem de dizer ao Presidente que aquele arrazoado de argumentos era uma confusão tremenda? Ninguém pigarreou para depois opinar que, de um Presidente, dois dias depois de Legislativas, as pessoas esperam um discurso claro, firme – de Estado? Por estes dias, Cavaco parece sozinho em Belém. E dessa solidão má conselheira desce para a rua um sentimento de descrença, que se cola aos 2 773 431 cidadãos que o elegeram à primeira volta. O País precisa, mais do que nunca, de um Presidente forte. Unificador. Sem prescindir dos princípios com que se apresentou ao eleitorado.
NOTA: Apesar de ser da sabedoria comum que «não há regra sem excepção» quero frisar que, quando refiro «os assessores» admito poder haver eventuais excepções.
Miguel Sousa Tavares - Uma opinião corajosa
Há 3 horas
4 comentários:
"...um Chefe de Estado que habituou o País ao rigor."
Caro João Soares
Que rigor? Disso todos falam e até parece que é o que mais abunda nas hostes da governação. Mas não o há nem nunca vi nenhum. E, no que concerne a essa criatura, nem por sombras. O que eu vi até agora, isso sim, é um palavreado tortuoso, ambíguo e pusilânime. Anda aos círculos, insinua, sugere, esconde, mas da boca para fora não sai rigorsamente nada. Ou será desse "rigorosamente" que estamos a falar?
Caro Fernando Vouga
Obrigado pelo comentário. As pessoas sensatas, antes de falarem devem pensar se aquilo que vão dizer tem mais valor do que o silêncio.
Se Cavaco tivesse seguido este preceito, não tinha feito este discurso nem um por alturas do Estatuto dos Açores. Depois de o ouvirmos não ficámos mais esclarecidos e sentimo-nos frustrados pelas ansiedade das horas entre o anúncio e o momento da intervenção.
Espanta que não tenha assessores que o ajudem ou que tendo-os não os saiba utilizar.
Um abraço
João
Caro João Soares
Teoricamente, os tais assessores deveriam servir para ajudar. Mas como a carne é fraca, eles só servem para adular. Se algum se atrever a discordar é logo acusado de mal agradecido, de estar ao serviço dos adversários e posto no olho da rua. E é por isso que os governantes se convencem depressa de que são seres iluminados, de tanto aplauso que recebem.
Por fim, quantos mais assessores, mais aplausos e está tudo dito.
Caro Fernando Vouga,
Bem analisado. São «Yes men» por conveniência. Os patrões seguem o lema de que a importância é proporcional ao número de subordinados. Todos querem ser generais de Grupo de Exércitos. Para chefiar apenas 10 lá está o Sargento comandante de secção!!!
Abraço
João
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