sábado, 31 de outubro de 2009

Sensatez ainda existe

Estando em discussão, como preparação da decisão de escolha do futuro presidente europeu em que um dos candidatos era o inglês Tony Blair, a alemã Angela Merkel desferiu um golpe fatal nesta candidatura com o argumento de que «o cargo deverá ser ocupado por um dirigente de um ‘pequeno ou médio país’».

Merkel não hesitou em dizer que quer um presidente na concepção de chairman – ou facilitador de consensos – embora com peso internacional. E frisou que qualquer que seja o escolhido, mesmo de um pequeno país, terá sempre o peso de falar em nome de 500 milhões de cidadãos. Uma posição muito sensata que certamente será vencedora sem controvérsias.

Esta posição de preferência por um cidadão de um pequeno ou médio país merece ser devidamente enfatizada, por tender a evitar o domínio dos grandes contra os interesses dos pequenos, no conhecido estilo imperial. Igual conceito devia ser tomado em consideração quanto à constituição do Conselho de Segurança (CS) da ONU, em que imperam os países mais ricos com predomínio dos vencedores da II Guerra Mundial já terminada há 64 anos e ainda a produzir efeitos nos mais pequenos, mantidos em regime próximo do colonial.

Por exemplo, fala-se de «não proliferação de armas nucleares», em vez de falar de eliminação de todas as armas nucleares, o que seria a decisão mais lógica e sensata dada o perigo que tais armas representam para a humanidade. Sendo assim tão perigosas, o que leva a evitar a proliferação, fica a interrogação porque é que os poderosos continuam a manter os seus arsenais?

4 comentários:

Fernando Vouga disse...

Caro João Soares

A eliminação das armas nucleares é uma utopia. Especialmente as grandes potências, nunca abrirão mão dessa capacidade. Tanto para ameaçar como para dissuadir. Além do mais, a tecnologia do seu fabrico está ao alcance de quase todos e, caso se optasse pela total desnuclearização, nada pode garantir que não haja alguém que faça batota.
O melhor será encararmos o problema com realismo e não perder muito tempo a sonhar com impossíveis. De resto, salvo as duas bombas lançadas no Japão, o nuclear tem servido para convencer os governantes das superpotências a não se meterem em grandes aventuras bélicas. É que podem morrer no primeiro dia do conflito. Coisa que dantes não era sequer pensável...

A. João Soares disse...

Caro Vouga,

É verdade que as AN só serviram para dissuasão. Mas a minha utopia (necessária e conveniente) refere-as à falta de lógica de os poderosos, os que estão no CS (e não todos) querem manter as suas armas e proibir os outros de as adquirirem. É a ditadura internacional. É a negação da democracia, da igualdade de oportunidades e de direitos, de que os Estados são iguais. É a confissão da ditadura internacional, de um novo tipo de colonialismo.
Mas há poucos utópicos que se atrevam a desenvolver estes raciocínios, com receio de represálias de fundamentalistas!.

Um abraço
João

Fernando Vouga disse...

Caro João Soares

Creio que estamos num beco sem saída. Já é suficientemente mau haver alguns países que dispoem de AN. Estender a toda a gente esse "direito" é simplesmente criminoso. Porém, quem dispõe dessas armas está prisioneiros do mal que escolheu. Um passo em falso poderá ser o incentivo para um adversário de ocasião se lançar numa aventura bélica, de consequências imprevisíveis. E o que não falta agora são tiranetes que, para se manterem no poleiro, estão dispostos a tudo e mais alguma coisa.
Por outro lado, teria de haver uma concertação de modo a que todos se desarmassem ao mesmo tempo. Mas tal tem o perigo de surgir algum "distraído" que, na passada, ao ver que tem um brinquedo que mais ninguém tem, carrega no botão.
Hoje em dia estão acumuladas demasiadas e poderosas tensões, prontas a explodir. E é aí que reside o perigo. Guerras sempre houve, independentemente dos armamentos disponíveis.

A. João Soares disse...

Caro Fernando Vouga,

Sem dúvida que essa intenção não passará de utopia. Como dizia o outro: agora não podem desinventar-se!!!
Mas dar assento no CS a representantes de países mais pobres, não traz perigo algum e faz que sejam ouvidos os conhecedores das dificuldades desses países que tão esquecidos têm sido.

Um abraço
João