quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Guerra Junqueiro fotografou o Portugal de hoje!!!

Transcrição do texto recebido por e-mail da amiga Mizita, seguido de NOTA de A. João Soares:

"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas;
um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai;
um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.

Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.

Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.

A justiça ao arbítrio da Política, torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.

Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções, incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar."

Guerra Junqueiro, 1896.

NOTA: Um génio este escritor. Como seria se tivesse assistido ao «diálogo» empolgante entre aquele «palhaço» e aquela que «se vende por qualquer preço para subir ao poder»?
O Junqueiro, o Eça e tantos outros «em quem poder não tem a morte» não tiveram a dita de estar presentes em frente dos ecrãs da televisão para assistir aos espectáculos invulgares realizados na meia arena do Parlamento, nos quais os nossos descendentes não conseguirão acreditar e dirão que os vídeos não passam de montagens de miúdos traquinas, blasfemos e iconoclastas da época.
Que belos textos tais artistas, escultores que usavam a palavra em vez de barro, teriam construído e legado aos vindouros!!!

4 comentários:

Mentiroso disse...

A maioria dos outros povos dessa época também era assim, mas souberam mudar.
Aqui, temos um presidente do supremo que quer controlar a imprensa, uma justiça e os pol]iticos que persistem no segredo de justiça para ocultarem a sua incapacidade e os seus crimes; um presidente que se acobarda sobre as suas decisões escondendo-se atrás de coisas mais importantes, a miséria actual, consequência dos alarves e ladrões do seu governo.

A. João Soares disse...

Caro «Mentiroso»,

O grave problema deste recanto da Europa é esse, o da falta de personalidade colectiva de iniciativa de preparação intelectual para decidir com conhecimento de causa.
Adoptamos o «vamos indo», o «vamos vivendo» e esperamos por milagres, em vez de tomarmos as rédeas da vida e a conduzirmos da forma mais adequada. Claro que no meio deste rebanho há uns «espertos«, atletas que praticam despudorada e impunemente o assalto à vara outra modalidade de malabarismos, aproveitando a apatia do povo.
Este conformismo do povo, que revela imoralidade e estupidez, aceitando votar em autarcas condenados em pessoas que já evidenciaram incompetência e desonestidade, em listas que têm indivíduos arguidos de crimes com os dinheiros públicos, define o povo que somos.

Um abraço
João

Mentiroso disse...

O grave problema deste recanto da Europa é esse, o da falta de personalidade colectiva de iniciativa de preparação intelectual para decidir com conhecimento de causa.

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A personalidade colectiva de iniciativa foi destruída pelos interesses das máfias oligárquicas partidárias com o apoio, diferente mas incondicional e igualmente adequado, das pandilhas de jornaleiros pedantes. Essa personalidade colectiva foi lenta mas seguramente substituída por uma adulação de ídolos rascas fabricados por eles e a que chamaram de auto-estima. Um tipo de orgulho por actos também rascas, como escoiceadores de bolas e outros idênticos em valor.

Os verdadeiros valores e princípios – aqueles que fizeram os outros países progredir – foram deitados para o lixo. Hoje, encontram-se até certas barbaridades apadrinhadas por certos indivíduos de outro modo dignos e que de costume escrevem acertadamente, mas que por tanta bestialidade ouvirem sucumbiram à «besta». Leia-se, por exemplo este post cheio de erros (de compreensão de interpretação, de contemporaneidade), na sua maioria desconjuntados, a apoiarem o erro da ideia central. Em consequência, não podem faltar ainda os erros de interpretação sobre factos e decisões recentes.

A. João Soares disse...

Caro «Mentiroso»,

A sociedade ou em sentido mais lato a humanidade está sistematicamente em alteração p0os força de pressões do capitalismo selvagem. O Presidente Eisenhower já alertava que o complexo industrial militar criado durante a II Guerra Mundial em que foi de grande utilidade na obtenção da vitória, não se iria deixar apagar e seria um factor de pressão muito forte. E tem sido ele que empurrou os poderes políticos paras as diversas guerras menores ocorridas nestes últimos sessenta anos, por todo o mundo.
O complexo industrial militar dominando as comunicações com a Internet e unido aos bancos, são a alma do grupo Bilderberg. Dominam e condicionam as grandes decisões dos políticos. E para confirmar as suas referências aos «jornaleiros» o grupo tem em posição de destaque os proprietários dos grandes órgãos da Comunicação Social. De Portugal o único elemento permanente do grupo é o Dr Balsemão pela sua influência na Comunicação no País.

Nada acontece por acaso. E estes poderosos têm seguido a sua estratégia sem inflexões, a não ser para melhor explorarem o sucesso de cada caso.
E o povo continua mansamente a aceitar todos os sacrifícios que lhes são impostos.

Abraço
João