terça-feira, 5 de janeiro de 2010

A crise ensina a pensar

A crise reduziu o poder de compra de muita gente principalmente das famílias flageladas pelo desemprego. Mas mesmo os que a não sentiram tão fortemente, passaram a dar mais valor ao dinheiro e a aprender a gastá-lo com regras, com conta, peso e medida. As compras devem se precedidas de raciocínios lógicos quanto à necessidade do produto, à sua utilidade, à escolha do modelo mais adequado ao uso que se lhe irá dar, ao preço e à qualidade.

Há indicadores de que muita gente aprendeu a abster-se de coisas supérfluas, de imitação dos outros, de ostentação, etc.

Agora aparece o indicador da ACAP, nas notícias «Desde 1988 que não se vendiam tão poucos automóveis ligeiros em Portugal» e «Vendas a par de 1987 nos automóveis». São indicadores saudáveis que levam a que se felicitem os portugueses por estarem a ter mais juízo na sua economia doméstica.

Mas é preciso que os governantes estejam atentos e não caiam na asneira havida em relação ao BPN em que sacrificaram dinheiro dos contribuintes, para obviarem aos crimes dos administradores da empresa. A ACAP está a pressionar para serem mantidos os incentivos ao abate de veículos antigos como forma de apoiar o sector automóvel, estimulando as vendas, o que aumenta as importações e a dívida externa. Sobre este aspecto sugiro a leitura do post «Contribuintes pagam abate de carros».

A crise aconselha a manter os carros enquanto puderem funcionar com segurança e economia, o que deve ser deixado ao critério dos seus proprietários. O Estado já tem a garantia de segurança através das inspecções obrigatórias, não deve gastar o dinheiro dos impostos para fazer o jogo da ACAP. Por outro lado, a loucura do abate de carros em razoável estado de funcionamento prejudica muitas centenas de oficinas de manutenção e reparação e manda para o desemprego milhares de profissionais que nelas trabalham.

Já temos carros a mais, como se vê nos subúrbios de Lisboa nas horas de ponta, com as estradas pejadas de carros com apenas um passageiro cada. Ser-lhes-ia mais cómodo e mais económico irem para o emprego de autocarro ou comboio, pois a maior parte não utiliza o carro durante o dia.

O abate de um carro ainda utilizável devia ser penalizado e não estimulado.

2 comentários:

Diogo disse...

Este post vem de encontro ao meu caso, que já tenho um carro com alguns anos e me recuso a trocá-lo enquanto ele não me der chatices. Eu quero um carro para me deslocar e não para estar sempre na última moda.

A. João Soares disse...

Caro Diogo,

O meu tem mais de 12 anos. E não vejo razão para o trocar.
Mas quem decide fazer o jeito à ACAP são os ministros, que gostam de estar nas boas graças dos capitalistas e não se importam de mandar para o desemprego os donos e trabalhadores das imensas oficinas que há no País.
Aliás os políticos, como os carros são pagos pelo dinheiro dos contribuintes, trocam-nos sempre que aparece um modelo melhor. É um esbanjamento que os portugueses médios não podem nem devem fazer.

Estamos num País com desigualdades enormes e sem Governos sensatos.

Abraço
João