sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Sócrates não se demite

Depois de o Público ter lançado a ideia de que Cavaco marcou reunião do Conselho de Estado após “ameaças” de que Sócrates poderia demitir-se, surgiu com rapidez a notícia de que Gabinete garante que Sócrates não ameaçou demitir-se.

Foi um esclarecimento politicamente correcto, antes que se levantasse uma pressão de tal peso que levasse o PM a aceitar o desafio. Isso seria errado para ele, pois não teria garantia, segura nem talvez provável, de sobreviver. Por mais deslumbrado que lhe chamem, é um lutador com apurado sentido da sobrevivência e apego ao poder e não é desprovido de inteligência.

O suicídio, hara-Kiri ou seppuku, é uma solução dos honrados e nobres Samurais, para defesa da honra que consideram mais valiosa do que a própria vida.

Sócrates não iria arriscar tanto pelo simples projecto das Finanças Regionais. Aguentou os vários fracassos das promessas feitas na campanha eleitoral de 2005; aguentou o caso das habilitações académicas e desistiu do processo contra o professor António Balbino Caldeira Do Portugal Profundo; aguentou as suspeitas sobre o caso Freeport em que a sua exaltação nervosa na AR nada esclareceu antes o lesou mais; aguentou o caso com o jornalista João Miguel Tavares, de que desistiu em tribunal; aguentou o não cumprimento dos prazos estabelecidos pelo Governo para o Magalhães; e aguentou a desistência da criação do aeroporto de Lisboa na Ota. Entre outros projectos e promessas.

Tudo isto leva a não se ficar surpreendido com a comunicação do gabinete que mostrou muita esperteza e sentido de oportunidade a não perder, embora para dizer o que é lógico e coerente com a personalidade da entidade. Tudo leva a crer que Sócrates não se demitirá, não imitará António Guterres, dotado de qualidades diferentes.

4 comentários:

Fernando Vouga disse...

«...surgiu com rapidez a notícia de que Gabinete garante que Sócrates não ameaçou demitir-se.»

Caro João Soares

Se o Gabinete disse o que disse, então o dito cujo tenciona demitir-se.
Elementar, meu caro joão Soares...

A. João Soares disse...

Caro Vouga

Não me inclino a acreditar na sua conclusão. Os que ficariam órfãos já devem estar a acender velas à Srª de Fátima. E são muitos!!!
As pressões são muito significativas: a quantidade de boys e girls, dá muito peso:

Um abraço
João

Anónimo disse...

Caro João Soares,

Sócrates, neste momento, beija os pés a Cavaco. Neste momento há muita gentinha a pedir a sua demissão. E haverá outra gentinha a tentar desfazer -tapar os buracos- de tanta coizinha feita é moda da "compra da TVI"...

Mas há um problema; não há líder da oposição para haver eleições neste momento e ganhar uma base sólida no quadro parlamentar. Talvez uma AD. Só falta Sócrates, se aguentar até lá, vir a apoiar o PR, Cavaco Silva, para as próximas eleições presidenciais, contra o poeta das esquerdas...

O PR previu a queda do PM e agendou um Conselho de Estado tentando manter o governo e a aprovação do orçamento. Isto com Sampaio já tinha ido ao ar beneficiando o seu partido. Se Portugal não estivesse na situação caótica em que se encontra o PR já tinha demitido o governo. Poderia dissolver a AR ou nomear um governo de iniciativa presidencial. Mas esta última iniciativa, no quadro partidário da AR, não seria a melhor opção. Mas pode-se dar o caso de depois do orçamento aprovado e da "incógnita" da Lei da Finanças Locais ser resolvida, o PR ficará com mais manobra de actuação. No entanto, politicamente, ao PR só interessaria fazer uma remodelação após a sua reeleição, no próximo ano.

Aguardemos mais um pouco!!

Abraço
Jorge M.

A. João Soares disse...

Caro Jorge M,

A sua visão é muito realista. Mas, infelizmente, é uma triste realidade. Os nossos políticos, desde o PR aos mais modestos autarcas, pensam essencialmente nos seus interesses pessoais e agem com vista aos seus objectivos pessoais de poder (político, económico, social) não se interessando a sério pelos interesses do País, dos portugueses, perde-se o tempo em guerrilhas entre as várias facções ou partidos, mas pouco ou nada se fala nos verdadeiros problemas de Portugal, nas estratégias de desenvolvimento do bem-estar e da segurança dos cidadãos.
Se lermos a imprensa diária, sem paixão, com isenção, e meditarmos nos sinais de desagregação e descontentamento e procurarmos montar o puzzle desta manta de retalhos, vemos que Portugal está a afundar-se, sem hipótese de ter grandes esperanças.
Ninguém nos aponta linhas estratégicas para a próxima década, ou para os próximos cinco anos. O pouco que se fala de futuro sai das mãos dos construtores com projectos desenquadrados das necessidades nacionais, mas que agradam aos políticos como fonte de corrupção e de tachos. Serve às suas contas bancárias e à propaganda feita por bem falantes que nada dizem de substancial. É só poeira ou, como dizia Pinheiro de Azevedo, «é só fumaça».
Os nossos netos terão que emigrar se não quiserem viver na escravidão.

Um abraço
João