sábado, 6 de fevereiro de 2010

Relações China - EUA

Por este espaço ter uma vocação global, planetária e se interessar pelas questões estratégicas, faz-se a transcrição seguinte, vinda de Macau:

Borrasca no relacionamento China - EUA?

No Dicionário de Língua Portuguesa, 6ª edição, Porto Editora, o termo borrasca é definido como "'pé-de-vento súbito, acompanhado de aguaceiros; tempestade marítima; furacão; (fig.) acesso de ira; contrariedade súbita; zaragata; motim; tumulto; revolta; pl. inquietações".
Temos então muita água, irritação que pode dar em chatice.

Querem melhor descrição para o actual relacionamento (tenso) entre a China e os Estados Unidos?
Tudo começou com o episódio da possível vigilância e censura a conteúdos do motor de busca Google na China e a ameaça da empresa norte-americana de se retirar do mercado chinês (o pé-de-vento súbito).

A China a desmentir categoricamente aquilo que todos sabemos ser uma realidade, a ameaçar com retaliações comerciais, a deixar claro que não admite interferências em questões internas, e os americanos a dizerem que não admitem qualquer tipo de censura, mas que se trata de um problema que terá de ser resolvido pela própria empresa.

Seguiu-se a venda de armas a Taiwan.
A China volta a falar em interferência inadmissível em questões de política interna, porque Taiwan é parte integrante da China, voltou a ameaçar com retaliações comerciais, e os americanos deixaram claro que consideram que Taiwan precisa de repor os equilíbrios bélicos com o poder na China (os americanos precisavam daquela venda também, mas isso não se diz na diplomacia internacional, não é?).

Aqui já havia aguaceiros.

Agora o encontro do Dalai Lama com Obama.

A China fala em interferência intolerável em questões de política interna (onde é que a gente já tinha ouvido isto?), porque o Dalai Lama é uma figura política e não religiosa, e ameaça com retaliações comerciais (também parece que já tínhamos ouvido esta....).
Os americanos (Obama) expressam o seu profundo respeito pela figura religiosa e o símbolo de paz que o Dalai Lama representa, e afirmam abertamente que vão receber o líder espiritual tibetano com toda a honra.

Já estamos na fase da tempestade marítima.

Será que vai haver um acesso de ira, que conduza a revolta, que termine em zaragata, seguida de furacão?

Creio bem que não.

Obama está claramente a definir a sua fronteira perante o Poder chinês.
Nem está a testar Pequim, está a deixar claro ao que vem.
E está a fazê-lo quando passa o primeiro aniversário da sua presidência com a certeza de que nada de extraordinário resultará destes incidentes.

A China e os Estados Unidos dependem demasiadamente um do outro, economicamente, para deixarem que essas relações comerciais sejam afectadas por questões políticas.
Mais a mais, na ressaca de uma crise financeira que ainda está longe de estar ultrapassada.

Há borrasca, é inegável, mas são apenas algumas inquietações.
Nada mais do que isso.

Publicada por Pedro Coimbra em Devaneios a Oriente

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro João Soares,

a importância crescente dos países orientais levam Obama a virar-se para eles. E já se nota; não vem á cimeira UE/EUA... O que acontece pela 1ª vez nos últimos 10 anos!!

Abraço
Jorge M.

A. João Soares disse...

Caro JM,

Na natureza nada é imutável, o mesmo acontecendo na vida das pessoas e das relações internacionais.
A II Guerra Mundial foi a mola para grandes mudanças, dando um grande impulso à descolonização e consequente perda de importância da Europa. Esta e a cultura ocidental tem vindo a perder valor na cena internacional, de forma acelerada. O Islão tem tentado aproveitar para se elevar mas falta-lhe unidade e organização entre os Estados e o conjunto religião/ política não casam bem.
Por outro lado, a China e a Índia, deixaram-se de guerras entre si e dedicam-se à economia e às novas tecnologias, estando a subir rapidamente na escala internacional. Os americanos detectam esta evolução e gerem os seus interesses da forma que vêem mais adequada. Obama é Presidente dos EUA e dá prioridade aos interesses dos seus cidadãos, logicamente, escolhendo os sus parceiros da forma que mais lhes convier.
A Europa parece ter cristalizado numa utopia superficial e sem objectivos definidos sem coesão que os permita alcançar.

Os nossos políticos, à falta de competência para enfrentar os problemas essenciais, vão se entretendo com tricas na defesa dos próprios interesses e tachos. Veja o que se passa em Portugal: as energias dos partidos são desperdiçadas em interesses laterais aos do Estado.

Um abraço
João