O post recente «Elogio da simplicidade» é realmente polémico, pois confronta a realidade actual em que o consumismo, a ostentação de poder e de riqueza, a concorrência disputada ao milímetro, o apego ao lucro por qualquer meio, convencem muita gente de que essa é a única forma de vida possível.
Ora, esse post apontava para outros critérios menos stressantes, mais naturais e saudáveis, mais enriquecedores da pessoa como um binómio de aspectos materiais e de ideias e sentimentos, com preponderância para a parte espiritual. É certo que o exemplo do casal inglês Jim Boss Kaz e Cherry exige uma base monetária para suportar as despesas, a não ser que desenvolvam actividade produtiva, sempre possível através da Internet. O mesmo se aplica ao ex-milionário austríaco Karl Rabeder.
Porém, o exemplo do economista irlandês Mark Boyle espelha o que se passa no nosso Alentejo com vários casais estrangeiros que cultivam o seu pequeno monte para produzirem o necessário para viver sem carências, nos fins de semana partem para as praias algarvias, dispõem do computador para as relações com o mundo e vivem sem a azáfama da vida moderna. Um inglês arroteou o terreno que adquiriu na encosta algarvia, deu todas as comodidades à casa rústica, fez um furo para obter água, preparou socalcos na encosta onde cultiva flores e, passado pouco tempo, fez um contrato com a TAP para transportar regularmente de Faro para Londres um carregamento de flores para os floristas londrinos.
Um outro caso concreto, um alemão que leva uma vida do estilo descrito no post «Um dia como os outros», em aparente ociosidade, cultiva ervas aromáticas que vende anualmente para um laboratório de perfumes na Alemanha.
E que dizer das potencialidades do exemplo descrito em «Quem sou?». Em vez de pastor pode passear pela serra ou ir mais longe, sem problemas de horário e, em casa, através da Internet, fazer trabalhos de consultoria, de contabilidade para empresas, de tradução, de ensino e explicações, etc. Conheço pessoas que, na cidade, se dedicam a tais tarefas, que poderiam ser realizadas em ambiente despoluído, sem barulhos nem perturbações urbanas inevitáveis e sem a fadiga da corrida e da concorrência próprias das actividades de quem vive na cidade. Mas estas actividades se forem além do necessário para viver, já deturpam o espírito dos exemplos anteriores.
Espero que estes elementos esclareçam melhor o conceito de vida simples e acendam a polémica de que a colega Celle gosta e sabe alimentar.
sábado, 10 de abril de 2010
Simplicidade na vida
Posted by A. João Soares at 12:00
Labels: simplicidade
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2 comentários:
Querido amigo João,
Começo pelo fim, PARABÉNS!!!
Aparentemente, e pelos casos que até o João aqui cita, os estrangeiros dão-nos muitos exemplos de como descomplicar a nossa vida e vivê-la em paz e harmonia sem grandes recursos financeiros.
Viver bem... nada tem a ver com o ter, o ser deve ser muito mais valorizado do que o ter, sempre...
O meu amigo sabe que essa foi a opção de vida dos seus amigos daqui do Norte.
Apesar de terem o seu cantinho e nele haver o conforto que julgam ser fundamental, vivem de uma só reforma e de alguns trabalhos que se vão fazendo, como aulas part-time, traduções, explicações... são felizes e sempre estarão gratos pela decisão tomada, no momento exacto.
Estou simplesmente fascinada, especialmente com estes dois últimos textos seus.
Beijinhos
Ná
Querida Ná,
Nada de novo aqui está. Apenas uma síntese de algo de mais significativo que sobre este tema aqui já foi publicado. Parece que do post anterior não fossem tiradas as devidas conclusões. Não queria dizer mal dos executivos nem em geral nem individualmente, mas a penas alertar para a vida de tormento que hoje nos é imposta e para a necessidade de pensarmos que há modalidades mais suaves que já estão a ser seguidas por pessoas inteligentes.
Na vida, como nos problemas de matemática, deve reduzir-se tudo à expressão mais simples. As soluções complicadas raramente dão bom resultado; bastam as complicações que surgem depois, durante a execução das tarefas. E a felicidade tem que ser concretizada nas coisas possíveis, simples que não exigem sacrifícios duros. Felicidade é prazer, é descontracção.
Muito obrigado pelas suas palavras.
Beijos
João
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