quinta-feira, 13 de maio de 2010

Crise e atamancar soluções

Nada acontece por acaso e raros são os casos de acidentes inesperados. A crise foi crescendo em movimento acelerado (leis da física aplicadas ao plano inclinado) porque a generalidade dos actos que a geraram iam ficando impunes e até elogiados, o que constituía um incentivo. O enriquecimento ilícito a corrupção e o tráfico de influências (já detectados há mais de meia dúzia de anos pelo Engenheiro João Cravinho) eram trazidos a público pela Comunicação Social, envolvidos em «casos» que estiolavam sem castigo visível. A inépcia dos políticos permitia que a crise fosse tomando forma.

Diziam que tudo estava na legalidade. Ora se a legalidade não é moral deve mudar-se a lei para que o seja. A lei é uma artificialidade dos políticos (poder legislativo) e pode ser alterada e melhorada por eles. Se a moralidade não é constitucional, torne-se a Constituição moral, o que está dentro das possibilidades dos políticos que a fizeram e a podem alterar para a tornarem moral, porque se trata de uma artificialidade por eles construída.

Portanto, a crise deve-se à inépcia dos políticos que não impediram que aparecesse, que a não detectaram a tempo, que a deixaram crescer, provavelmente porque dela iam tirando benefício. Já têm aqui sido referidos inúmeros aspectos que levam a reforçar esta dúvida (ou certeza).

Agora, tendo chegado o momento crítico, surge a notícia de que Governo e PSD acordam mais impostos para todos, enquanto noutros países as notícias apresentam um cariz diferente. No País vizinho foram publicadas As medidas espanholas de corte de despesa pública e surgiu a notícia de que Governo espanhol estuda medidas adicionais de corte sobre quem “tem mais”. Do reino Unido chega a notícia de que Governo britânico reduz salários dos novos ministros.

Nestes países houve o cuidado de os mais bafejados pelo crescimento da crise serem os primeiros a contribuir para o combate a desenvolver para a travar. Aqui, entre nós, a imoralidade da solução adoptada é descrita nesta notícia Presidente da Caritas: “São os que não geraram a crise que a vão pagar».

Curiosamente o principal apoiante do Governo na adopção de medidas de «aperto do cinto de todos» mostra-se pouco tranquilo como se depreende da notícia PSD pede desculpa ao país por acordo com Governo. Mesmo dentro do Governo há quem tenha consciência da imoralidade da crise e da terapia que lhe está a ser proposta como se vê na notícia "Vamos enfrentar a tensão social", diz Teixeira dos Santos. No horizonte vislumbra-se uma situação traumática à imagem da grega, com nuvens de cinzas, desta vez não vulcânicas.

O problema é muito complexo. A leitura das notícias referidas traz grandes preocupações, mas parece quererem manter nos gabinetes a quantidade de pessoal pouco útil pago a peso de ouro, as reformas milionárias e acumuladas obtidas em curtos períodos de serviço, os prémios de gestores públicos de duvidosa justificação, os carros generosamente distribuídos sem serem indispensáveis ao desempenho das funções, etc. etc.

Com este atamancar na tentativa de resolver o problema, não só não se resolve a situação, não se anulam as causas e, provavelmente, não se evita o perigo que Teixeira dos Santos vislumbra.

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