quarta-feira, 23 de junho de 2010

Fotografia muito contrastada

Transcrição seguida de NOTA:

Obviamente, demitam-no
Jornal de Notícias. 23-06-2010. Por Paulo Morais

Os governos de José Sócrates conduziram o país a uma situação deplorável, a pior de que há memória. Em tudo que mexe, o Governo estraga. O desemprego atingiu uma dimensão socialmente insuportável. São já 600 mil os afectados, cerca de metade dos quais não dispõe sequer de qualquer rendimento. A dívida pública chegou aos piores valores desde os alucinantes tempos da Primeira República, o país ameaça bancarrota.


Perante cada nova dificuldade, o Governo agrava os problemas, em vez de os minorar. Sócrates não consegue reduzir o esbanjamento no Estado, aumenta impostos e estrangula a economia. Já sem rumo, o Executivo tropeça em contradições constantes. Ora apresenta medidas de apoio aos desempregados e incentivos às empresas; ora anuncia o fim das medidas de combate à crise… em nome da própria crise. Sócrates assegura que o aumento de impostos é por um ano, e, no dia seguinte, Teixeira dos Santos vem proclamar que o sacrifício perdurará no tempo.

Os portugueses sofrem amargamente os resultados destas políticas erráticas. Mas nem todos… O Governo não mexe nos interesses dos construtores e da banca, mantém a intenção de construir o TGV e o novo aeroporto. Nem tão-pouco acaba com os privilégios duma corte de assessores. Por outro lado, acentua a discriminação em termos regionais, martirizando os nortenhos com portagens nas vias rápidas, enquanto se isentam lisboetas e algarvios. O chefe do Governo faz assim tábua rasa dum princípio constitucional básico, o de tratar por igual todos os cidadãos.

O primeiro-ministro de Portugal não tem já qualquer credibilidade. Envolvido em sucessivos escândalos, da licenciatura "fast-food" ao caso Freeport, já roça o patético. No recente episódio do encontro forjado com o cantor Chico Buarque, anunciado como a pedido deste, foi desmascarado. Com mais esta mentira, deixa-nos a todos envergonhados.

Sócrates é inapto, sacrifica desfavorecidos, preserva uma estrutura de poder inútil, beneficia os amigos do regime com negócios, é caprichoso e mimado. Para mim, basta! Despeçam-no.


NOTA: Nem há jeito para sublinhar uma qualquer frase, porque cada uma delas é fundamental na textura deste retrato, desenhado em tons cáusticos e contrastados. É dramático, mas assenta em factos vindos a público. E dentro da máquina partidária já se nota desagregação, desde as sugestões de João Cravinho à corrupção e ao enriquecimento ilícito, aos comentários ocasionais de Henrique Neto, às críticas ocasionais de Manuel Alegre antes de receber a promessa de apoio à sua candidatura, a confusão geral relacionada com a «acção directa» de Ricardo Rodrigues, aos problemas dos gestores da Fundação Alter Real, relativamente à gestão desta , às posições de Maria de Belém, de Vieira da Silva e de António Costa, à figura de Valter Lemos, ao silêncio expectante de António José Seguro.

O futuro não parece ser muito brilhante. Oxalá Portugal não entre em mais um período de indefinição de rumos, pois do que se precisa é de marcação de linhas estratégicas claramente dirigidas para objectivos bem escolhidos e estimulantes para a convergência de esforços de todos os portugueses de todos os sectores de actividade.

Fotografia de A João Soares

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