segunda-feira, 14 de junho de 2010

Palavras bonitas e realidades amargas

Transcrição seguida de NOTA:

A inevitável estátua
Jornal de Notícias. 14-06.2010. Por Manuel António Pina

"Os sacrifícios devem ser repartidos de forma equitativa e justa", disse o presidente da República em Faro no discurso do 10 de Junho.

Trata-se do género de frase que fica bem na peanha de uma daquelas estátuas em que o herói, hirto, estende o braço apontando o caminho aos mortais comuns.

Não será surpreendente que, daqui a uns anos, quando a memória dos dias presentes e dos passados próximos se tiver diluído, Cavaco tenha algures uma estátua dessas e que a frase lá esteja, brônzea.

Porque então já ninguém se interrogará acerca do estranho sentido que o actual presidente dará a palavras como "equidade" e "justiça".

De facto, quem se recordará nessa altura de que Cavaco apoiou uma repartição de sacrifícios decretada por sucessivos PEC pondo pobres, desempregados, pensionistas e trabalhadores a pagar uma crise que encheu os bolsos dos principais responsáveis por ela?

E quem se lembrará ainda (se até o próprio parece tê-lo entretanto esquecido) do modelo selvagem de crescimento que impôs ao país quando foi primeiro-ministro, assente precisamente no aumento das desigualdades sociais e da pobreza?

NOTA: O nosso País anda a ser enganado por tácticas de diversão, que ocultam as realidades e procuram manter a população enganada sobre o seu destino.

Em vez de reestruturar o País, para o tornarem o local onde as pessoas vivam com confiança e acções produtivas, com sãos critérios, os «responsáveis» perdem o tempo com propaganda vazia de conteúdo.

Precisamos de medidas concretas, bem estruturadas, coordenadas, convergentes para uma finalidade bem definida, já não havendo lugar para idealismos estéreis, para masturbações intelectuais e oratórias ocas.

1 comentário:

A. João Soares disse...

Transcreve-se a 2ª parte do artigo de Rafael Barbosa
TOCA A PAGAR
2. É uma espécie de ruído de fundo tão irritante quanto o das vuvuzelas sul-africanas. Sejam especialistas em economia, sejam professores catedráticos, sejam ex-ministros das Finanças, sejam os iluminados que juntam as três qualidades, quando chegam à televisão, meio privilegiado para comentários gongóricos, dizem todos a mesma coisa: estamos à beira do precipício, acabou-se a festa, não há dinheiro para a saúde, nem para a educação, muito menos para pagar reformas. Ao discurso catastrofista que nos contamina a todos juntam o facto de terem feito previsões em devido tempo. Infelizmente, os políticos são incompetentes e o povo é ignorante. E como ninguém lhes prestou atenção, aqui estamos, repetem, à beira do precipício. Soluções inteligentes, que justifiquem o título de especialistas, não têm. O último a juntar-se ao coro foi o presidente da República. Em tom mais contido, mas rematando o diagnóstico de "país insustentável" com um sonoro "eu bem avisei". Falamos de um homem que, ao longo dos últimos 25 anos, esteve sempre no topo da pirâmide do Poder, mas que acha que não tem nada a ver com o pântano em que o país mergulha. Chama-se a isso, em bom português, sacudir a água do capote.