segunda-feira, 7 de março de 2011

Barões do PSD tolhem o partido

Transcrição seguida de NOTA de artigo que apresenta uma análise interessante da idiossincrasia do maior partido da oposição:

Medos, silêncios e espantos
Jornal de Notícias. 07-03-2011. Por Carlos Abreu Amorim

1. Pedro Passos Coelho ainda não sofreu o gosto amargo da tradição em que o PSD se tem tragicamente destacado: uma oposição interna feroz e destrutiva cujo efeito inapelável tem redundado no facto de que cada liderança é canibalizada pela anterior e assim sucessivamente, para gáudio dos seus adversários à esquerda e à direita.

Mas a esmagadora votação interna que Passos Coelho adquiriu não foi o único factor que aquietou a raiva mal escondida dos seus opositores – as iminentes (mas não eminentes) eleições presidenciais foram a condição suprema que adiou a costumeira algazarra no partido laranja. O tão apregoado “novo ciclo” na política indígena a partir da reeleição de Cavaco Silva tem já como efeito inicial e inegável o previsível altear da vozearia de muitos dos que foram derrotados há um ano e que farão tudo, mas mesmo tudo, que estiver ao seu alcance para que Pedro Passos Coelho nunca venha a ser primeiro-ministro. Nem que, para isso, enlacem as suas tácticas políticas com a estratégia pessoal de José Sócrates.

2. Primeiro foi Santana Lopes. Com uma justificação política e intelectualmente tosca, arremessou o nome de Rui Rio para líder ideal de um partido em que ele próprio, presume-se, experimentaria um papel tonificante para o seu próprio ego. Logo a seguir, em contraciclo com o que tinha acabado de declarar, afirmou-se desiludido com o PSD e a política.

Santana Lopes tem uma incapacidade irreparável para acolher o valor do silêncio – queixa-se dos políticos (como se ele alguma vez tivesse sido outra coisa), dos não-políticos, fala muito, incessantemente, antes e após o tempo oportuno, obsessivamente centrado em si, sobre o que lhe fazem, o que lhe fizeram e o muito que imagina lhe pretendem causar.

Santana Lopes esquece-se do que deveria significar já ter sido líder do PSD e primeiro-ministro de Portugal. E ainda que a memória histórica não lhe seja favorável, deveria acalentar a esperança de poder vir a ser uma opinião respeitada na sociedade portuguesa. Ao invés, cada vez mais, assemelha-se a uma “voz Deolinda” fora da geração e da realidade, que já ninguém consegue levar a sério.

Desta forma, é natural que a sua oratória ininterrupta e aligeirada seja aproveitada para fazer as vezes de “galgo coelheiro” da táctica de outros que nada quererão com ele caso venham a obter algum êxito – é o que se passa com Rui
  Rio e Pacheco Pereira.

3. Rui Rio poderia ter sido presidente do PSD quando Durão Barroso fugiu para lugares mais auspiciosos – mas fez os cálculos e resolveu que ainda não era o momento. Foi o primeiro vice-presidente de Santana Lopes e estava em posição privilegiada para lhe suceder quando este baqueou – mas a sua contabilidade particular dizia-lhe que não tinha chegado o ensejo de avançar e permitiu que o partido fosse liderado por Marques Mendes. Quando este caiu, Rio deveria ter acometido contra Filipe Menezes – mas computou que a sua hora não tinha ainda assomado e retraiu-se outra vez. Muitos dos seus esperançosos seguidores julgaram que o fim da liderança de Menezes significaria o advento de Rio – mas não, novamente, este mostrou não possuir a audácia exigida e preferiu empurrar Ferreira Leite. Quando esta foi derrotada, Rio hesitou, titubeou, voltou a decidir não ir a votos e – pasme-se! – tudo fez para que Paulo Rangel fosse derrotado apesar de não esconder a sua oposição a Passos Coelho

Agora é o mesmo Rui Rio que surge a defender a permanência do Governo Sócrates até ao fim do mandato, porque, tal como elucidou o seu inevitável profeta, Pacheco Pereira, a mudança de governo seria muito “traumática”!!!

Rio e Pereira querem que Sócrates governe até ao final de 2013 mas não por causa do país – muito pelo contrário. O seu triste intuito é desgastar a actual liderança do PSD e reganhar tempo para lhe conseguirem fazer frente, o mesmo tempo precioso que o país já não tem. Pretendem, apenas, que os seus meros interesses pessoais e politiqueiros prevaleçam ainda que os disfarcem com conferências grandiloquentes mas inócuas acerca da crise do regime. Crise essa, a de valores e de vontades, que ambos estão em vias de personificar pelo seu pior ângulo.

NOTA: O PSD tem sido um centro de iconoclastia. Elegem um líder, sendo suposto que é o melhor, mas logo lhe cortam as pernas para voltarem a fazer nova escolha, em ambiente de semi-loucura como aquele em que foi votada por «unanimidade a lei da rolha», seguindo ovinamente os barões, após o que os mesmos eleitores, ao saírem para a aragem do ar-livre, se arrependeram, também unanimemente, de tal votação. Com tais unanimistas abúlicos e o predomínio de inconfessados interesses pessoais e ausência de visão nacional dos interesses do País, estão agora a destruir uma hipótese de o partido voltar a ser poder, uma ambição que vem sendo frustrada há muito tempo.

E, com estas tricas internas à margem dos interesses nacionais que colocam em lugar sem prioridade, fica a dúvida: Portugal precisará mesmo do PSD? Se ele vier a ocupar o Poder, não irá continuar a desgovernação em que temos vivido? Ou o País precisará de uma outra solução que rompa decididamente com a podridão que resultou de uma pouco frutuosa e mal aproveitada revolução ocorrida há 37 anos?


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