Mário Soares que tem mostrado ser observador atento da vida nacional, disse no início deste mês que Presidente da República podia ter evitado a crise política se tivesse cumprido a sua promessa de que «exerceria uma magistratura de influência mais activa» mas, ao contrário da promessa, «ficou estranhamente silencioso».
Ontem, em entrevista, afirmou que «quando olha para a sociedade portuguesa vê “aflição” e considerou que o chefe de Estado, Cavaco Silva, tem dito “pouco” sobre a actual situação do país». Limita-se a dizer palavras inócuas e de nulo efeito semelhantes ao muito que se ouve nos transportes e nos cafés. Portugal precisa de acção, de medidas, de estímulos, mesmo que apenas verbais, bem orientados para a resolução da crise.
Mas os tabus só surpreenderam na sequência do congresso da Figueira da Foz, depois repetiram-se como PM. As nuances misteriosas, como se esperasse um milagre salvador, os silêncios por vezes blindados por pão de ló, repetiram-se, mostrando que talvez não se tratasse de atitudes pontuais, mas, provavelmente, de um comportamento arraigado, como agora é denunciado por Mário Soares.
Mas não podemos negligenciar que estamos num momento da vida nacional em que os detentores de cargos de responsabilidade têm o dever de colocar ao serviço do País toda a sua competência e capacidade para encontrar as soluções mais eficazes. A defesa de Portugal não pode assentar apenas nos sacrifícios reiterados das classes mais desprotegidas e carentes de meios de fortuna.
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