sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Governar com as pessoas, para as pessoas


Há sinais de que parece estar a renascer a dignidade nos portugueses. Mas o Governo ainda não assumiu que deve governar com as pessoas e para as pessoas. Pelo menos teoricamente, a Democracia, poder do povo, tem por objectivo a congregação de todas as energias para os interesses nacionais, do povo, e o desenvolvimento das condições de vida em benefício de todos os portugueses. Estes devem ser tratados com o respeito e a cortesia a que têm direito como detentores da soberania.

Não foram explicadas as razões da demissão do Directos Nacional da PSP nem o afastamento do CCB de António Mega Ferreira .

Mas a dignidade começa a ressaltar: Jorge Silva Carvalho demite-se da Ongoing para não continuar a ser o ‘pião das nicas’ e arma de arremesso nos jogos entre as facções; por seu lado o Conselho Directivo do CCB demite-se em bloco, (com várias figuras públicas bem conhecidas), mas a nota que revela mais coerência, dignidade e dedicação á causa pública ressalta da carta de pedido de exoneração do director-geral do Instituto Geográfico Português que, por merecer cuidada análise nas palavras e meditada nas entrelinhas, se transcreve:

MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, DO MAR, DO AMBIENTE E DO ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO
INSTITUTO GEOGRÁFICO PORTUGUÊS 
Direção

Senhora Ministra
Excelência

Ao longo do período de sete meses de mandato do XIX Governo Constitucional que V. Excelência integra, não me foi facultada a possibilidade de uma audiência para consigo dialogar, expor pontos de vista, discutir políticas, receber orientações ou, tão simplesmente, estabelecer uma mera relação de conhecimento entre uma política com responsabilidades governativas e um dirigente superior da Administração Pública.

Nestas circunstâncias, por uma questão de lealdade institucional, sentido ético e de respeito pela causa pública, sou obrigado a utilizar este meio para me dirigir a V. Excelência, na qualidade de, ainda, Diretor-Geral do, ainda, Instituto Geográfico Português.

Durante estes meses do seu mandato, que segui atentamente, esperei uma palavra, uma orientação, uma oportunidade; tal não aconteceu, situação que lamento profundamente e que, por inusitada, muito estranho.

Ao longo da minha extensa carreira profissional, sempre servi o meu País nas mais diferentes circunstâncias e nos mais elevados patamares de complexidade, com profissionalismo, isenção e dedicação, trabalhando com todos os governos, com lealdade e respeito mútuo, independentemente da maioria política em que os mesmos se apoiavam.

Nada que não seja de esperar de um cidadão que respeita e se respeita e de um militar que jurou servir a Pátria e os seus concidadãos.

Esta vivência profissional, esta experiência de administração pública, esta atenção que dedico à condução política do País, este empenhamento de décadas à causa pública legitimam, a meu ver, a estranheza e o desencanto que sinto pela forma como, por ação ou omissão, fui tratado por V. Excelência.

Tem a Senhora Ministra o direito de gerir o Ministério como entende ser politicamente mais adequado. Tem igualmente o direito e a prerrogativa de escolher dirigentes da sua confiança política e que considera melhor vocacionados para cumprir os objetivos do Governo.

Já não terá o direito de não receber em audiência os altos dirigentes em exercício de funções, de não os ouvir para os grandes estudos e análises que concorrem para a elaboração do processo de decisão, que deveria preceder as reformas em curso.

Como compreenderá nunca sabemos tudo, não há verdades absolutas, a seriedade, o saber e a ética não estão só de um lado, o mundo não se divide em bons e maus, a dicotomia de nós e os outros só é defendida por espíritos fracos.

Entendo e, neste particular penso estar certo, que a profundidade das reformas exigia conhecimento, experiência, reflexão e diálogo.

Naturalmente que as circunstâncias que o País vive exigem medidas difíceis e decisões firmes, mas nada disso é incompatível com a audição dos interessados, antes pelo contrário, aconselha-a.

A mobilização dos trabalhadores será tanto maior quanto mais se sentirem envolvidos e corresponsabilizados no processo de decisão e empenhados na sua realização
.
A experiência diz-nos que as medidas políticas apenas têm plena aplicabilidade quando são feitas com e para as pessoas, e não contra as pessoas.

No que à Geodesia, Cartografia, Cadastro e Informação Geográfica respeita, V. Excelência e o seu Secretário de Estado com competências delegadas nestas áreas, não ouviram os dirigentes nem os especialistas deste Instituto.

Aliás, se o tivessem feito, para além da dimensão ética da atitude, a reforma seria diferente, para melhor, sem desrespeitar as linhas de orientação do Governo no que ao PREMAC refere.

Acredite, Senhora Ministra, que não me move qualquer sentimento de crítica estéril e muito menos de despeito pessoal, tal seria descer a um nível que não é nem nunca será o meu. Sobre esta matéria fui sempre claro desde o início.

Entendo, isso sim, que em Portugal não podem ocorrer oportunidades perdidas e esta será, infelizmente, mais uma oportunidade perdida.

Para quem durante anos serviu a Informação Geográfica nas suas vertentes de geodesia, cartografia e cadastro, para quem esteve ligado aos mais importantes desenvolvimentos ocorridos em Portugal nos últimos vinte e cinco anos, nesta área do conhecimento, para quem sempre sonhou, lutou e pugnou por um Instituto Geográfico Nacional à dimensão do que melhor existe no mundo desenvolvido, esta solução do Governo de V. Excelência é redutora, minimalista e não serve, a meu ver, os interesses do País.

Com a publicação da Lei n.º 7/2012, de 17 de Janeiro, tive, pela primeira vez, conhecimento da estrutura orgânica do Ministério da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território.

Admito, pois, que o diploma orgânico que concretizará a criação da Direção-Geral do Território esteja apenas pendente de publicitação e que, por conseguinte, o processo seja idêntico.

Para nenhum deles me foram solicitados contributos e não me revejo na organização preconizada e, na forma como a Geodesia, a Cartografia, o Cadastro e a Informação Geográfica foram, em meu entendimento, subalternizadas.

Considero, pois, Senhora Ministra que a minha missão, de momento, está cumprida.

Nas duas audiências que tive com o Senhor Secretário de Estado manifestei a minha disponibilidade para me manter na Direção do Instituto até à reorganização.

Cumpri a minha parte e esforcei-me por cumprir bem, como é meu dever.

Nada me é devido por isso, apenas o respeito que um Diretor-Geral merece. Aceite Senhora Ministra, o meu pedido de exoneração do cargo de Diretor-Geral do Instituto Geográfico Português.

Para V. Excelência, os votos dos melhores êxitos pessoais e profissionais.
Respeitosos cumprimentos,

O Diretor-Geral 

Carlos Manuel Mourato Nunes, Tenente-General

Imagem de arquivo

1 comentário:

A. João Soares disse...

Do meu amigo AMF, que não gosta de comentar nos blogues, recebi por e-mail este comentário à carta do Director-Geral do IGP que agradeço e transcrevo:

Em primeiro lugar, saliento o pormenor deste Director-Geral do IGP ser um General do Exército, o que, quanto a mim, pode justificar a coragem moral e dignidade ética e o sentido de serviço público e espírito de missão, conforme demonstra o pedido de exoneração do cargo.
Em segundo lugar, revela o precedente e propósito governamental de só ter Directores-Gerais recrutados na sua clientela e confiança política, quando os Directores-Gerais deveriam ser básicamente Funcionários do Estado seleccionados na Administrativa Pública.
Abraço amigo,
AMF.