Francisco Moita Flores correu em defesa do secretário de Estado da Saúde que foi alvo de críticas à sua insensibilidade em relação aos portugueses com problemas de saúde, quando disse que «por mais impostos que possamos cobrar aos cidadãos, o SNS, mais tarde ou mais cedo, será insustentável. Não basta só cobrar impostos. É preciso que as pessoas façam alguma coisa para que recorram menos aos serviços». Tais críticas surgiram através da Comunicação Social e da Interner, em que se inclui o post anterior.
Transcreve-se o artigo de Moita Flores seguindo de NOTA:
Patetices
Correio da Manhã 29-12-2012. 1h00. Por: Francisco Moita Flores, Professor Universitário
Um ano que se arrastou com tantos disparates a colorir os dias cinzentos que vivemos não poderia terminar sem mais patetices para alegrar a quadra. E sendo um episódio pateta é bem revelador da crispação e do estado de espírito a que se chegou onde se inventam motivos para estar em desacordo.
A crise tornou-nos especialistas na discórdia. Nem que seja por embirração ou amuo. Desta vez, ouvi o homem falar. Foi o Secretário de Estado da Saúde. A propósito do Serviço Nacional de Saúde, alertou para o facto de termos de contribuir para a redução dos custos assumindo comportamentos de menor risco. E recordou: gastam-se 500 milhões de euros por causa das doenças associadas ao tabaco, 200 milhões pelas que resultam do excesso de álcool e só em medicamentos para diabéticos a coisa chega aos 100 milhões. Percebi que estaria a falar de medidas preventivas, sugerindo que se reduzisse o consumo de cigarros, álcool e doces. Ouvi o Professor Fernando Pádua nos seus programas sobre o coração dizer isto milhares de vezes.
Em Portugal a maior causa de morte são as doenças cardiovasculares, coisa que leva especialistas a alertarem para o excesso de consumo destes bens. Achei o discurso sensato e repetitivo. Esqueceu-se do excesso de consumo de gorduras, mas dei de barato o lapso. Qual não é o espanto quando, na hora a seguir, a TSF retransmite as mesmas palavras e a resposta de alguém de uma Associação de Utentes dos Hospitais Públicos em que denunciava a conversa como típica da política de direita. Nem mais. Daí ao habitual burburinho político com as declarações do homem foi um instantinho e choveram os mais desencontrados discursos.
A tempestadezita no copo de água que tanto prezamos e que é o sinal da desorientação geral no que respeita a saber aquilo que se discute. Pouco importa. Importante é inventar um arraial sobre tudo e nada. Neste caso descobrindo que o País fecha 2012 com uma verdade tonta: uma boa política de esquerda apoia mais cigarros, álcool e doces. E sabendo-se que também não é assim, ficamos à espera que 2013 traga um pouco mais de sensatez e menos quezília a um país que tanto precisa de inteligência e já produziu em excesso todas as patetices.
NOTA: Compreende-se que Moita Flores está politicamente correcto ao procurar agradar aos sociais-democratas para conseguir a vitória nas autárquicas de Oeiras. Mas o SE da Saúde, como se vê da frase transcrita, não referiu claramente o conselho aos cidadãos para usarem prioritariamente a medicina preventiva, para benefício da sua própria saúde. Pelo contrário, o que pode ter sido uma explicação infeliz por parte do SES, e que chocou foi a argumentação com base nas despesas e a referência aos nossos impostos. Isso é que pode ser considerado «patetice», uma obsessão neurótica pelo dinheiro que, para o cidadão comum, pode ser traduzido: Evite ir ao SNS, aguente o seu incómodo e deixe para o SNS a passagem da certidão de óbito.
A criticada falta de compreensão e de sensibilidade para os portugueses com problemas de saúde não constitui um aspecto de luta inter-partidária mas de um apelo a que os governantes não se esqueçam do juramento feito na tomada de posse de lealdade aos cidadãos e às suas funções de defender, com permanência e perseverança, os interesses nacionais, dos cidadãos, contribuindo para o seu bem-estar e segurança. Sendo o Estado constituído por três pilares – população, território e organização política – não se deve esquecer que o factor principal é o primeiro, as pessoas, e estas não devem ser lembradas apenas durante as campanhas eleitorais.
Imagem de arquivo
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