Em democracia, a soberania reside na Nação, nas pessoas, nos eleitores e a estes deve ser dada conveniente explicação das medidas tomadas pelos seus mandatários, os eleitos que ocupam os poderes, principalmente o executivo. Este não precisa de utilizar a arrogância nem propaganda com promessas falaciosas, pois ninguém ignora a força de que ele dispõe para impor as medidas mais convenientes para bem do povo. Em vez de arrogância, será mais democrática, mais diplomática a persuasão, com informação leal, em diálogo bem conduzido, ouvindo o povo e explicando os factores menos explícitos.
Uma decisão deve ser explicada de forma semelhante a esta: «O problema (objectivo) é o seguinte… havia três hipóteses de solução, A, B e C… a que pareceu melhor é a A, embora a C parecesse aceitável não foi escolhida por ter o inconveniente de … Agora vamos pô-la em prática com as seguintes fazes…».
Os fortes não precisam de estar sempre a mostrar os músculos e falar dos seus arsenais bélicos, perante os seus dependentes. A persuasão, mesmo que não possa ser completamente aberta, amacia os contactos e reduz o sofrimento de eventuais sacrifícios que tenham de ser suportados.
Mas, contrariamente a estes procedimentos democráticos, temos assistido à táctica da arrogância totalitária, do custe o que custar, doa a quem doer, eu posso quero e mando.
As medidas excessivas de austeridade foram mais dolorosas do que foi sugerido pela ‘troika’, o que suscitou críticas de conceituados observadores, técnicos e políticos nacionais e estrangeiros. Tal austeridade asfixiante cortou o poder de compra da classe média, a mais consumidora, daí que o comércio tenha diminuído a facturação, levando à travagem da indústria, ao encerramento de empresas, ao desemprego e à diminuição das receitas fiscais e aumento de despesas com subsídios de desemprego.
Para fazer face a resultados tão lógicos, previsíveis e desanimadores, houve a arrogância de não mudar de solução, de insistir no uso do tóxico causador do mal-estar. Os discursos com promessas falaciosas talvez com a intenção de criar esperança ao rebanho que estava a ser conduzido para o abate, não pararam de subir como balões de hélio. A arrogância foi percorrendo o percurso de espiral recessiva, inicialmente negada e de que nem se queria falar, como quem pretende tapar o sol como uma peneira. E isso passou-se apesar de repetidos alertas de +pessoas bem informadas aquém e além fronteiras.
A emigração passou a ser a esperança mais consistente dos jovens e, assim, se perdem cérebros e mão-de-obra bem cotados, não se tratando, agora, dos emigrantes da mala de cartão de outros tempos. É um grave empobrecimento que retira forças de recuperação do desejado crescimento.
Os governantes, na sua tão convicta como irracional arrogância, parece que consideram que na população só burros e, em vez da elucidação realista, e da persuasão discreta e suave, nem têm evitado expor-se infantilmente às manifestações de indignação que tem estado a surgir nas poucas pessoas pensantes, com energia transbordante e tendência infecciosa como se viu na diferença entre a manifestação no «Clube dos Pensadores» em Vila nova de Gaia e a do dia seguinte no ISCTE em Lisboa, face ao mesmo ministro que dias antes tinha feito um discurso sem nada de concreto mas com muitas alusões vagas a ideias, projectos, guiões…
Perante esta segunda manifestação, o governo, antes de ponderar e analisar o fenómeno em questão, reagiu de imediato, evidenciando a insensata arrogância de quem mostra o chicote à fera enfurecida. Precisam-se domadores que actuem com realismo, pela simpatia cativante, atracção esclarecedora.
Em vez da arrogância deve haver informação leal, persuasão, mas, depois de tomadas racional e metodicamente as melhores soluções, o mais consensualmente possível, não pode haver perda de firmeza na concretização, sistematicamente controlada, para evitar desvios perniciosos e abusos de corruptos.
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