sábado, 27 de setembro de 2014

A DEMOCRACIA ESTÁ A MORRER


Transcrição integral da entrevista que merece ser lida com atenção:

ÂNGELO CORREIA EM ENTREVISTA AO i. «A DEMOCRACIA COMO A CONHECEMOS ESTÁ A MORRER»
Por Luís Osório. Publicado no ionline em 27 Set 2014 - 05:00

"Pedro Passos Coelho fez comigo o que todos os partidos fazem com os mais velhos: afastou-me", diz Ângelo Correia, para quem Mário Soares e Sá Carneiro foram visionários

Nasceu no final da Segunda Guerra Mundial. O tempo da sua juventude foi de esperança e de uma longa paz temperada por um equilíbrio instável entre americanos e soviéticos. Tornou-se engenheiro, mas confessou-me ter desejado ser filósofo. O pai não foi em cantigas, filosofia era para "cabeludos" e esquerdistas. Fez-lhe a vontade, embora tenha continuado em leituras que somou ao exercício da política, dos negócios e da relação com os homens, talvez a sua grande especialidade.

Acompanhou Sá Carneiro. Foi mentor de Passos Coelho, afastou-se da política activa ainda jovem, mas por detrás do pano muitos continuam a vê-lo como uma das mais poderosas eminências do regime. Nesta conversa de balanço de vida e pensamento, encontrei-o pessimista. Com desejos de um outro futuro e outros líderes, com o desejo de um novo tempo, com pessoas capazes de criar valor mas que tenham valores.

Acusa o primeiro-ministro de o ter tratado como os políticos mais jovens tratam os velhos. Distinguiu Soares como o homem com quem continua a gostar de almoçar. Assumiu detestar o cavaquismo. Elegeu Portas como o melhor político português e Assunção Cristas como sua sucessora. Elogiou Marinho e Pinto e explicou porque os comunistas não conseguirão implementar a sua revolução. Confessou-se mais próximo de Deus e afirmou o que vários dizem em surdina: a democracia, conforme a conhecemos, morreu.

Começámos a meio de uma conversa...

Há acontecimentos e figuras que pareciam poder deixar uma marca...

E não deixam coisa alguma, marca alguma. Mas sabe, isto já não tem a ver com credibilidade dos protagonistas políticos e económicos. É uma falsa questão.

Tem a ver com a forma como estamos organizados.

Absolutamente. A globalização, central nesta nova ordem internacional, matou a velha organização política e tornou-nos vulneráveis. Porque ela não é um fenómeno económico, está longe de o ser. É um movimento que pretende aniquilar, reduzir, limitar o exercício político das comunidades nacionais. Que é o mesmo que dizer dos Estados. Reduz a sua importância de duas maneiras: por dentro, criando e permitindo unidades mais pequenas...

Pequenas pátrias.

Pequeníssimas pátrias, sim. E, depois, criando entidades supranacionais que retiram grande parte da soberania aos Estados. O ideal desta nova ordem, a etapa final, é a inexistência de Estados, a inexistência de países e a inexistência de um regulador. Tudo estaria reduzido ao mercado.

E alguém o consegue? Ou idealmente chegaremos a um ponto em que as responsabilidades não podem ser assacadas a ninguém?

O mercado, por natureza, é criado ou existe como um espaço onde a legitimação democrática é ainda mais legítima. Um espaço onde os desejos e aspirações dos cidadãos consumidores são realistas. É uma concentração da expressão humana no consumo.

Uma concentração naquilo que é superficial do ser humano.

Se quiser colocar assim, não me oponho. Em segundo lugar, é a criação de uma entidade mítica em que surgimos todos como iguais. É a velha aspiração da igualdade; nunca houve uma sociedade tão igualitária mas, ao mesmo tempo, tão ferozmente desigual. Porque permitiu que os fortes expressassem a sua força. Esse estado mítico, e virtual, limita, mitiga a influência de cada um dos poderes. O que está em causa, hoje, na história da humanidade é a grande disputa entre as afirmações políticas dos países em contraposição a uma ordem internacional onde está projectado o que ninguém vê ou controla.

Como é possível regular o que não pode ser regulado? Será uma porta para novas ditaduras?

Não existe nenhuma hiperpotência hoje, esqueçamos isso. Ninguém tem o poder suficiente para impor uma regulação. Mesmo os Estados Unidos não têm o carácter tutelar sobre a humanidade em matéria política, económica, social e cultural. Isso não existe. Como tal, o caminho que tem sido seguido é a criação de ordens regionais. O mundo, no futuro, será o espaço onde as várias ordens regionais, tuteladas pelo mercado, vão ter de encontrar um denominador de regras aceites por todos. Regras que regem o próprio mercado, o próprio motivo do seu poder.

O senhor é um homem de negócios, um homem que mediou e acompanhou trocas comerciais.

Vai tentar que entre em contradição com a ideia do comércio livre, mas engana-se. Não acredito no comércio livre, acredito no comércio justo. O livre não atende às particularidades de cada país (porque uma camisa feita em Portugal não é igual a uma camisa feita na China). No comércio justo, a base não pode ser apenas o preço. Seria perverso se o fosse, porque a maneira como o trabalho e os trabalhadores existem na China não tem qualquer paralelo com a situação portuguesa. O comércio justo é regulado, um sistema de pesos e contrapesos. E voltamos à globalização, à tendência de considerar sempre os mais produtivos, os mais capazes, os mais competentes, os mais trabalhadores, mas criando um desequilíbrio que se aprofunda todos os dias.

E Portugal? Nesse sentido, e também nos outros, temos futuro?

Os grandes momentos em que fomos para fora foram os momentos de recusa de vivermos aqui. Fomos para o exterior na aventura do Atlântico, na aventura do mar, no sonho do imaginário, também por não termos a capacidade de evoluir. Nunca acompanhámos os movimentos de pensamento, fomos sempre atrás. A nossa vanguarda é para o exterior, é uma fuga, uma recusa do continente, mas também um sinal de impotência. Não estou na mente dos nossos heróis, mas não sabemos se foram por desejo de glória ou se foram impelidos pelas dificuldades - talvez um misto das duas.

Há algum herói que destaque?

Sem dúvida, D. Dinis. Um cientista, um poeta, um militar, um estratego.

Nos protagonistas dos últimos 40 anos vê alguém com essa dimensão?

Ninguém.

Nem Sá Carneiro?

A sua curta experiência governativa não lhe deu hipóteses de consagração, mas era um homem muito capaz, talvez pudesse ter sido. Transformou-se num herói, num mito, pela sua morte. Não sabemos do que ele seria capaz. A minha convicção é que ele era dos mais capazes.

E Mário Soares?

Um homem que percebeu, em 1974, que o país encerrava um conceito estratégico que durava desde o século XV: dilatação da fé e do império, o ouro e as especiarias, o controlo dos mares e dos negreiros, isso encerrou-se com o 25 de Abril. Soares percebeu que era urgente a criação de uma alternativa. As pequenas potências precisam sempre de âncoras e a nossa passou a ser a União Europeia. Tem esse mérito. Se a pergunta é quem foi o visionário, então a resposta é esta: Soares e, por convicção pessoal, Sá Carneiro.

Porque desistiu tão cedo do exercício da política?

Cansei-me.

Quando?

Na última fase do cavaquismo, cansei-me.

Por causa de Cavaco Silva?

Cavaco Silva é uma boa pessoa, respeitável. Mas o cavaquismo é pior do que Cavaco. Em segundo lugar, pela minha maneira de ser: sempre fui muito franco. Nem todos aguentam, a maioria não aguenta. Sá Carneiro aguentava. Com ele, fiquei sempre na comissão permanente do PSD, estava nos quatro que mandavam. Os grandes comunidade dirigentes aceitam críticas, os pequenos não conseguem geri-las. Uns prezam a inteligência e a lealdade; os frágeis acompanham-se sempre daqueles que não metem medo à sua própria sombra.

Conheceu mais os primeiros ou os segundos?

Os segundos.

Falamos de grandes homens mas, com um mundo tão complexo como este, será que se existissem figuras muito respeitadas na vida política, seriam capazes de resolver alguma coisa?

Não conseguiam. Porque o mundo é mais complexo e a quantidade de actores e agentes que intervêm é muito maior. Em segundo lugar, o conjunto das causas que animam os cidadãos é menor... É um espaço de crepúsculo, e não de sonho. E quando o crepúsculo se sobrepõe ao sonho, a capacidade de sentir, desejar, reflectir e de encontrar líderes que protagonizem o sonho é menor. Temos menos causas e menos razões para as ter. Temos também uma maior uniformidade doutrinária. E todos procuram um novo sentido num mundo que é eminentemente económico e financeiro; qual o espaço reservado à alma de um partido cujo pensamento único é económico? Como é que ele sobrevive? Como é que ele se articula nesse mundo? Como é que ele pontua as suas acções?

São políticos frágeis porque o mundo financeiro é volátil...

E, por isso, sempre em queda. A França é um bom exemplo disso, da queda em permanência. Hollande passou de um estado de esperança para um estado de desgraça em menos de dois meses. Depois, para piorar as coisas, a generalidade dos políticos estão subordinados à táctica, à manobra, ao dia-a-dia. Não há um pensamento estratégico.

Ocorreu-me pensar nas eleições para a escolha do líder socialista em Portugal.

Naqueles debates...

Sim, os debates entre Costa e Seguro... Surpreenderam-no?

Têm consequências políticas mais profundas do que a fragilidade dos debates poderia fazer crer. É um debate tão pobre, tão carente, tão exterior às necessidades dos portugueses e também tão fulanizado nas personalidades... Isso acontecerá sempre em eleições em que se escolhem líderes, e não movimentos ou ideias. São personalidades, não ideologias. Isso é o que mais fragiliza a democracia a longo prazo porque é aquilo que fulaniza em vez de se concentrar na ideia, é aquilo que assenta nos aspectos do candidato, e não o que corporiza enquanto pensamento.

O que continua a levar homens a desejar tanto o poder, a fazerem tanto para o conquistar quando, depois de o terem, é tão grande o risco de correr mal?

Para muitos, há um desejo natural de protagonizar um movimento...

No íntimo, julgam-se providenciais?

No íntimo, aproximam-se do providencialismo mas, quando são colocados no meio da realidade, percebem que o seu poder é quase vazio. Por outro lado, os partidos políticos não são entidades que formam a opinião pública ou a protagonizam. São sobretudo agências de ascensão social dos seus membros. O grande problema é o da sobrevivência. Os partidos comportam-se como uma comunidade numa sala fechada, não dialogam, jogam em círculo fechado, e assim não se tem condições para o sucesso porque lhes falta o essencial: a legitimação. O político é querido quando é legitimado.

Como define o seu poder?

Poder? Eu não tenho qualquer espécie de poder.

Não brinque.

Não estou a brincar, de todo. Só tenho uma espécie de poder: aquilo que penso e digo. Uma influência muito limitada.

O senhor consegue reconhecer, com a experiência que tem, os desejos dos que se sentam à sua frente? Consegue perceber imediatamente quem está disponível para vender a alma?

Por vezes, há pessoas que enganam, gente que tem uma imagem negativa. Quando as conhecemos, temos medo, e depois surpreendemo-nos. Há outros que aparecem, verdadeiras virgens cândidas, e são serpentes em gestação.

Falei indirectamente do Diabo e não de Deus. Tem relação com Deus?

Só comigo próprio. Se Deus está no meio, e deve estar, está comigo. Não sei. Ando há 20 anos a pensar nisto, sabe? Sinto-me a aproximar-me do catolicismo, mas não o sinto de agora.

E sente que se está a afastar dos homens?

De todo, o contrário. A aproximação de Deus é, em mim, uma aproximação aos homens. Só amamos Deus se conseguirmos perceber os homens, se conseguirmos ser tolerantes. O contrário é Robespierre, estamos perante o justicialismo religioso. Sim, tenho-me reaproximado da Igreja. É inevitável. Reaproximei-me dos cultos da infância e, com o aproximar da morte, surgem novos caminhos e dramas; não gostaria de me aproximar de Deus quando já for tarde demais.

Mesmo que não queira, nos livros de história do futuro aparecerá como o homem que apoiou e legitimou Pedro Passos Coelho. Reconhece-o como discípulo?

Apenas como colega. Discípulo, não; em muitas coisas, somos diferentes.

Diga-me uma.

Eu sou um personalista, valorizo as pessoas. Ele é transpersonalista: as pessoas são um acessório do Estado. É uma visão diferente. A maior parte dos políticos é como o primeiro-ministro. Mas gosto dele, sou seu amigo. Convidei-o para trabalhar e correu bem.

Passos Coelho aguenta ter ao lado pessoas como o senhor? Ou prefere ter os que têm medo da própria sombra?

Pedro Passos Coelho fez comigo o que todos os partidos fazem com os mais velhos: afastou-me. Os partidos afastam os mais velhos. As novas elites, se o termo se deve aplicar, respeitam o princípio da distância aos mais velhos. Nota-se no tratamento das pensões, do ocaso de gente que podia contribuir com o muito que sabe.

E Rui Machete?

Precisava de ter alguém para fingir que esse princípio existia.

Sente que a relação do primeiro-ministro com o Presidente da República é a ideal?

Por acaso, sinto. É cordial, educada, séria e não servil. É o que é correcto. Sem servilismos e sem arrogâncias.

Como tem acompanhado a questão Tecnoforma? Numa declaração afirmou guardar todas as declarações de IRS, mas o primeiro-ministro está em grandes dificuldades.

Como português, gostaria que o governo fosse até ao fim, que terminasse o mandato. Com toda a franqueza. Mas vamos aguardar, não quero dizer mais nada sobre o assunto.

Falando de eleições, das próximas legislativas, como vê o aparecimento de vários novos partidos, nomeadamente o de Marinho e Pinto?

Todas as contradições do nosso tempo potenciam o aparecimento de dois tipos de pessoas: dos salvadores e dos profetas. Vão aparecer pessoas a dizer que são capazes do que os outros não são. São falsos, mas aparecerão. Vão protestar, estimular as pessoas ao protesto. Pergunta-me sobre Marinho e Pinto: conheço-o mal, mas julgo que é uma pessoa com uma enorme capacidade na abordagem dos problemas. Vai ter um bom resultado porque muito do que é o país pensa como ele. Vai ter um bom resultado e vai ficar feliz com isso.

O regime em que vivemos é democrático? Vivemos numa democracia representativa?

A democracia representativa está a morrer. Já acabou há uns anos atrás. O cidadão tem o poder de delegar o seu voto noutro e esse outro tem a capacidade de o exercer nas várias esferas - isso acabou. Quando os mercados, económica e financeiramente, se sobrepõem aos poderes políticos e se mundializam, então temos um grande problema, um problema, em primeira análise, de soberania.

O Partido Comunista nunca esteve tão perto de criar as condições para desencadear uma revolução mas, paradoxalmente, nunca esteve tão longe.

Não têm duas circunstâncias a seu favor. Por um lado, escapam-lhe os instrumentos para o poder fazer. Se à própria democracia escapam, quanto mais a quem está nos extremos. Por outro, pensar num caminho para um Estado sem Estado, uma ditadura do proletariado, é uma ideia que teve eco e se revelou contrária na sua adequação à realidade. Ruiu por dentro. Logo, o ânimo em direcção a um amanhã que canta, um amanhã de sonho, tudo isso falha no comunismo. Têm as condições objectivas, mas não têm a ideia nem o exemplo prático ou os instrumentos para o poder fazer. Estão condenados a sonhar um sonho que não se pode realizar, um sonho que, quando começa a ser sonhado, se transforma em pesadelo.

Não há instrumento mais importante para o futuro do que a educação.

Na escola portuguesa não ensinámos duas coisas: como se cria valor e quais são os valores, explicar aos meninos, desde muito pequeninos, que para serem melhores têm de criar valor, acrescentar trabalho humano, gerar riqueza, distribuir mais e melhor. Cria-se a ideia, aos rapazes e raparigas, que têm direitos, mas só os têm, só os temos se, antecipadamente, estivermos preparados para criar valor.

Mas criar valor sem ter valores...

É o que lhe digo. O nosso problema não é apenas económico, de dívida. Qual o denominador comum que temos entre nós, qual é o respeito, qual o grau de solidariedade, qual o grau de inveja que conseguimos combater, qual o maior grau de pulhice que conseguimos evitar, qual o maior grau de influências nocivas que conseguimos não praticar? Isso devia ensinar-se na escola. A escola não pode ser apenas um repositório, um compêndio do mundo, deve ser um lugar onde a pessoa se deve valorizar a si própria. E, aí, não é apenas criar valor, é ter valores.

Chegámos à recta final da nossa conversa. Se lhe apetecesse agora almoçar com alguém da vida política, a quem telefonava? Com quem lhe dá gosto conversar? 
Encontro-me muitas vezes com Mário Soares. Gosto muito dele. E há pessoas com quem nunca jantei, e gostava muito.

Com quem? 
Com o José Gil, por exemplo. Pensa bem, diz coisas muito interessantes.

Gosta de conversar com Paulo Portas?
 Muito. Neste governo há quatro pessoas de quem gosto bastante. Além do primeiro-ministro, de quem sou amigo e respeito...

E que deseja fique até ao fim. 
Desejo que fique até ao fim, sem qualquer dúvida. Paulo Portas é talvez o melhor político português, não tem um partido à sua dimensão. Mas no CDS-PP existe também Assunção Cristas, muito competente e inteligente. Acredito e espero que seja a sucessora. Gosto de Paulo Macedo, conseguiu atenuar o discurso da esquerda sobre o fim do SNS e mantém-se sem discussões. E, finalmente, Jorge Moreira da Silva, um homem da nova geração que executa bem e tem uma inovação doutrinária.

Como imagina este país dentro de 20 anos? 
Se a tendência para o futuro for parecida com os 15 anos perdidos, anos em que não nos adaptámos ao euro, vão emergir novos fenómenos... desertificação de elites, dificuldade das instituições de criarem um elo com os cidadãos, envelhecimento e uma população com uma pele mais morena. O rácio de natalidade das mulheres negras é maior que o das brancas, será inevitável que a nossa população seja a prova e testemunho da nossa presença histórica no mundo.

Que líder precisamos para o futuro? 
Precisamos de ter alguém que nos anime e faça sonhar, mas com os pés na terra.

Sente-se um homem apaziguado?
Sinto. Tornei-me imune aos tumultos exteriores, talvez menos à tristeza que o país me traz. Sei que alguns me vão acusar de velho do Restelo, mas não, é injusto. Sou um voluntarista com desejo de mudança e contribuo para isso, mas o que constato à minha volta não me dá alento.

E em algum momento neste seu caminho correu o risco de se perder? 
Corri, corri, sim. Na altura da minha transição de deputado corri o risco de me tornar outro, de ser outro.

Há um momento preciso em que tenha chegado à conclusão de que não podia ir por um determinado caminho sob o risco de se perder? 
Num dia, há muitos anos, decidi que o caminho deveria ser pessoal, o da salvação. Recordo-me de o ter pensado quando via um programa de televisão, imagine. Não valerá a pena dizer mais nada. Julgo estar no bom caminho.

Abandonou a presidência executiva da Fomentivest...
Por motivos também de saúde.

Percebeu que não era eterno. 
Não fui eu que senti, foram os médicos que mo disseram. Deixei de trabalhar o que trabalhava, diminuí o stresse.

Como acha que o país o vai recordar?
A mim? Não me recorda, seria uma presunção. Terei o nome em alguma rua ou praceta. O país recorda apenas os grandes líderes messiânicos ou os que fizeram muito mal à pátria. Não aprecia pessoas médias.

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