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“A crise é mais complexa do que aquilo que se vê e se entende”
Por Jornal i com Agência Lusa publicado em 18 Fev 2015 - 23:18
O cardeal-patriarca de Lisboa disse hoje que “a crise é mais complexa do que aquilo que se vê e se entende”, sublinhando que “todos têm de pensar numa reorganização geral da sociedade e do trabalho”.
Manuel Clemente falava à agência Lusa no final da missa das cinzas, que celebrou hoje ao final da tarde, tendo afirmado que “o trabalho será em outras condições, para que efetivamente, as pessoas possam andar para a frente coma sua vida e dos seus”.
O eclesiástico referiu que “há um problema demográfico”, questionando: “se as pessoas não tiverem condições para terem família, para sustentar uma família, como é que isto vai acontecer”.
Face às dificuldades atuais, o patriarca afirmou que é necessário "pensar no imediato e responder às necessidades”, e citou as organizações que estão no terreno, entre elas as da Igreja, assim como as estatais e camarárias, “onde os cristãos estão na linha da frente”.
“Mas temos que pensar mais largo, em termos nacionais e europeus, estamos muito dependentes decisões que não são tomadas aqui, para a reorganização geral da sociedade, concretamente do trabalho”, declarou.
O cardeal-patriarca questionou “como vai ser o trabalho no futuro, com esta concentração empresarial e tecnológica que tantas vezes dispensa as pessoas que dantes trabalhavam? "Há aqui um montão de interrogações”.
“O trabalho tem de ser encarado numa amplitude muito maior”, afirmou.
Manuel Clemente destacou a Doutrina Social da Igreja, que “considera essencial o trabalho pela dignificação da pessoa”.
Por outro lado, o cardeal-patriarca defendeu “a animação cristã da ordem temporal” pelos leigos, e realçou que são os “cristãos que estão na linha da frente no mundo do trabalho, das empresas, da escola, da política, [e] da saúde”
“Nós que temos este trabalho apostólico na Igreja, estamos ao lado deles para os apoiar, para os manter nesta tradição viva que vem do Evangelho”, disse.
“O cristianismo é encarnação, é Deus na carme do mundo”, disse o clérigo, para rematar: “não chegamos ao céu senão pela Terra”.
Aos jornalistas, fazendo eco do que afirmou na sua homília, que é a mensagem da Quaresma para a diocese lisboeta, o cardeal patriarca afirmou que os sinais de recuperação económica tardam a chegar, pois “há muita gente que se interroga sobre o futuro e sobre a perda de trabalho a meio da vida”.
O cardeal patriarca revelou na missa que a receita da renúncia quaresmal do ano passado foi de 300 mil euros, que foram entregues à associação não-governamental Ajuda de Berço, para a construção de uma unidade de cuidados pediátricos.
A renúncia quaresmal (entrega de donativos dos católicos no período da quaresma, os 40 dias entre o carnaval e a páscoa) deste ano destinar-se-á a apoiar associações de jovens, como a Casa do Gaiato, e de sem abrigo, como a Comunidade Vida e Paz.
Cerca de 400 pessoas, entre elas o secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, e os duques de Bragança, Duarte e Isabel, assistiram hoje à eucaristia, na qual participam cerca de 20 sacerdotes e os bispos auxiliares da diocese.
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