sábado, 13 de maio de 2017

DITADURAS GERADAS DEMOCRATICAMENTE?

Ditaduras geradas democraticamente?
(Publicado em O DIABO de 9 de Maio de 2017)

As ditaduras são detestadas pela maioria da população. Digo maioria e não totalidade porque uma pequena parte dos cidadãos beneficiam das vantagens do poder único e omnipotente, por viverem à sombra dos usurpadores das regalias, com os privilégios daí decorrentes. O que é de estranhar é que, em muitos casos recentes, há ditadores que usam e abusam do poder, mas os eleitores, talvez por ausência de cultura, de capacidade de discernimento e sujeitos aos efeitos de adequada propaganda ou lavagem de cérebro, dão-lhes o voto. O caso mais flagrante foi o do presidente da Turquia que, depois de mostrar, claramente, a sua tendência para se vingar do mínimo gesto que lhe desagrade, fez um referendo para alterar a Constituição passando, legalmente, a ser «todo poderoso», sem Governo e sem um Parlamento onde a oposição possa temperar os seus excessos, e obteve a maioria dos votos.

Os casos em países africanos, asiáticos e na América Latina são numerosos, embora a Comunicação Social não faça especiais reparos. Mas a violência que está a grassar na Venezuela não está a passar despercebida. E a eleição de Trump não merece os elogios de pessoas bem-pensantes e isentas de interesses.

Entre nós, embora se fale de democracia, ainda se não foi além da «partidocracia», como se verifica no sistema eleitoral, em que ao simples eleitor não é dado o direito de escolher os seus representantes nos órgãos de soberania, mas apenas o de votar a lista de um partido, ignorando pormenores sobre os componentes das mesmas que foram escolhidos por decisão de um «líder». O caso mais chocante e recente é o da candidatura à Câmara Municipal de Lisboa, sem ter sido ouvido, sequer, o presidente da concelhia de Lisboa do Partido, que acabou por se demitir, procurando não melindrar demasiado o seu líder partidário.

Em democracia, a soberania reside na Nação, nos cidadãos, que, para melhor funcionalidade, delegam em representantes, os quais, por honestidade e lealdade para com os representados, devem procurar conhecer os seus sentimentos, as necessidades e objetivos legais, para melhor conseguir preparar um futuro com melhor qualidade de vida para todos, principalmente os mais desamparados. O dever patriótico cabe a todos os cidadãos, cada um participando com críticas positivas, sugestões ou propostas, conforme a sua situação e capacidade. Acerca disto, penso numa líder oposicionista que fala muitas vezes, mas sempre com o mesmo objectivo de criticar demolidoramente o Primeiro-Ministro, acusando-o de erros que já eram frequentes no Governo a que ela pertenceu. Seria mais patriótica se procurasse contribuir para um Portugal melhor, se apresentasse críticas, sugestões e propostas adequadas. Se fosse ao ponto de se mostrar interessada pela metodologia do Presidente da Tanzânia, John Magufuli, isso granjear-lhe-ia mais prestígio e votos para futuros cargos por mostrar maior capacidade e ser defensora dos interesses da maioria dos portugueses.

António João Soares
2 de Maio de 2017

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