Uma instituição não funciona por lotaria
(Publ em O Diabo nº2220, de 19 de Julho de 2019, pá 16)
Há pouco menos de três anos, publiquei aqui o texto “Preparar a Decisão”, que depois foi transcrito para https://domirante.blogspot.com/2016/09/ preparar-decisao.html, onde pode ser consultado. O assunto insere-se nos cuidados a ter na gestão de instituições com maior ou menor dimensão e grau de responsabilidade e até nos assuntos pessoais diários. As decisões de maior ou menor importância não podem ser tomadas de ânimo leve, por capricho, palpite, suposição ou esperança de que tudo venha a correr da melhor maneira, por graça divina.
É basilar que, em qualquer instituição, haja organização, com o respectivo quadro orgânico, com estrutura clara lógica e bem definida com vista ao objectivo principal e aos seus objectivos intermédios, convergentes para a finalidade pretendida e os resultados mais desejados. Deve haver regras bem definidas e cada pirâmide além das tarefas a concretizar, deve ter responsabilidades para os chefes de cada grau até ao mais baixo dos colaboradores. Organização e liderança são duas forças que não podem deixar de estar sempre presentes.
A liderança deve acompanhar a actividade de forma regular para esclarecer pormenores, reforçar o espírito de equipa, controlar e, em caso de necessidade urgente, determinar ajustamentos indispensáveis às regras estabelecidas por forma a adaptar a acção a eventuais mudanças de circunstâncias a fim de serem obtidos os melhores resultados. Destas mudanças deve se dado conhecimento ao grau hierárquico imediatamente superior.
Se houvesse este espírito de liderança e de organização, provavelmente não estaríamos constantemente a ouvir que há ex-governantes e autarcas suspeitos de corrupção, abusos do dinheiro público, etc. empréstimos bancários sem segurança de garantia de reembolso, desvios de dinheiro oferecido para apoio de vítimas de incêndios etc. Certamente, nestes casos, houve participação de instituições em que não estava bem definida a organização e a liderança, com espírito de responsabilidade.
No dia 10 do corrente, houve manifestação em Lisboa contra a revisão da legislação laboral, o que faz pensar que esta não foi elaborada com a preocupação de ser adequada às características nacionais e com vista a tornar a administração, nos diferentes sectores, mais eficaz para a produtividade, a exportação e o crescimento da economia nacional, e obter a máxima harmonia social e laboral. Ao tomar-se a decisão de publicar legislação, devem ser respeitados os procedimentos mais conceituados para a tomada de decisões, analisando com bom senso as diversas hipóteses de modalidade de solução para o assunto em causa e acabando por escolher a mais aconselhável, do ponto de vista da eficácia, sem querer impor-lhe um cariz vincadamente partidário. As revisões frequentes de uma tal decisão podem acarretar desobediências às leis, por pura ignorância ou distracção e, consequentemente, uma disfunção social que pode ser grave. A tendência para inserir nas leis cariz partidário sem justificação especial pode originar revisões mais ou menos profundas, e até acintosas, em caso de mudança de governo.
As decisões devem ser bem ponderadas, mesmo na vida privada. Por exemplo as despesas devem limitar-se ao dinheiro disponível e não deve exagerar-se em jogos de azar que, só excepcionalmente, dão bom resultado. E recentemente a Santa Casa da Misericórdia disse que os portugueses, em 2018, jogaram 3,093 milhões de euros, a maioria em “raspadinha”. Paralelamente, o relatório do Serviço de Regulação e Inspecção de Jogos referente aos primeiros três meses do ano disse que os portugueses apostaram online 740 milhões de euros em três meses. Estas duas notícias mostram bem os disparates que se fazem e, provavelmente não são os mais ricos, mas sim remediados ambiciosos que, de tal forma, acabam por agravar a injustiça social de que se queixam. ■
Boas-Festas
Há 1 hora
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