Armadilhas do “politicamente correcto”
DIABO nº 2219 de 12-07-2019, pág 16
O ensino das crianças tem início logo que o bébé nasce e começa a observar à sua volta e a pensar naquilo que vê, suas causas, efeitos e circunstâncias em que ocorre. Aquilo que vê fazer gera vontade de imitar ou de rejeitar. E as interferências da mãe, de outras pessoas de família ou de ama ou educadora complementam a aprendizagem e constituem, com sensibilidade adequada, prémio ou castigo de actos correctos ou errados. E, desta forma, os contactos com os mais crescidos, nas mais variadas circunstâncias, são fontes de aprendizagem.
A propósito, num dos almoços semanais, com amigos, recordei as aulas de um professor, pai de um deles, no ano lectivo de 1946-47, no Liceu Nacional Alves Martins (que, no ano seguinte foi substituído pelo novo Liceu Nacional de Viseu), ao lado de uma calçada muito inclinada em que, do lado oposto à janela da nossa turma, havia um ferrador que tratava do calçado (ferraduras) de cavalos dos clientes e que passava grande parte do tempo a martelar ‘pic-pic’ a ferradura, junto à forja, para a ajustar à forma e dimensão do casco. Um dia, a meio de uma aula, perante dois ou três alunos distraídos e a conversar, o professor chamou-lhes a atenção de forma didáctica e socialmente educativa, dizendo “está o ferrador a trabalhar continuamente ‘pic-pic’ e os meninos sem prestarem atenção ao colega que está no quadro a tentar resolver o problema”.
Aprendi que a observação da realidade que nos circunda e o pensamento acerca dela constituem um factor de aprendizagem e de cultura. E as palavras tinham lógica, foram coerentes com o momento e ditas de forma correcta e didáctica. A lição estava adequada à disciplina escolar e à formação de meninos que estavam a iniciar a vida e englobava a noção da prioridade merecida pelo assunto da lição e foi útil por mostrar que, na vida, devemos estar atentos a tudo o que se passa à nossa volta para sermos cidadãos responsáveis agindo de forma moralmente correcta. Passados mais de setenta anos ainda recordo positivamente esta lição simples mas eficaz.
E este pensamento não foi rememorado por acaso, mas porque, na conversa, foi referida a alusão do nosso PR, a um caso actual, em que reagiu por impulso e sem a devida análise e meditação ponderada, fazendo pressão limitativa sobre juízes italianos no julgamento de um jovem português que, talvez pouco esclarecido, esteve comprometido em acções de tráfego de pessoas, ao serviço de organização ligada à transferência de migrantes para a Europa, provavelmente às ordens de milionários internacionais que, com isso, pretenderiam desequilibrar a vida dos países europeus para fins de estratégia internacional não confessada.
Com o pretexto de que o português estivesse movido por fins humanitários de salvamento de pessoas em perigo de afogamento, o PR, sem procurar melhor informação, deixou-se arrastar para um acto que classificou de heroísmo, como “politicamente correcto”. Mas a realidade, baseada em testemunhos apoiados em várias fotos, mostra que, na maior parte dos casos, não chegou a haver perigo de vidas, mas apenas mudança de meio naval de pequenas embarcações pneumáticas, cujo combustível dava até ali, para embarcações de maior capacidade, onde estava o nosso “herói”, que ali estavam preparadas para esta transferência e levar os falsos “náufragos” a porto italiano.
Todos esses barcos estão controlados pelas ONG ao serviço de capitalista internacional que as financia e paga. Na origem, os traficantes de pessoas também recebem destas o pagamento da viagem. Este é um caso que exige boa investigação e não deve ser condenada à priori a posição do Governo Italiano nem o tribunal que age perante migração ilegal. Do outro lado estão ocultos interesses políticos e financeiros contra os direitos de pessoas que vêem ameaçada, por ingerência de estranhos, a sua cultura tradicional, a sua história, a sua religião, os seus hábitos, etc. ■
DELITO há dez anos
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