As armas são ferramentas de morte
(Public em O DIABO nº 2249 de 07-02-2020, pág 16, por A J Soares)
Tenho aqui defendido que a violência provoca maior violência a qual, em vez de resolver o problema existente, o agrava numa escalada com graves efeitos sobre as populações e os patrimónios. É certo que quando a violência excede limites suportáveis pode abreviar a paz, mas é uma paz azeda e que gera ódios e desejos de vingança que apenas espera oportunidade para a sua concretização. Isso vê-se no avanço e recuo de fronteiras e de retaliações muitas vezes em forma de terrorismo. Há muitos exemplos nos continentes asiático e africano.
Mas, entretanto, surgem palavras sensatas que deviam ser elogiadas e apoiadas para se tornarem realidade e servirem de estímulo a muitas acções de diálogo e negociação e evitarem violências. Neste momento, tenho na frente as palavras de Erdogan, Presidente da Turquia, acerca da crise na Líbia, que deve evitar os “meios militares”, consolidar o cessar-fogo e procurar solução pacífica recorrendo a mediadores por forma a ser criado o melhor entendimento possível, por forma a ser continuado da melhor forma. E Erdogan tem memória recente dos custos da sua intervenção nos conflitos na Síria.
Em vez de envio de unidades militares, como vem sendo hábito de americanos, para “ajudar a resolver conflitos”, a ONU deve criar equipas de diplomatas bem treinadas na mediação, para ajudar as partes de conflitos a encontrarem solução pacífica sem perda de vidas nem danos patrimoniais. Essas equipas não devem impor soluções, mas sim ajudar as partes a chegarem a entendimento, com equilíbrio de cedências de parte a parte sempre de forma cordata. É preferível uma paz menos vantajosa que o desejado, a uma guerra demolidora e geradora de ódios e desejos de vingança. Também tem havido atitudes pacifistas semelhantes à de Erdogan, vindas de Putin e da China, e é pena que o conflito Irão/EUA se mantenha aceso com tendência de agravamento entre dois contendores demasiado teimosos e persistentes no mau uso das armas.
No dia 26 de Janeiro, cinco rockets ‘Katyusha’ explodiram, junto à embaixada dos Estados Unidos em Bagdad, no Iraque. E seis dias antes aconteceu o mesmo com vários mísseis. E no dia 8 foi abatido um avião ucraniano com 176 pessoas a bordo poucos minutos depois de descolar na capital do Irão, alegadamente por erro de quem operou os mísseis. As explosões de mísseis junto à embaixada americana parece não terem causado mortes, mas o resultado mais natural é a quantidade de baixas e de estragos materiais.
Embora isso não agrade à potente indústria militar, a ONU deve esboçar um movimento, por si e com a ajuda de organizações pacifistas, para abolir as armas mais perigosas nas panóplias militares e fomentar uma orientação de fundos para apoiar as medidas pacíficas de resolução de conflitos e de, com tais economias, apoiar as populações mais carentes dos Estados que aceitem a resolução pacífica pelo diálogo e pelas negociações e concretizem um relacionamento totalmente aceitável de que parta uma cooperação amigável em sectores tradicionais de tais povos com vista à exportação no melhor ambiente de comparticipação.
Nesta fase de revisão do esboço, deparo com notícias sobre as negociações entre israelitas e palestinianos com vista à criação de dois Estados e vejo com prazer posições positivas do Secretário-Geral da ONU, de Putin e do rei saudita que defendem uma solução realista de dois Estados, com a aceitação do nascimento de um estado palestiniano, bom relacionamento entre vizinhos e uma clara rejeição do terrorismo. Para isso não deve prevalecer a imposição de uma solução por uma potência amiga de uma das partes que não seja aceite pela outra parte. Como na amizade entre pessoas, os Estados devem respeitar as idiossincrasias do outro e evitar desentendimentos, estando sempre dispostos a dialogar com vista a uma convivência pacífica e evitando o uso das armas, que são ferramentas de morte. ■
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