Idosos em lares continuarão com restrições
(Public em O DIABO nº 2273 de 24-07-2020, pág 16. Por António João Soares
Os escritos da Drª Margarida Abreu no Jornal Observador, afirmando que a pandemia do medo tem sido mais grave do que a pandemia do covid-19, tiveram um efeito negativo nos governantes pouco esclarecidos em assuntos ligados à ciência e mais preocupados com sondagens eleitorais, que avançaram para o desconfinamento sem terem consciência de que este devia ter sido precedido de boa informação dos cidadãos sobre os cuidados a ter em conta em vários momentos da vida e dos movimentos.
Mas os políticos, com a sua habitual ignorância da vida do povo e dos condicionamentos a que leis e decretos-leis se devem ajustar, decidem por impulso político, sem parecer de técnicos especializados, independentes e preocupados com a realidade científica para bem dos cidadãos.
O resultado de tal impulso legislativo foi o rápido aparecimento de mais casos confirmados. O vírus continua em acção e a prevenção para as pessoas não serem infectadas depende principalmente dos seus comportamentos; e, por isso, entre os menos esclarecidos houve muitos casos de ajuntamentos em casas nocturnas e em festas que reuniram centenas de pessoas.
Segundo um trabalho do cientista Dr. Robert Redfield, com larga experiência de doenças infecciosas, teremos de conviver durante vários anos com o perigo do covid-19, mas não devemos entrar em pânico. O que devemos fazer é viver com os devidos cuidados, já largamente divulgados.
Os principais cuidados são a lavagem das mãos depois de tocarmos em algo suspeito e manter a distância física a pessoas de que não tenhamos prova de estarem sem vírus. Mas, em casa, se não há infectados, não convém exagerar a desinfecção. A pureza e higiene é uma virtude, mas a paranóia deve ser evitada. Convém respirar ar puro, em jardins, parques, campo, mantendo a distância física a outros passeantes.
Com a continuação dos cuidados para evitar ser contaminado, e como os lares de idosos têm sido os mais destacados focos da doença, irá acontecer que eles terão de aumentar as regras de funcionamento com vista a tornar mais segura a saúde dos seus utentes. Oxalá não surjam regras exageradas, como vem sendo costume em que os idosos, ao entrarem para tais “refúgios”, recebam pena de prisão perpétua em completa solidão do mundo, das famílias e dos amigos. Isso seria um convite à fuga e uma morte mais rápida, e desumana.
Encontro-me num lar militar, num Centro de Apoio Social, onde não foi ainda detectado um caso confirmado, coisa que foi única em todos os Centros da mesma Instituição. Este êxito deve-se ao seu bom funcionamento, em constante contacto com a autoridade de saúde do Concelho, de que já resultou a dispensa de quarentena para os residentes que necessitem ir a uma consulta médica planeada, dentro do Concelho e forem acompanhados por funcionária do serviço interno de saúde. Oxalá não tenha de haver agravamento deste confinamento e, antes, possa haver algum abrandamento do rigor nas condições de movimentos no exterior, dado tratar-se de um conjunto de pessoas instruídas, com sentido de responsabilidade e com consciência de que se trata de preservar a saúde própria e dos restantes residentes de contágio perigoso.
Mas é desejável que a pandemia abrande de tal forma que o medo diminua de tal modo que os idosos deixem de estar condenados a rigoroso confinamento e possa haver condições para visitas culturais até pequenas distâncias e em condições de segurança. Antes da pandemia, eram feitas visitas a locais históricos da linha de Torres e a aspectos característicos de monumentos ou de alta tecnologia como a exploração de energia eólica, etc, sem perigo de aglomeração com pessoas potencialmente infectadas. Sem este abrandamento, os idosos em lares continuarão com restrições a rondar o desumano. ■
Boas-Festas
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