Quanto mais perigo maior precaução
(Public em O DIABO n.º 2277 de 21-08-2020. Pág 16. Por António João Soares)
Em situações de grande perigo ou risco deve usar-se a mais eficaz prevenção, com medidas adequadas e aplicadas de forma metódica sem distração, sem falhas, em permanência. Há diversos ditados populares que vêm da antiguidade e que continuam a ser muito bons conselheiros. Infelizmente, tais regras nem sempre são devidamente respeitadas e os resultados por vezes são catastróficos, como se viu nas duas explosões ocorridas na tarde de 4 de Agosto num armazém do porto de Beirute, Líbano, de que resultou um grande abalo na cidade e cuja notícia impressionou todo o mundo ao ponto de poucas horas depois terem chegado socorros de vários países e tendo o Papa Francisco e instituições internacionais apelado a uma ajuda ao Líbano para superar a grave crise que enfrenta, após as explosões que causaram mais de centena e meia de mortos e milhares de feridos.
As explosões ocorreram num armazém onde estavam armazenadas cerca de 2.750 toneladas de nitrato de amónio (explosivo) confiscado e guardado desde há cerca de seis anos, sem devidas precauções de segurança.
O desmazelo na prevenção de acidentes, infelizmente, está generalizado. Em 11-09-1985, ocorreu um choque frontal de comboios na linha da Beira Alta, ocasionando cerca de 150 mortos e 170 feridos. Não basta haver material moderno e eficaz de detecção de perigo, de sinalização, etc. se não for utilizado com o necessário cuidado pelos seus utilizadores e se estes não tiverem sentido de responsabilidade e não forem supervisionados com a devida frequência a fim de não esquecerem as normas estabelecidas. Se em Beirute não foi praticado o necessário cuidado com o material armazenado, incluindo a sua remoção, no acidente de Alcafache, houve irresponsabilidade e inconsciência dos funcionários das duas estações vizinhas em que era possível a passagem dos dois comboios em sentidos opostos, e combinarem fazer esperar um dos comboios até ter disponível o troço de via até à estação seguinte.
Infelizmente, desde os executantes locais até aos mais altos responsáveis hierárquicos, não se preocupam com tais pormenores esperando o milagre de que não haja falhas. Mas elas ocorrem inesperadamente, como o roubo de material de guerra no paiol de Tancos, como no recente descarrilamento do comboio alfa pendular, perto de Soure, na sua viagem para o Norte, devido a choque com uma viatura de manutenção da linha que além dos prejuízos materiais, causou dois mortos (ocupantes da viatura), seis feridos graves e 19 feridos ligeiros.
Anedoticamente, o ministro das Infraestruturas reagiu dizendo que “É evidente que os portugueses podem continuar a confiar nos comboios. Nós temos um sistema de sinalização, uma infraestrutura e material circulante do mais avançado que há no mundo. O sistema ferroviário em Portugal é seguro. Não temos nenhuma indicação de que seja inseguro. A segurança é a primeira das primeiras preocupações de qualquer uma das empresas que trabalha na ferrovia, neste caso a IP e a CP”.
Mas, mesmo que fosse verdade a qualidade da infraestrutura e do material circulante, isso não basta para que os portugueses possam confiar na segurança dos comboios, porque a utilização das máquinas, a forma como forem usadas e as circunstâncias ambientais são factores que devem ser tidos em consideração, sem distracção, nem leviandade. Perante grandes perigos a precaução deve ser tida em muita consideração, sem esperar milagres.
É certo que a segurança exige equipamentos adequados mas é fundamental o cuidado permanente dos seus utilizadores e a supervisão e fiscalização dos seus superiores que devem garantir o bom estado de manutenção das máquinas e a sua correcta utilização a cada momento, sem falhas nem abusos nem facilitismos. O cuidado nunca é demasiado. ■
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