(Public em O DIABO
nº2279 de 04-09-2020, pág 16. Por António João Soares)
Tenho repetido que o bom
entendimento e a harmonia entre Estados, tal como entre pessoas, deve ser um
ideal permanente. E, sendo a Humanidade constituída por todos nós, cada um deve
fazer tudo o que estiver ao seu alcance para conseguirmos tal objectivo. Tem
havido muitas pessoas de boa vontade, civismo, ética e perfeitos sentimentos
que tem alimentado a esperança de que, após esta crise pandémica que obrigou ao
recolhimento e à reflexão, as sociedades passem a abolir a violência e a usar
de mais respeito pelos outros para se viver em convergência de sentimentos e
diálogo por forma a evitar conflitos que degenerem em violência.
É certo que cada um tem a sua
opinião e devemos respeitar a dos outros, mas sem impormos a nossa. E na vida
colectiva as decisões que dependam de vários interessados devem ser precedidas
de diálogo, pacífico e bem argumentado, por forma a ser obtido real acordo
entre os intervenientes.
Esse esforço terá que ser
muito persistente, para que os maus hábitos actuais vão sendo eliminados.
Felizmente, vão surgindo casos louváveis, na vida internacional que estão a dar
exemplos desta mudança. Um desses exemplos é o caso de a França, a Alemanha e o
Reino Unido terem anunciado que não apoiam no Conselho de Segurança o
restabelecimento das sanções internacionais contra o Irão, exigido pelos
Estados Unidos que não gostaram de tal atitude que contraria o alinhamento da
grande potência americana contra os aiatolas. Esta atitude daquele que se
considera “dono do mundo” é o extremo oposto do objectivo atrás sugerido. Ela
está conforme com o culto pelo poder através das armas e das Forças Armadas que
estão distribuídas por grande parte dos países cuja posição geográfica querem
controlar, bem como a sua posse de produtos naturais de valor estratégico, como
o petróleo e outros minerais.
Sendo as armas instrumentos de
morte, a ONU deve sugerir aos Estados mais armados que comecem a pôr de lado a
violência e deve iniciar a criação de equipas de diplomatas bem treinadas na
mediação, para ajudar as partes de conflitos a encontrar solução pacífica, sem
perda de vidas nem danos patrimoniais. Essas equipas não devem impor soluções,
mas sim ajudar as partes a chegarem a entendimento, com equilíbrio de cedências
de parte a parte, sempre de forma cordata. É preferível uma paz menos vantajosa
a uma guerra demolidora e geradora de ódios e vingança. É pena que o conflito
Irão/EUA se mantenha aceso com tendência de agravamento entre dois contendores
demasiado teimosos e persistentes no mau uso das armas.
Outro caso elogioso é o apoio
da Alemanha, que enviou o seu MNE à Líbia, numa visita não anunciada a fim de
aconselhar a necessidade de pôr fim ao conflito que vem desde a morte de M.
Kadhafi em 2011 e que, desde Abril de 2019, é uma luta entre duas facções
apoiadas por milícias armadas por países estrangeiros, que devasta aquele país
do Norte de África. Na sequência, foi conseguido o acordo de cessar-fogo
imediato, o fim de todas as acções militares no território líbio e a
concordância das partes em «trabalhar para alcançar acordos sobre a retoma
integral das acções de produção e exportação de petróleo», para chegarem a uma
solução pacífica. O sucesso das conversações foi aplaudido pela UE e por
diversas entidades internacionais.
Também foi exemplar a
Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), em relação aos
recentes acontecimentos no Mali onde a situação é considerada grave
internamente e para a região. Esta Comunidade organizou uma cimeira para
continuar as conversações para assegurar o regresso imediato à ordem e, segundo
o Presidente, “esta situação é um desafio e mostra o caminho que falta
percorrer para o estabelecimento de instituições democráticas fortes no nosso
espaço”. ■
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