(Public em O DIABO nº 2286 de 23-10-2020, pág 16. Por António João Soares)
País desenvolvido e rico, como todos gostariam de ser, não é consequência da sua antiguidade, da quantidade de produtos naturais disponíveis, da sua dimensão geográfica, da riqueza agrícola, do número de intelectuais nem da raça dominante. Os bens e os serviços existentes não são o factor essencial.
Esses países distinguem-se pela qualidade do seu povo no que respeita a segurança, ordem e trabalho. As pessoas devem ter consciência da sua actividade, espírito colectivo e solidariedade, moralidade, ética, respeito pelos outros e espiritualidade.
Para isso ser conseguido, as boas qualidades do povo desenvolvem-se desde tenra idade e a partir de pequenas organizações da comunidade, onde o cidadão vive e convive. Aí, ele se desenvolve ao longo da vida nas associações relacionadas com a vida social e cultural, nas confrarias, associações de bairros, clubes de idosos, festas de santos populares, etc. Cada instituição dessas constitui um mini-Estado com características próprias de que os componentes se orgulham. Nesses ambientes se criam tradições e modalidades de vida, músicas e bailados regionais que levam ao culto de valores e à verdadeira riqueza de um País.
Quando hoje se fala em descentralização deve evitar-se a fragmentação do poder central e a autoridade imposta nas localidades por mentalidades insensíveis às características ali existentes. Deve, sim, apoiar-se a afectividade e o sentimento nacional no reforço dos objectivos do Estado, com base no povo. É nisso que assenta a frase “em democracia, o povo é quem mais ordena”. E deve incentivar-se a prevalência, sobre a matéria, do espírito, da solidariedade e da convergência de esforços, dos afectos e da procura da perfeição.
Os valores procurados devem ser a ética, a integridade, a responsabilidade, a pontualidade, o respeito pelas leis e regulamentos e pelos direitos dos outros, a dedicação ao trabalho, o esforço consciente pela poupança e pelo investimento, o desejo de superação para o bem do próprio e da colectividade. Isto está a ser posto de lado com as ideologias de género, a destruição das tradições, da história e das religiões de povos com raízes antigas.
Ao constatar um erro, devem ser analisadas as causas que o originaram e procurar evitar a sua repetição, a fim de obter a perfeição. A maior preocupação de todos deve ser com a sociedade e não com a classe política que é o efeito dos aspectos menos espirituais dos cidadãos. Desta forma se consegue melhorar os países e torná-los mais ricos e mais exemplares e respeitáveis. E deve ser dada atenção às palavras dos cidadãos mais dignos, pois eles, normalmente pouco faladores, merecem ser ouvidos com muita atenção e estimulados a não se manterem silenciosos, pois eles podem aconselhar a correcção de erros graves cometidos pelos políticos. É que está provado que “o pior das sociedades actuais é o silêncio dos bons que suportam situações difíceis sem reagir”.
A propósito de países ricos e desenvolvidos, procure-se conhecer bem os factores que levaram o Japão e a Suíça, respectivamente, a segunda potência económica e ao grande forte financeiro mundial, ambos com solo pouco fértil e muito montanhoso, de pequena dimensão, mas com populações dotadas de virtudes como as atrás citadas.
O esforço para a preparação mental da população, embora seja visível nas organizações locais e regionais, deve merecer a devida atenção por parte do sistema de educação, quer nas escolas quer noutras instituições afins, sempre com respeito pela ética, a moral, as tradições e os ensinamentos da história propícios à preparação de um futuro coerente com os momentos mais gloriosos do passado. Isto não pode conformar-se com mudanças relâmpago. Pessoas sensatas não se deixam levar, de ânimo leve, por vendedores de fantasias que pretendem destruir o saber adquirido serenamente durante vidas. ■
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