sábado, 19 de dezembro de 2020

MUDANÇA PARA MELHOR

(Public em O DIABO nº 2294 de 18-12-2020, pág, 16,  por António João Soares)

 

Está instalado na nossa sociedade, dita democrática, um caos político que impede a livre expressão de ideias consideradas pelo “poder” não “politicamente correctas” e constrange a argumentação que serviria para informar e respeitar os cidadãos e suscitar a sua colaboração activa para um futuro melhor do Pais e da qualidade de vida das pessoas, permitindo a explicação da opinião de quem pense diferentemente dos “sábios”. As eleições nos Açores foram um autêntico terramoto, para a elite dependente do Governo Nacional, criando um pânico, claramente demonstrado pelas reacções das hostes do partido todo poderoso.

A historiadora M. Fátima Bonifácio, no Jornal Público, deixa uma reflexão muito isenta e profunda do fenómeno. Merece ser lida, interpretada e dela aproveitadas as lições aplicáveis à governação evolutiva para um futuro melhor.

A população mais sacrificada no actual regime é a da direita civilizada, assim apelidada pela cobardia envergonhada de se assumir, e que vive confinada à sua toca e não só não reage, como se recusa a pensar e falar nos mais graves problemas que afectam todos os cidadãos, limitando-se às drogas anestesiantes do futebol, das telenovelas e de outras ninharias da televisão. Em vez da participação como cidadãos livres e com opinião, como a Constituição permite, o povo vive como simples gato de estimação, “comedido, dirigível e aprazível”.

Mas há quem receie que um dia desperte e use de brutalidade que torne impossível uma mudança serena para uma evolução benéfica para o país com melhor qualidade de vida para as gerações mais jovens e vindouras. A mudança deverá ser racional com valores éticos, enfim com moralidade, justiça social e leis respeitadas por todos sem excepções. Há quem tenha esperança de que o caso açoriano possa ter sido o primeiro passo de uma nova etapa do melhor futuro desejado com “democracia” bem interpretada. Respeitando o povo, defendendo-o e apoiando-o com justiça social permanentemente orientada para os seus interesses colectivos, os interesses nacionais.

É preciso transparência que permita às pessoas colaborar com conhecimento de causa para o Bem de Portugal, com motivos racionais de confiança e respeito pelos seus eleitos. Para isso, os adormecidos e apáticos devem despertar e defender-se dos caprichosos e ambiciosos “donos do poder” e saber ocupar e utilizar positivamente o espaço que ainda não é efectivamente usurpado pelos que “querem, podem e mandam”, desrespeitando as leis feitas por eles próprios, que são apenas para o povo e eles ficam à sombra das excepções e nos alçapões que lhes introduzem. A lei deve ser geral e obrigatória para todos. Por exemplo, não deve haver uma lei para as reformas da generalidade dos funcionários públicos e outra totalmente diferente para os que passaram pela política. Os eleitos para defender o povo não devem trair este, com tal descaramento e falta de vergonha.

Para a mudança não ser violenta e com custos difíceis de recuperar, convém que seja praticada de forma generosa, progressiva, racional e com abertura, cumprindo as liberdades previstas na Constituição, com respeito por todos os cidadãos e acabando com regalias não democráticas, com gastos excessivos, com a corrupção, com o exagerado número de gente em funções fictícias e de cuja acção nada resulta realmente para bem dos portugueses. Mais do que de promessas e outras palavras enganadoras, a governação deve assentar em transparência e em resultados reais obtidos.

A revolução pode seguir a ideia de Edmund Burke com uma espécie de conservadorismo que não seja retrógrado nem pretenda inverter a marcha do tempo. Segundo este autor, a visão conservadora da sociedade assenta na modernização sucessiva de sectores que realmente precisem de ser reformados, até tudo ficar diferente e moderno sem ter havido atritos. ■


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