sexta-feira, 27 de janeiro de 2023

A FUNÇÃO DA RELIGIÃO NA HARMONIA SOCIAL

(Public em DIABO nº 2404 de 27-01-2023. pág 16, por António João Soares)

Vi uma notícia intitulada «Peru apela a líderes religiosos para promoverem o diálogo e paz social». É curioso que isto veio recordar-me cinco artigos publicados no semanário O Diabo, em que defendia uma maior intervenção da religião neste aspecto, devendo começar a intervir mais no desempenho da sua actividade social e não se limitar à recitação do terço e outras devoções, quando isso não coincide com o conhecimento prático dos textos que são recitados maquinalmente.

Um dia perguntei a um militar que se gabava de ter sido seminarista e mais tarde se licenciou em direito, quais os principais ensinamentos contidos na segunda parte da oração «Pai Nosso». Ficou espantado pela pergunta e, entretanto, aproximou-se o capelão do Centro de Apoio Social a quem fiz a mesma pergunta e que reagiu com igual espanto e tive que lhe dar a minha opinião.

O Pai não nos vem dar nada de material mas, segundo os textos bíblicos, ensina-nos a um comportamento correcto e, na segunda parte da oração, vêm pedidos que devem ser interpretados como comportamentos que devemos ter. «O pão nosso de cada dia» não deve ser pedido, mas é um conselho para evitarmos a ambição e não pensarmos em ser milionários, mas apenas ter o necessário para vivermos. A seguir, surge outra lição de comportamento, segundo a qual, devemos pretender que nos sejam perdoadas «as nossas ofensas como nós perdoamos a quem nos tem ofendido». Isto é, devemos respeitar os outros para sermos respeitados por eles a fim de podermos viver em harmonia e paz. Devemos evitar «deixar-nos cair em tentação», do álcool, da droga, da ambição, da corrupção, etc. E devemos «livrar-nos do mal», dos crimes e outras infracções pequenas ou grandes. O nosso futuro não será proveniente de milagres, mas apenas consequência do nosso comportamento. Nisto recordo-me de ter visto no livro «Conversas com Deus» que foi traduzido pela Editora Diário de Notícias, em que à pergunta do jornalista se faz milagres, foi respondido que «não faço porque isso seria uma transgressão às leis rigorosas com que construí a Natureza».

Na realidade, tudo o que se pode ler nos escritos religiosos, desde os mais antigos aos actuais, são lições de comportamento que o povo não interpreta devidamente e considero que a sua explicação deve ser função dos líderes religiosos, principalmente os que mais contactos próximos têm com os crentes. Esperar por milagres com efeitos materiais acaba por ser pura ilusão. O que realmente convém é a mentalização sobre a realidade de cada momento por forma a concluirmos qual o procedimento mais adequado para obtermos o resultado desejado.  Por isso, o papaguear orações sem compreendermos o seu texto, não tem utilidade prática se não interiorizarmos o seu conteúdo e compreendermos a sua lição de comportamento. Os mestres religiosos devem pensar nestes pormenores e procurar mentalizar os seus fiéis sobre os textos que lhes referem, porque é uma verdade vulgar que a maior parte das pessoas, não possuem só, por si, capacidade para interpretarem o que aprenderam a recitar. E por isso, o seu entendimento comportamental não se aperfeiçoa e estagna num nível incapaz de melhorar a sua vida e a da sociedade.                      

Será bom que os dinamizadores de pequenas cerimónias religiosas, em que participam pessoas pouco letradas, as esclareçam do significado dos textos, a fim de aumentar a sua cultura e o conhecimento daquilo que foi dito ou lido. Tudo o que está escrito tem um significado e uma finalidade que, por vezes, escapa aos menos atentos e torna-se indispensável ensinar com a clareza conveniente. E um crente bem esclarecido sentirá mais forte a sua fé.


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sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

SITUAÇÃO ACTUAL E PERSPECTIVAS DE FUTURO

(Public em DIABO nº 2403 de 20-01-2023. pág 16, por António João Soares)

A situação actual do nosso país tem sido descrita em termos muito pessimistas, por vezes, pouco agradáveis para os responsáveis do Governo e da própria Presidência da República, o que suscita que os portugueses devem despertar da sua indiferença perante as realidades da política e decidirem abandonar o abstencionismo eleitoral e cumprir o seu dever de participar, segundo as suas possibilidades, na reconstrução nacional, votando da forma que se lhes apresente mais patriótica. Mas a decisão do voto deve ser bem preparada sem se deixar levar por promessas fantasiosas que, depois, nunca serão realizadas. Ora, dada a posição pouco correcta da comunicação social, de jornais, televisões etc, condicionada por pressões ou favores do partido detentor do poder, a preparação do voto exige extremo cuidado, e o voto consciente obriga a muita atenção para não se cair no perigo de se continuar a inacção e a degradação social que actualmente parece encaminhada para um suicídio colectivo de um país que, há cinco séculos, era poderoso e respeitado pelo mundo.

Recordo a ideia que inseri num artigo que publiquei há seis anos, um partido que passou pelas funções do poder e se vê na oposição, deve encarar o facto da maneira mais positiva e tirar dele os melhores benefícios, para o País e para o futuro do partido. A situação de não ser responsável por tomar decisões que imponham deveres e sacrifícios aos cidadãos, permite liberdade de análise, com capacidade de isenção, dos problemas fundamentais do País, e sugerir estratégias adequadas à melhoria da qualidade de vida das populações e ao crescimento da economia nacional, em benefício de todos.

Para que a recuperação de valores perdidos seja possível, convém  dar aos eleitores a noção de que existe estratégia bem estudada, e programada que contribuirá para uma vida melhor nos dias que virão, em benefício de todos os cidadãos, eliminando a pobreza, a injustiça social e a impunidade dos protegidos pelo Poder.

Mas as coisas nem sempre são assim compreendidas e, em vez de em cada momento se pensar em engrandecer o país e criticar o Governo de forma positiva e construtiva, numa preocupação de competência, para atingir as melhores metas, cai-se na crítica destrutiva, em que sobressai a intenção da «luta pelo poder» de forma abjecta, à espera de que tudo seja demolido para reiniciar do nada a construção de algo que não se sabe bem o que será e que, por falta de preparação cuidada e amadurecida, o futuro continuará e muito problemático.

Convém que todos os cidadãos mais esclarecidos com vista a um futuro melhor, isolados ou inseridos em organizações idóneas, dêm o melhor de si, dos seus conhecimentos, das suas capacidades, por forma a que dos altos cargos saiam medidas bem adequadas aos principais objectivos. Nisso, os partidos têm especial responsabilidade e devem contribuir para que o futuro seja preparado da melhor forma para os portugueses, principalmente, os que têm sido mais sacrificados pela crise que continua.

E não sendo bom pensar o futuro como cópia do passado, não se pode esboçar a vida de amanhã por inspiração de momento, pois tem que ser fruto de boa meditação, com a ajuda de largo espectro dos cidadãos. Não se deve dar oportunidade de que um observador refira que há incompetência, incapacidade política e técnica e inexistência de um qualquer projecto de sociedade».

Para revitalizar este país, actualmente, deprimente e pobre, colocando-o na rota do crescimento económico e da felicidade, e transformando-o eficazmente num país com futuro, é necessário que o Governo selecione para a sua equipa quem melhor tiver dado provas de inteligência, saber e capacidade de decisão para aplicar as soluções mais indiscutíveis.

 


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sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

OS FACTOS DESAGRADÁVEIS PODEM SER EVITADOS

(Public em DIABO nº 2402 de 13-01-2023. pág 16, por António João Soares)

Nestes tempos festivos que envolvem Natal e Ano Novo houve uma quantidade exagerada de acidentes rodoviários. Porquê, certamente por erros de condução talvez devidos a pressa na chegada, ou pessoas que não estavam habituadas a conduzir a grandes distâncias, ou por a conversa com os companheiros de viagem distraía o motorista, ou por excesso de álcool. Tudo causas que deviam ser acauteladas para evitar tais resultados. Não há milagres e nada acontece por acaso. O mal resulta de erros do nosso comportamento.

Num livro intitulado «Conversas com Deus», o autor perguntou se Ele fazia milagres e a resposta foi negativa porque, se fizesse um milagre, ia contrariar uma lei da Natureza que Ele criara e, portanto, entrar em contradição com a perfeição da sua obra. As coisas, mesmo a saúde das pessoas, resultam das acções dos seres humanos, pelo que estes devem cuidar racionalmente o seu comportamento para não colherem resultados que não desejam.

O meu neto mais crescido, nascido na América, desde miúdo sempre teve gosto por aviões e tudo que a eles se refere. Mesmo ainda como estudante conseguia, nas horas não escolares, trabalhar como acompanhante de visitantes num museu de aviões e material aéreo. Ainda não tinha idade para receber, mas o pai dava-lhe, mensalmente, uma gratificação. Paralelamente foi bom aluno nos estudos e logo que teve idade para isso, obteve brevê de piloto que, após a sua formação universitária e muitas distrações a pilotar, e diversos empregos, hoje a sua principal ocupação está ligada aos meios aéreos. No seu Facebook, para desejar Bom Ano usou o título «taking off for 2023». Realmente, o Ano Novo pode comparar-se a uma aeronave que descolou. Se o avião faz um voo perfeito depende da competência do piloto, da mesma forma, para o 2023 ter uma realidade que torne as pessoas felizes e cheguem ao fim de Dezembro satisfeitas com a forma como decorreram todos os dias do ano, é absolutamente necessário que se comportem da melhor maneira em cada momento.

Não devemos esperar milagres mas sim o resultado da forma como nos comportamos. Todos devemos desejar que o ano 2023 seja melhor do que os anos anteriores. A mudança vem de nós. Não do Ano Novo. Depende de nós a obtenção de um mundo melhor. Cada um de vós e os seus amigos devem unir-se para tornar o 2023 melhor do que foram os anos mais recentes. Espera-se que se consiga um bom resultado, para passarmos a viver em respeito pelos outros, amizade, paz, harmonia e cooperação. Só assim se terá um bom fim de viagem, uma boa aterragem.

Mas, infelizmente, as pessoas agem com egoísmo, ambição, ganância, ódio e violência, desprezando os pormenores preventivos que as livrariam de desgraças. Há pouco tempo um ex-director de um banco português, possuidor de muitos milhões de euros obtidos de forma irregular e criminosa, para evitar a justiça refugiou-se na África do Sul e como estava para ser repatriado pelas autoridades locais, acabou por se suicidar. Qual a vantagem do esforço a que foi levado pela ambição?

No entanto, começam a ver-se alguns sinais de governantes mundiais que se esforçam por evitar que nos seus países se pratique a corrupção e as despesas públicas além dos valores necessários e convenientes, a fim de desenvolver o nível médio de vida e a melhoria da situação de pobreza e de desemprego, a cujas condições de vida estão a prestar mais atenção e a procurar soluções para evitar situações desumanas e anti-sociais.

Também há quem evite o uso de armas proibidas e acções agressivas. Por exemplo, o Presidente egípcio está a tentar retomar negociações para o bom relacionamento entre Israel e a Palestina. A Colômbia anuncia o cessar-fogo com guerrilheiros ELN e grupos para-militares, o qua estava e tirar muitas vidas e a destruir património nacional. Taiwan, apesar do mau relacionamento com a China oferece ajuda a esta para responder à vaga de Covid-19 que a está a preocupar muito. 


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sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

INTELECTUALIZAÇÃO DE FÁTIMA

(Public em DIABO nº 2401 de 06-01-20223. pág 16, por António João Soares)

Parece estar em movimento a intenção de elevar o nível cultural e Intelectual das comemorações que se realizam várias vezes por ano no Santuário de Fátima. O antigo reitor Luciano Guerra, foi refutado por actuais chefes religiosos lembrando os convites deste a artistas nacionais e até internacionais para interpretarem a mensagem de Fátima através de obras de arte.

Iniciou mesmo «os congressos internacionais que reuniram na Cova da Iria grande parte dos teólogos pensadores da contemporaneidade», grande acrescentando que as críticas hoje deixadas numa entrevista a um jornal local, revelam "uma grande contradição entre aquela que foi a ousadia do então reitor, que durante 35 anos nunca deixou que o Santuário cristalizasse na sua acção pastoral e procurou que fosse sempre evoluindo, mas que agora manifesta total oposição a toda a evolução verificada desde 2008". 

Segundo as palavras recentes do Papa Francisco, a religião deve centrar-se no aperfeiçoamento espiritual e social dos peregrinos, procurando, no entanto, a sua intelectualização por forma a não ficarem divorciados do mundo moderno. Mas, no caso de Fátima, há que ser realistas e não esquecer que os modelos de virtude foram os pastorinhos que eram jovens pobres e iletrados mas que a adoração a «nossa senhora» os elevou a alto ponto na santidade.

O Papa no Natal alertou para o facto de Jesus ter nascido e vivido pobre e para o perigo que a humanidade está a correr com a insaciável ambição de dinheiro e de poder, a sua ganância. Interpretando estas palavras sábias, no caso de Fátima deve ser reforçada a lição para os participantes nas celebrações de que as transformações sociais devem ser orientadas para resultar num verdadeiro benefício dos pobres.  Se Deus é pobre, os crentes devem fazer renascer a caridade.

Os peregrinos devem regressar de Fátima com mais fé no divino, sem perder a noção de que a evolução e a modernização da humanidade são indispensáveis para os crentes e não só, e a pobreza e a incultura dos pastorinhos conduziu-os à santidade. O caso real dos pastorinhos não impede a ânsia de evolução, antes incitam a melhor atenção para os pobres e os incultos e lhes tornem mais fácil a sua progressão nas vias da cultura. Há que adoptar uma recepção sensata aos peregrinos porque ricos ou pobres todos devem levar mais acentuado o seu amor a Deus, com a humidade de Cristo e sensíveis às necessidades dos pobres e dos menos cultos, e ao esforço que devem fazer para terem uma evolução que lhes permita uma relação mais equitativa. Todos nos devemos ajoelhar com humildade e respeito por todos e por tudo.

Todos devemos estar preparados para viver num mundo em paz, sem ódio nem guerras nem preconceitos. Será bom que as nossas famílias se unam, tornando o mundo totalmente solidário e que possamos aprender e praticar os grandes ensinamentos de Deus Pai. E que a vida seja um conjunto de Paz, Amor e Compreensão.

Nota final. As dificuldades entre os actuais líderes religiosos defensores das antigas modalidades da recepção de peregrinos e os modernos apologistas da intelectualização dos convívios de recepção, com arte e cultura, fazem recordar o que presentemente se está a passar no Vaticano acerca dos actos religiosos em que há desacordo entre os apologistas de critérios demasiado conservadores desde há cerca de vinte séculos e os modernos religiosos que pretendem colocar as antiguidades de lado e criar um sistema mais evoluído com uma interpretação mais intelectual da lógica moderna dos valores religiosos, e dessa maneira unirem as diversas variações do catolicismo.

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segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

MUDANÇAS DE ACTOS RELIGIOSOS

(Public em DIABO nº 2400 de 30-12-2022, pág 16, por António João Soares)

Os direitos humanos estão condicionados por hábitos clássicos apoiados por algumas religiões em que a mulher é uma escrava sem direitos nem liberdade quer na indumentária quer na preparação cultural. Tem vivido há séculos neste sistema e agora com mais contactos entre pessoas de hábitos diferentes e com a divulgada utilização das imagens da internet, está muito difícil a alteração de costumes tanto por quem os usa como quem os deve suportar.

O Papa Francisco tem intenções de reformar os actos religiosos mas tentativas que tem esboçado para a comunhão dos mesmos rituais por todos os sectores católicos, tem recebido diversas críticas vindas de pessoas que não encaram com bons olhos a mudança de hábitos que duram há 20 séculos e foram sempre seguidos pelos crentes imbuídos do respeito religioso. Mas ele, provavelmente, não quer deixar de resistir à força da oposição desagradável e severa que tem recebido em decorrência de suas iniciativas de reforma.

Os papas têm sido sepultados na Basílica de São Pedro ou em algum outro lugar da Cidade Eterna e o mais recente pontífice que fez excepção, Urbano V, morreu no século XIV e foi enterrado em França em 1370 na Abadia Beneditina de São Vitor, em Marselha. Fora o sexto e penúltimo dos papas de Avignon. O último desta geração não teve sucessor desta sequência, para não dar continuidade a esta «rebeldia». Mas parece que o último, desde Urbano V, a ser enterrado fora de Roma foi Gregório XII em 1415. E agora, qual será o futuro do actual Francisco?

Haveria uma grande convulsão entre o establishment católico se o Papa Francisco estipulasse que o seu lugar final de descanso fosse Buenos Aires, quer seja na catedral de sua antiga diocese, quer seja no cemitério onde a família Bergoglio está sepultada.

A sua intenção de mudança é de estabelecer união entre as diversas facções de catolicismo, distinguindo entre o que é último e o que é penúltimo; o que é essencial e o que é secundário; o que é intrínseco e o que é acidental. Mas os fanáticos não querem ver traída a sua fé e, ao criticarem obcessivamente Francisco, querem preservar aquilo em que se aplicaram, todas as características secundárias ou acidentais do catolicismo romano que, em vez de esclarecer a mensagem de Cristo, acabam, na verdade, obscurecendo-a. E acabam mantendo os cristãos em uma Igreja fraturada, permanentemente dividida, fazem parte de um catolicismo sectário e tribal, que cultiva uma identidade amplamente baseada nas externalidades que são de natureza humana, não divina. Estes irmãos e irmãs são católico-romanos em primeiro lugar; e são cristãos, em segundo.

O Papa Francisco, apesar dos seus 83 anos, está sintonizado com os jovens actuais e diz que estamos atualmente em uma mudança de época, e não apenas experimentando um período de mudanças. É o tempo de uma mudança paradigmática colossal. Aquilo que não é essencial precisará mudar ou será descartado. Porém, tem enfrentado resistência. Parte dela é expressa através de ataques contra a sua integridade como discípulo e líder religioso.

Essa resistência é particularmente feroz e implacável dentro da Cúria Romana, onde os cardeais que se reuniram em 2013, em preparação para o conclave, esperavam ver limpo e reformulado. Uma área que quiseram que o novo papa resolvesse é a área da corrupção financeira dentro do Vaticano. E não se preocuparam com alterações à forma como desempenhar a transmissão da palavra de Deus, tal como vem sendo tratada em 20 séculos.


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