quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Chefes alertam para perigo das restrições militares

A carta que as chefias militares escreveram
2006/11/29 14:36

Responsáveis querem alertar para os perigos das restrições militares

Tendo em atenção «os poucos trabalhos preparatórios conhecidos e alguns discursos vindos a público», os chefes militares deduzem que «as medidas restritivas recentemente desenhadas para os militares partem do falso pressuposto de os militares se encontrarem em igualdade de condições com os funcionários civis e de as Forças Armadas estarem em idêntico plano funcional ao dos restantes serviços da Administração Pública», lê-se na carta.
Não questionando «a sujeição dos militares ao esforço de contenção exigido a todos os cidadãos pela gravíssima crise que o país atravessa», o CEMGFA adverte que «entre os militares e os funcionários civis não existe identidade alguma», exceptuando o facto de serem todos servidores do mesmo Estado.
«A condição militar», escreve Mendes Cabeçadas, «traduz-se num complexo de deveres e direitos interligados numa simbiose indissociável».
A carta do CEMGFA enumera algumas das especificidades da condição militar que «não têm qualquer correspondência no âmbito da Administração Pública civil»: deveres de isenção política, partidária e sindical; ausência de direito à greve; restrições a direitos de reunião, manifestação, associação, petição colectiva, liberdade de expressão e capacidade eleitoral passiva.
Além destas limitações, refere a carta, a condição militar implica a «permanente disponibilidade para lutar em defesa da Pátria, se necessário com o sacrifício da vida», bem como a «sujeição a um duro regime disciplinar, com penas privativas da liberdade», entre outras.
Os chefes militares, através da carta de Mendes Cabeçadas a Severiano Teixeira, lembram que é a própria lei que estabelece a «consagração de especiais direitos, compensações e regalias, designadamente nos campos da segurança social, assistência, remunerações, cobertura de riscos, carreiras e formação».
Por isso, escreve o Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas, «não se afigura sustentável, com o atractível argumento da igualdade de sacrifícios exigidos a todos os cidadãos, cercear os escassos benefícios concedidos aos militares».
«A apreensão das chefias militares aumenta com a percepção que têm do clima de perturbação que existe no meio militar, começando pelas medidas respeitantes aos descontos dos subsistemas de saúde que, aliás, por razões que se desconhecem, são mais gravosas que as previstas para as forças de segurança», refere a carta.
Mendes Cabeçadas lembra que já em Março alertara o ministro «para o clima de insatisfação e mesmo de frustração que se estava a gerar no meio militar, não se dispensando as chefias militares de esforços para minimizar o impacto negativo desses sentimentos e conter quaisquer medidas contestatárias».

NOTA: Esta carta vem mostrar que se estava dentro da razão quando aqui foram colocados os textos seguintes:
- Em 22 Nov, «Condições dos militares»
- Em 24 Nov, «Militares perderam pontos?»

3 comentários:

A. João Soares disse...

Os Chefes, desta vez, actuaram com dignidade, como é seu dever, pelo que merecem parabéns.
Os «passeios» de desagrado tiveram utilidade prática. Teriam sido desnecessários se os Chefes não andassem ausentes e alheios aos problemas dos militares.
Recordo que em situção idêntica, há mais de um ano, o CEMGFA Mendes Cabeçadas, apareceu na TV a repetir as palavras que o ministro tinha dito poucos minutos antes, sem dizer uma única palavra de compreensão para dificuldades dos militares que é suposto dever defender. Agora, agiu sob a pressão decidida e com aspecto de ir continuar, por parte de militares, em que até já estavam inseridos oficiais generais, o que era inédito.
É de lamentar que os militares tenham sido colocados em situação que os obrigasse a actuar daquela forma pouco consentânea com as virtudes que devem ostentar, mas o seu propósito resultou. Os políticos, e os generais actuam como tal, só agem sob pressão, e os militares têm sido escandalosamente prejudicados por não terem feito pressão, a qual, pelo seu estatuto, devia ser exercida pelos seus chefes hierárquicos, que na realidade dela se abstinham.
É de esperar que os Chefes entrem numa era nova e passem a exercer as funções de sindicalistas, no bom sentido, dos seus subordinados, a fim de estes não terem necessidade de reivindicarem, de form indisciplinda,a criação de sindicatos, de direito à geve e a manifestações na rua.

Anónimo disse...

Caro amigo A. João Soares já comentei este seu post na voz...penso eu.De acordo.Agora se me permite vou colocar o seu post no Passa-Palavra como A. João Soares...está-se a tornar um cronista sério no Passa-Palavra,em opinião!

Abraços

Mário Relvas

A. João Soares disse...

Amigo Mário Relvas,
Já tive ocasião de visitar o Passa-Palavra. Agradeço a divulgação que dá aos meus s«escritos.
São desabafos de um pastor que, no intervalo de apascentar as suas cabras, olha para o mundo que o cerca e diz «há coisas maravilhosas, não há!».
Por issso, são ideias polémicas que devem ser comentadas, limadas e polidas a fim de ficarem melhores, mais enriquecidas na su expressão. E o amigo tem vindo a contribuir para esse aperfeiçoamento, esse tioque que lhes dá brilho.
Um abraço de amizade
A. João Soares