domingo, 19 de novembro de 2006

O poder da construção civil

O poder dos construtores civis

Apesar de o país se encontrar em crise económica e financeira e apesar de haver muita casa desabitada, continuam as construções de edifícios de apartamentos, em demonstração da capacidade financeira por parte dos construtores civis. As obras públicas podem ter desacelerado, mas não faltam actividades dependentes quer do Governo quer das autarquias, que vão muito além das decorativas rotundas.

Hoje, ninguém duvida do imenso poder detido pelas empresas de construção, nomeadamente o poder de influência sobre autarcas e governantes. E a experiência diz que quem tem poder costuma abusar dele, principalmente quando ele é utilizado sem condicionamentos responsabilizantes por parte de qualquer autoridade institucional. Há muitas obras, aparentemente sumptuárias e inúteis que parece terem sido decididas por pressão de construtores e investidores do ramo. A Expo 98, o Euro 2004 com todos os seus estádios, alguns encontrando-se às moscas e em progressiva degradação, o Porto Capital da Cultura com a Casa da Música acabada muito tempo depois e, agora, será Guimarães a próxima Capital da Cultura.

Mas esse discutível destino do nosso dinheiro não é o maior mal. Pior é a irresponsabilidade e impunidade com que deixam de ser cumpridos prazos e com que se entrega uma obra com deficiências graves. Quanto a atrasos impunes, são bem conhecidos os casos do Metro do Terreiro do Paço, da Casa da Música, do Túnel do Rossio. E, paralelamente ao desrespeito dos prazos de construção, há o desprezo pelo orçamento contratado, chegando os custos finais a valores múltiplos daquele.
Quanto à falta de qualidade das construções há muitos exemplos de deficiências em estradas e auto-estradas novas, infiltrações no metropolitano, fissuras em pontes, etc. A deficiência mais recente foi sentida no Porto com «chuva» dentro da estação do Metro da Trindade.

Existe uma promiscuidade suspeita e inconveniente entre as empresas de construção e os políticos (governantes e autarcas) o que, dada a impunidade e irresponsabilidade das irregularidades publicamente conhecidas, acaba por levantar dúvidas sobre a eficiência do funcionamento da Justiça. Convém perder o hábito de pensar que o povo não vê e não avalia, pois ele cada vez vê melhor e só não se manifesta devido a uma contenção tradicional em vias de desvanecimento.

Sem comentários: