domingo, 10 de dezembro de 2006

Oficiais das FA dão nota negativa aos políticos

Oficiais das Forças Armadas dão nota negativa aos políticos
Manuel Carlos Freire

A Associação dos Oficiais das Forças Armadas (AOFA) divulgou ontem a sua primeira "avaliação do poder político" na área da defesa nacional, afirmando que "têm sido más" as condições de diálogo com o Presidente da República e o Governo.
Cavaco Silva "tem abordado as questões militares de forma exclusivamente institucional, defendendo o prestígio das Forças Armadas, mas não revelou até ao momento quaisquer preocupações" com os quadros que as servem. "Tem sido, nesse aspecto, pior que os anteriores presidentes da República", afirma o documento da AOFA, lamentando que o Chefe do Estado "[ignore] as associações e o seu papel legal".

O relatório da AOFA abrange o período relativo aos meses de Julho a Setembro, sendo anterior aos protestos que culminaram com a manifestação pública de 23 de Novembro e a publicação, dias depois, da carta do chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA) ao ministro da Defesa, alertando-o para as "graves consequências que se antevêem" sem a resolução de vários problemas que afectam os militares.O "quadro de avaliação do poder político" analisa a qualidade das relações mantidas com as associações militares por parte do Chefe do Estado e comandante supremo das Forças Armadas, presidente da Assembleia da República, Governo (primeiro-ministro, ministro da Defesa e secretário de Estado da tutela), Comissão de Defesa do Parlamento, grupos parlamentares dos partidos políticos e chefes militares.

Relativamente ao Governo, a AOFA observa que José Sócrates "tem abordado as questões militares com pouca frequência" e deixado "sem resposta clara as questões relativas ao incumprimento das leis" aprovadas pelo Parlamento.

Quanto a Jaime Gama, que era ministro da Defesa quando se realizou a maior manifestação pública de protesto de militares fardados em democracia (1999), as relações de diálogo "têm sido satisfatórias" - apesar de abordar também as questões "com pouca frequência", sem "um interesse claro" pela situação dos militares e da falta de "resposta clara" ao incumprimento da legislação vigente.

Quanto aos titulares da pasta da Defesa, a AOFA reconhece que o ex-ministro Luís Amado "abordou as questões militares com frequência" mas sem as resolver, enquanto o diálogo com Nuno Severiano Teixeira "tem sido sofrível".

No caso dos grupos parlamentares, registe-se que as condições de diálogo com o do PS - onde pontifica o "capitão de Abril" Marques Júnior - "têm sido medíocres" e com os do PSD e do CDS/PP (que tutelaram a Defesa entre 2002 e 2004) "satisfatórias" e "boas", respectivamente. Com o PCP "têm sido boas", com o Bloco de Esquerda "satisfatórias" e com os Verdes "inexistentes".

Quanto às chefias militares, a comparação entre as posições adoptadas pelo último CEMGFA, almirante Mendes Cabeçadas, e pelo seu sucessor, general Valença Pinto, enquanto chefe do Estado-Maior do Exército - a que se juntam as recentes declarações feitas já na qualidade de chefe máximo das Forças Armadas - deixam antever um retrocesso na relação institucional entre as partes.O relatório da AOFA descreve a relação com Mendes Cabeçadas, entre Julho e Setembro, como "razoável". Já com Valença Pinto, então no Exército, foi "má". Recorde-se que este general, que subscreveu a carta de Mendes Cabeçadas ao ministro Nuno Severiano Teixeira, acabaria, já como CEMGFA, por desvalorizar até à insignificância o protesto público dos militares em Lisboa - só "0,45%" do universo de militares no activo, reserva e reforma.
In diário de Notícias on line

NOTA: O que é muito estranho é que ainda haja militares a discordar de manifestações públicas de descontentamento. É certo que elas não prestigiam os militares nem a sua dignidade institucional, mas sem elas os detentores das armas vêm o seu vencimento reduzido a cerca de metade desde 1990 em relação a juizes e professores. Quem os defende da «perseguição» dos políticos? Que outras formas têm de evidenciar o seu descontentamento e exigir justiça, equidade e cumprimento das compensações devidas à condição militar? Os militares nunca exigiram sindicato por estarem convencidos de que os chefes eram os seus defensores1 Pura ilusão como estes quinze anos de perda têm provado! Essas manifestações, se acarretam desprestígio, este não recai nos manifestantes mas sim nos seus chefes e nos governantes.

6 comentários:

Paulo disse...

E entre militares? em 1990 um Sargento-Môr tinha o ordenado base igual à de um Major no 1º Escalão. Hoje, o mesmo Sargento-Môr, tem um ordenado base igual à de um capitão no 4º escalão, sendo que o capitão tem 7 escalões.
É mesmo de "bradar" às armas, né?

Abraço
Paulo

PS: Excelente Blogue.

A. João Soares disse...

Paulo sempre,

Obrigado por esta sua achega. Deverá haver muitas situações desagradáveis deste e doutros géneros. Convém chamar a atenção para elas, mas também é necessário situar cada caso no problema global das Forças Armadas e do País, para não esquecer nunca que o prestígio dos militares engrandece Portugal e cria orgulho em todos os Portugueses. Mais do que a enorme árvore de Natal ou o 4º lugar num campionato de futebol, os militares que usam a bandeira de Portugal no estrangeiro, são uma imagem que engrandece o País. Mas se não tiverem bons materiais e não estiverem motivados, podem ser ojecto de dó e piedade e criarem uma ideia de terceiro mundismo.

Os portugueses queremos ter vaidade nos militares que nos defendem, que defendem o nome do nosso rectângulo lusítano, tal como gostaríamos de ter uma justiça eficiente e rápida, bom serviço de saúde e óptimo ensino.
Apareça Sempre. Um abraço
A. João Soares

Anónimo disse...

Será que o senhor almirante Mendes Cabeçadas já fez a sua inscrição como sócio da AOFA?
...É que daqui por cinco anos, quando mudar de situação reserva/reforma, além da idade lhe vir a ser mais pesada ainda, não terá voz nem autoridade para se defender dos ataques aos seus direitos que vierem a acontecer.
Nessa altura, o senhor almirante precisará de uma Associação que lute por si, precisará dos outros militares!
Inscreva-se já, faça-se sócio.

Anónimo disse...

Era só para dizer, se me é permitido, que os sargentos das FA concordam com a avaliação e acham que nem na oral eles se safam...

Anónimo disse...

Fico muito triste por ver militares na rua.

Não é digno da sua CONDIÇÃO MILITAR!
Mas o problema é que parece não haver qualquer CONDIÇÃO MILITAR para os militares!

Os quartéis caem de podre!

Gostaria de ver aqui no seu blog amigo João Soares uma apreciação ao serviço semi-profissional em vigor nas nossas FA em detrimento do SMO!

UM abraço a todos e grito
POR PORTUGAL!!
PELOS COMANDOS!

MAMA SUMÉ

A. João Soares disse...

Muito Obrigado pela visita e o comentárioaos Carlos Camoesas, Anónimo e M Relvas.

A M Relvas tenho que confessar a minha ignorância para comparar o SMO com o profissionalismo quanto a resultados já visíveis.

Nos comentários ao post «Novo CEMGFA», onde o Amigo também comentou, há uma opinião de deprofundis que evidencia muito bem que as FA têm sofrido alterações profundas na forma de encarar muitos valores de antigamente. Os tempos modernos levam as pessoas a não aceitar serviços demasiado exigentes em abnegação e sacrifício, que obrigavam a esquecer todos os interesses pessoais e familiares para a devoção total ao serviço. As FA não aguentam ser um oásis no meio do deserto ou ser um espinho cravado na carne. Acabam por ser o espelho da Nação e esta muda todos os dias.

Um abraço
João Soares