sábado, 6 de janeiro de 2007

Comandos, uma reserva de Amor a Portugal


Depois de, em Agosto passado, ter começado a colaborar no blogue A Voz do Povo conheci virtualmente o Comando Mário Relvas de que admiro o fervor Comando claramente manifestado sempre que surge oportunidade e que, há dias, me convidou para ir ao encontro mensal da primeira sexta-feira, na Associação dos Comandos, onde o Prof. Adriano Moreira fazia uma conferência. Embora nunca tivesse tido uma ligação directa aos Comandos, sempre admirei a sua forma de estar na vida muito orientada pelo seu Código de Conduta, e já tenha dado alguma colaboração para o seu jornal virtual «Passa-Palavra». Por isso e por já conhecer e admirar há muitos anos o Professor, a sua capacidade de expor de forma simples e compreensível temas complexos, com isenção e rigor científico, aceitei o convite.

Quanto à palestra, nada de especial tenho a dizer porque correspondeu totalmente às expectativas. Fiquei mais esclarecido sobre a complexidade do mundo actual, em rápida transformação, ao contrário da nossa lenta capacidade de compreensão, o que torna muito difícil prever e planear estrategicamente. Em poucos anos têm surgido alterações sobre as realidades de conceitos como fronteira geográfica, de segurança, económica, etc.; conceito de nação, hoje ameaçada pelo fenómeno imigração ainda mal digerido e o multiculturalismo; conceito de soberania; as relações internacionais em que as potências têm como rivais organizações sem estatuto geográfico, sem objectivos estratégicos definidos, sem respeito por tratados nem disciplinas de convivência; os poderes emergentes, assimétricos. A necessidade de regressar aos pilares da ética, com diálogo das religiões a valorizar aquilo que as une. A solução para a imigração assente na tolerância dentro de limites adequados por parte dos acolhedores e o respeito pelos outros por parte dos que chegam. O mundo a funcionar entre dois pólos: o G8 e o Forum Social, tudo isto exigindo uma gestão integrada e comum, dinamismo que está fora da lentidão natural dos Governos. O problema da disseminação das armas estratégicas, que obriga a colocar a dúvida se haverá algum estado confiável para as possuir. A impossibilidade prática de levar a cabo o desejável desarmamento geral e controlado. Enfim, um conjunto de temas muito interessantes e de grande actualidade, que terminaram numa prolongada ovação da sala repleta de pessoas, muitas delas nas coxias por excesso de lotação.

Mas, o que mais me impressionou foi constatar a ideia errada que o povo tem dos militares. Estavam ali mais de 120 pessoas, a maior parte civis que tinham criado laços de amizade durante o serviço militar e que se reúnem num momento de cultura e aumento de conhecimentos e para se verem mais uma vez. Não é apenas um motivo lúdico mas principalmente cultural e sentimental. Uma família unida e coesa, pronta a sacrifícios para defender os ideais que viveram em condições difíceis e que mantêm activos. Uma reserva de Amor a Portugal, como está expresso no seu Código e como soa bem alto nos ouvidos, quando gritam o seu brado tradicional.

Foi muito salutar assistir a este encontro tonificante que afasta o pessimismo, ao constatar que há pessoas com fé em princípios éticos que enquadram os comportamentos dentro de grupos e de nações e que, se forem seguidos pela generalidade dos povos, tornarão o mundo mais harmonioso e perfeito.

Parabéns aos Comandos pela existência e manutenção desta postura exemplar.

5 comentários:

José António Barreiros disse...

Deixem-me só lamentar que a estratégia premeditada de destruição do prestígio, da coesão, da moral e da dignidade doas Forças Armadas, levada a cabo pelos partidos, sem excepção, não tenha correspondido, por parte dos militares, a resposta à altura da situação.
Transformados pelo poder político em soldadinhos de chumbo, os militares [salvo poucas excepções, quantas silenciosas] deixaram-se aniquilar.
Estou a ser injusto? Mostrem-nos que não!

A. João Soares disse...

Caro Amigo JA Barreiros,
Muito obrigado pela sua visita. Espero que a sua saúde esteja melhor e que 2007 seja mais auspicioso que 2006 em todos os aspectos.

Realmente os militares, de uma forma geral, foram auto-castrados com toda uma vída de condicionamento pelo RDM que levou muita gente a interpretar a disciplina como uma submissão incondicional ao chefe, como conivência, cumplicidade, conluio em relação aos chefes e ao poder. Isso marcou muitos de forma indelével.

Isto não é exagero, pois, apesar de o 25 de Abril já ter transformado a sociedade há 32 anos, ainda vimos no mês passado haver poucos militares a manifestarem-se em defesa de uma causa indiscutivelmente justa, e esses ficaram na mira da perseguição «disciplinar» dos chefes que obedeceram à ameaça prévia feita pelo PM. Os chefes não os defendem e não têm uma via para manifestar o seu descontentamento sem cairem sob o cutelo da «disciplina» mal interpretada que atacará os que se recusam a ser coniventes com aqueles que os querem aniquilar.
Vou mostrar dois pequenos exemplos da «castração» dos militares: Um general enviou-me ontem um e-mail, igual a outros anteriores, a estimular a minha actuação neste espaço que, pelos vistos, acompanha com regularidade, mas em que não tem a coragem de escrever um comentário. O medo tolhe-o.
Um coronel que encontro várias vezes por semana e que procuro entusiasmar para uma visita a este blogue, nem sequer gosta que me refira a isso. De vez em quando dava-me sugestões para cartas aos jornais, mas, embora redija bem, nunca teve coragem de escrever uma. A imagem de «soldadinhos de chumbo» é real, em muitos casos.

Gostei de testemunhar o espírito que encontrei neste encontro dos Comandos, e s´ró lamento em não ter conseguido traduzi-lo de forma mais viva e completa. São uma excepção, embora esteja convencido que no meio de tantos milhares haja alguns timoratos que cultivem o políticamente correcto, para terem tacho!

Apesar do panorama que o Amigo traça no seu comentário, é de admirar a forma como se têm comportado os nossos rapazes nas missões de paz no estrangeiro, onde têm recebido louvores muito significativos. Mas a sua ficiência, em vez de orgulhar os políticos e os generais «disciplinados», causa-lhes algum incómodo. A eficiência não é considerada um valor a respeitar e a estimular. Não me esqueço de que Luís de Camões, com toda a sua sabedoria e conhecimento da gente lusitana, encerrou os Lusíadas com a palavra Inveja. É significativo!
Um abraço de Amizade

Anónimo disse...

Caro amigo e camarada A. João Soares,

agradeço-lhe o seu testemunho neste belo texto,ontem e hoje comentado muito positivamente em toda a diáspora COMANDO!

Digo-lhe com toda a sinceridade que me é característica.

Pode crer que lhe estou muito grato.
Não faço favores a ninguém,também nunca os pedi.Sim sou mais um "louco",por assim ser,daqueles que interioriza o CÓDIGO COMANDO e o "tenta" aplicar no dia a dia!

Grato em nome dos Comandos,acima de tudo de PORTUGAL!

Mário Relvas

A. João Soares disse...

Caro M Relvas,
Para mim foi uma honra ser-me permitido estar por largos momentos entre pessoas de valor, cujo espírito admiro e fiquei a conhecer melhor.
Agradeço o convite e a forma como fui acolhido, como se fosse da casa.
Na vida não há muitos momentos tão prazerosos. Obrigado. Devo-o a si e à Voz do Povo que permitiu contactar consigo.
Um abraço
João Soares

Anónimo disse...

FAMA


Carlos Matos Gomes
De acordo com os dicionários fama é voz pública, crédito, nome, celebridade, nomeada, honra, glória, reputação, mas também boato, notícia, voz geral.

Os Comandos têm uma fama. Têm-na aqui em Portugal e têm-na em todo o mundo. Sempre a mesma. Nas palavras genialmente simples que ouvi ao já falecido João Serra, o comandante de 17ª Companhia, diante dum plano de operações, a fama de serem aqueles que estão sempre na ponta das setas que definem a conquista dos objectivos. É aí que se encontram, sempre, os Comandos. É aí que os generais colocam os Comandos, é aí que os outros esperam que os Comandos estejam, é aí que os Comandos sabem, que estão e vão estar. Aqui:

A honra de pertencer aos comandos é a generosidade de cada um de nós se ter disposto e se dispor a ocupar esse lugar. A fama dos comandos é o resultado dos outros admirarem (mesmo sob a forma de inveja) essa generosidade.

Generosidade é a nossa matriz, o nosso selo, a nossa marca registada. Antes da coragem e do saber encontramos a generosidade que nós também conjugamos como espírito de sacrifício. É na generosidade, na disposição para nos oferecermos em sacrifício que reside a fama que os outros nos atribuem.

Só o facto de cada um de nós se ter oferecido para ocupar esse lugar de sacrifício é merecedor de respeito. Por isso me custa tanto ouvir alguns de nós denegrirem alguns de nós, esquecendo que foi a sua generosidade que os fez estarem no local e na situação mais difícil. Nos locais e nas situações onde é mais fácil e mais provável cometer erros.

Em palavras muito simples diria que o “crachat” de Comando é a mais alta condecoração que temos, a que mais nos deve orgulhar e aquela onde reside a nossa fama, porque é ele que dá à voz popular os motivos para a nossa reputação, seja ela boa ou má.

Carlos de Matos Gomes.
in www.comandosdeportugal.net/jornal