segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

O Naufrágio e a Protecção Civil

Seis pescadores morreram por falta de socorro oportuno

Embora um acontecimento que ocorre durante algum tempo seja melhor registado num vídeo do que numa fotografia, muitas vezes basta uma foto para dar uma ideia suficientemente clara, como se vê em reportagens de jornais e revistas. Fenómeno semelhante se verifica com os resumos que, quando bem elaborados, dispensam a leitura de documentos volumosos. A história aprende-se através de momentos isolados mas representativos da evolução dos acontecimentos mais decisivos.

Ao terminar do ano de 2006, a fotografia que fica do que é Portugal neste mudar de ano, aquilo que os demonstra o estado em que isto está, é-nos evidenciado pelo afogamento de seis pescadores que não conseguiram sobreviver a um naufrágio, porque o helicóptero de salvamento chegou apenas duas horas mais tarde, tendo salvado só o sétimo náufrago. E isto passou-se a 50 metros da areia da praia e o barco afundado tinha lançado o alarme pelo GPS, estando, portanto rigorosamente localizado e identificado.

A população pergunta, com toda a pertinência, o que se passa com a Protecção Civil? Que andam esses indivíduos a fazer, ornamentados com vistosos fatos e medalhas? Para que se gastam milhões de euros com aeronaves se estas não são utilizadas quando necessário por não estarem em estado de prontidão? Como está organizado o sistema de socorro? Não faltam motivos para indignação.
Para uma missão de protecção civil, como em muitas outras que se revestem de complexidade e de vários intervenientes, não se deve começar por adquirir materiais, nem, muito menos, por se anunciar um vultoso investimento, sem antes se fazerem os necessários estudos prévios. Deve começar-se por definir a finalidade deste Serviço Público, o que dele se petende, havendo depois que organizar, definir as dependências, a forma de interagir, os canais de chefia e os de informação, planear, com inteligência, razoabilidade, sentido empresarial, etc. Só depois de haver manuais esboçados com a organização estática dos organigramas e a dinâmica de funcionamento, operacional, é que começam a delimitar-se as necessidades de materiais, que devem ser adquiridos segundo critérios de necessidade e de economia, tendo em conta a sua utilização, os operadores e a conjugação com outros já existentes, e criar sistemas de utilização adequados às prováveis necessidades de intervenção.
Esta metodologia não foi seguida, do que resulta o mau aproveitamento de recursos humanos e materiais e a nulidade do sistema, como agora aconteceu com tantas perdas de vidas.Somos um País do terceiro ou quarto mundo, com incapazes por todo o lado, mas com prosápias de grandes gastadores. Todos os anos por volta de Fevereiro, o MAI aparece nas TV a dizer que nesse ano os fogos florestais vão ser atacados com eficiência porque já foram investidos «éne» milhões de euros. Mas o resultado vê-se no Verão, traduzindo o inconveniente da falta de organização e de método atrás referida. E a Protecção Civil não deve ser orientada exclusivamente para os fogos florestais de verão.
Isto mostra o estado em que se encontra o País e que denuncia que os políticos não têm preparação adequada para as funções que devem desempenhar. O seu recrutamento é feito entre jovens das suas relações de amizade que só dizem o que o chefe gosta de ouvir e que se rodeiam de responsáveis pelos serviços com a mesma ética de «yesmen». Depois, o País fica mal servido, embora se gastem milhões sem o proveito correspondente.

Consta que, enquanto os náufragos careciam de socorro, havia na Serra da Estrela, em apoio preventivo de turistas, um aparato com centenas de pessoas e veículos da Protecção Civil, pomposamente enquadrados .

10 comentários:

Beezzblogger disse...

Amigo A João Soares, de facto vivemos num Portugal sem Rei nem Roque, isto é o "manda quem pode e obedece quem precisa", mas nestes desmandos, mandam-se uns quantos para o cemitério, afinal são só pescadores, triste miséria, assassinos, eu posso falar á boca cheia, assim de orelha a orelha:


ASSASSINOS!!!

Pois a negligência, é uma forma de assassinato, como em entre-os-rios...

Mas isso ia dar pano para mangas.

Obrigado por trazer aqui este tema.

Bem haja e um feliz 2007

Abraços do Beezz

disse...

É por demais conhecida a teimosia, a coragem e a imprudência das gentes do mar.
Claro que este facto não justifica a lentidão de caracol de quem é pago para estar acordado…

Anónimo disse...

Caro João Soares,

meu amigo, este tema é realmente triste e evidente da carência de material humano e operacional.

Sei e você sabe porquê, que a protecção civil luta contra o modo de funcionalismo público em que esteve sempre inserido. Recordar-se-á do barulho que os bombeiros e muitos civis fizeram aquando da recente nomeação do M Gen CMD Arnaldo Cruz....

Todos se queixam, mas não querem que se mude nada.Assim dividem para reinar.

Os serviços começam a ser rigorosamente alterados no funcionamento. Mas a mentalidade é obstruír. Felizmente que o Gen Arnaldo Cruz não é homem de se acobardar ou em andar em entrevistas ou passeios.Ainda não deu uma entrevista desde que foi nomeado. Tenho-o como homem sério, operacional, muito direito.Recordo o homem que chefiava a Direcção de Instrução do RCMDS na Amadora e mais tarde cmdt do RCMDS!Jovem Major (na altura), com comissões em África ao serviço de Portugal e dos COMANDOS.

Espero que ele consiga implantar o sistema militar,no que tem de bom:hierarquia,disponibilidade e rigor.

Ainda outros problemas que enfrenta-helios da FAP,homens não profissionais dos bombeiros,material obsoleto e por vezes megalómano.
Outros que se dizem profissionais e chefiados pelas câmaras municipais,os sapadores bombeiros.

Estrutura hierárquica assente em várias instituições e nomeados para a protecção civil local por amizades ou compadrios dos presidentes das câmaras.

Aguardemos efectivamente que para o ano mais uma companhia de gnr sapadores bombeiros esteja no terreno,que se profissionalizem os bombeiros "voluntários",que haja material adequado,que os aviões comprados estejam activos.Enfim era um tema que dava pano para mangas.

Um abraço


Mário Relvas

PS:visite as imagens de 2006 no meu blog!

Anónimo disse...

Lembro-me que quando da apresentação oficial dos "Merlin", o Chefe de Estado Maior da Força Aérea, referiu no seu discurso que os novos helicópteros apenas cumpririam as missões para que tinham sido adquiridos; Busca e salvamento e patrulhamento marítimo. Saíu nos jornais e também me lembro que o CEMFA disse que não seriam usados para transporte de entidades.Nem sequer voaram no dia da apresentação, os dois "políticos" que assistiram à cerimónia, tiraram fotos lá dentro mas no chão...

Ora bem, alguns meses depois, começámos a assistir ao taxi aéreo dos senhores ministros utilizando o "Merlin" e recentemente também soubemos que o CEMFA não foi reconduzido no cargo!

Não percebo porque quer o senhor ministro da Defesa, abrir um inquérito para saber os procedimentos da Força Aérea e da Marinha, não é ele próprio e o seu Governo, quem manda e desmanda e transforma a Força Aérea em empresa de transporte ministerial?

Acho bem que se faça uma investigação, podem começar por investigar para que foram adquiridos os "Merlin" e porque o Governo depois de os ter ao serviço, alterou as missões que lhes estariam atribuídas.

Anónimo disse...

Fi consultar os meus arquivos e peço desculpa por uma ligeira falha; no post anterior onde se lê "patrulhamento marítimo" deve ser lido "evacuações médicas".
Aqui deixo a transcrição de parte do discurso proferido pr Taveira Martins em Abril de 2006:" A Força Aérea garantirá a sua operação e sustentação dentro das limitações existentes e exclusivamente para o cumprimento de missões de busca e salvamento e de evacuações médicas."
E também : " fica excluída a utilização dos novos helicópteros em exercícios militares, transporte de tropas ou mesmo entidades oficiais, como membros do governo".

Este foi o Chefe militar não reconduzido pelo governo!

Agora, tenha alguém coragem para solicitar (e tornar público) ao senhor ministro da Defesa (ou à própria Força Aérea)um mapa das horas de vôo feitas pelos "Merlin" nas missões que lhe estavam atribuídas e um outro mapa com as horas de vôo feitas noutras "missões" como passeatas dos nossos digníssimos políticos.
Tenha alguém coragem para perguntar aos digníssimos políticos, porque gasta o Estado português (TODOS NÓS) milhões em meios de busca e salvamento, para depois estes mesmos serem usados no interesse do comodismo de apenas ALGUNS DE NÓS(os políticos).

Provavelmente este seu excelente blog será lido por jornalistas, investiguem a verdade dos factos...

Anónimo disse...

Investigue-se também porque em 2005, no verão quente (quando o senhor "engenheiro" estava no Quénia), o ministro António Costa falou aos OCS dizendo duas mentiras; que havia um "contrato" com a Força Aérea para ceder pilotos para os futuros helicopteros de ataque aos incêndios e, porque disse o mesmo senhor ministro que os "Puma" seriam reconvertidos para a protecção civil.
Veio-se a saber que afinal foram duas mentiras para sacudir a água do capote!O "contrato" foi imediatamente desmentido pelo CEMFA e a reutilização dos "Puma" só se fôr para os museus...Alguém pediu responsabilidades ao senhor ministro? Alguém lhe pediu para mostrar o "contrato"? Alguém lhe pediu para provar em que se baseou para afirmar que os "Puma" poderiam ser reutilizados?
Pois é, os políticos só assumem responsabilidades políticas, quando a coisa fica negra, simplesmente se demitem do cargo e são renomeados para outros!

Também sabemos que os meios aéreos são um grande negócio que envolve muito dinheiro e interesses, também sabemos que existe todo o interesse por parte dos políticos, em "privatizar" tudo o que é função do Estado.
As evacuações médicas já são também feitas por empresas privadas, daqui a pouco tempo será também a Busca e Salvamento, depois o Patrulhamento Marítimo e...Chegará o dia em que os compadrios formarão empresas pagas pelo Estado e comprarão aviões de caça (talvez os que estão ainda empacotados por ineficiência das OGMA e Luís Amado queria vender) para garantir também a Defesa Aérea.
Vivemos num Estado que não assume os seus compromissos, todo o dinheiro dos contribuintes vai para os bolsos de privados. O Estado não retribui aquilo que é seu dever, não garante nada, tudo é privado, desde as auto-estradas, passando pelos hospitais, a Segurança Social será prestada pelas seguradoras e quanto à Defesa, depois de acabarem com a Instituição Militar, criarão uma empresa de mercenários para "dignificar" Portugal nas missões Internacionais e contribuír para a ascensão política dos nossos ministros!

A. João Soares disse...

Caros Amigos Bezz, Zé, M Relvas e Camoesas,
Muito obrigado pelos vossos comentários. Sinto-me muito honrado com as vossas palavras e espero poder continur a fazer uma escolha de temas com interesse.
Há dias numa resposta a um comentário meu, o Dr. José Maria martins, referiu a necesidade de os políticos terem formação para o desempenho de cargos governativos. O Estado não é uma confraria de aldeia que pode ser gerida por qualquer um. E mesmo essas são geridas por pessoas que têm experiência da gestão dos seus negócios.
Além de não saberem gerir, têm falta de preparação cívica e ética e sucumbem às tentações do poder.
No corpo deste post referi uma metodologia que é básica (até eu a sei!), mas que os políticos demonstram a cada passo desconhecer.
Pobre País que tais governantes tem.
Gostei das referências de Cavaco ao Ensino, à Economia e à Justiça, cujos ministros já constava há meses que iam ser substituídos. Mas para o PM essas substituições são coisa de somenos, e tanto faz sairem agora como daqui por uns meses depois de fazerem mais asneiras e atrasarenm ainda mais a saída da crise global do País.
Um abraço
João

Anónimo disse...

Continuo a achar que o país está à beira da auto-gestão generalizada.

A impreparação e a arrogância do Governo continuam cada vez mais de braço dado. Casos como este da morte dos pescadores e da pompa cretina da Serra, são um exemplo bem elucidativo.

Um abraço.

Jorge G - O Sino da Aldeia porque avisar é preciso

A. João Soares disse...

Obrigado Jorge g, por ter deixado por, uns minutos, a corda do sino e vir até aqui.
Apareça sempre. Espero ter novidades que lhe interessem.
Um abraço
João

victor simoes disse...

Num país Europeu, morrer a 50 mts de terra, é uma aberração para quem queira mostrar que temos protecção civil... já foi tudo aqui dito!
É verdade onde está a operacionalização de meios prometida?
É tudo propaganda política, o Povo já não acredita.