Do alto destas fragas (Do Mirante), enquanto as minhas cabras procuram as melhores ervas para se alimentarem, após cheirarem todas e fazerem a comparação que baseie uma boa escolha, olho a planície, lá em baixo, um pouco toldada pela neblina matinal, e vou ouvindo as notícias que a minha estação de rádio preferida me traz quase em permanência. Isto da rádio e o que ela nos ensina é um milagre da evolução da história da tecnologia. O meu avô não tinha rádio, o meu pai tinha um matacão a pilhas, pesado como um tijolo de 20 furos e as pilhas duravam pouco e custavam muito. Eu já comecei pelos transístores de grande tamanho e agora tenho um do tamanho de uma caixa de fósforos, com microprocesador, e nem gasto dinheiro em pilhas, pois uso uma pequena placa solar que, quando me desloco, dependuro nas costas da samarra para continuar a captar a energia solar. Realmente, o mundo tem evoluído muito e a história não volta atrás, não tenham medo os que os que se assustaram com a escolha popular do «melhor português» pois ele não ressuscita, embora muitos dos seus apologistas o desejassem. Mas, cuidado! Dentro em pouco pode aparecer outro que, em vez de nos obrigar a ter bilhete de identidade, nos obrigará a ter cartão único, chip implantado abaixo da clavícula direita, etc.
Peço desculpa de me ter desviado do rumo desta «conversa em família»; é que as ideias são como as cerejas e, por melhores que sejam, estão sempre sujeitas a tráfico de influências a pressões, a lobies de outras que, não sendo melhores, quanto a lógica, senso, eficácia e perspectivas de resultados, estão apoiadas por poderosas forças ocultas que as tornam vencedoras. Essa moléstia está muito vulgarizada, mesmo nas ideias.
Queria elogiar o Governo, não pela evolução do rádio de transístores ou de microprocessador, mas pela notícia que ouvi acerca do controlo mais apertado dos gestores públicos que se espera venha acabar com os escândalos de que, a cada passo, temos conhecimento pela Comunicação Social e pelos e-mails e blogues. É bom que não tenha faltado coragem aos governantes para tomarem esta iniciativa, mas é desejável e imprescindível que tenham persistência e perseverança para detectar o incumprimento e as «habilidades» que surgirão da parte de muitos para furar o sistema e continuar a mamar por várias rubricas, diversos títulos e pretextos.
Os meus conterrâneos, todos meus amigos, vão ficar muito contentes quando, logo ao fim da tarde, depois de recolher as cabras ao redil, me encontrar com eles na tasca do Zé, para beber um copo de tinto que dizem fazer bem ao coração e às artérias, e lhes contar esta novidade. De manhã, quando passei por lá para tomar o mata-bicho, um cálice de bagaceira e três figos secos, eles estavam furiosos a dizer as piores do Jorge Figueiredo que se despediu por um pretexto caprichoso que veio a verificar-se não ser realista e que, apesar de se tratar de desemprego voluntário, ficou a receber por mês trinta (30) salários mínimos, isto é, ele sem nada fazer, ganha tanto como trinta chefes de família cá da terra em troca de trabalho diário a tempo inteiro com risco e muito esforço físico e, com isso, têm de alimentar a família. Dá que pensar e os vizinhos estavam mesmo danados com esse caso e, ainda mais, por virem à conversa outros casos como os das empresas autárquicas, da Galp, da PT, da CGD.
Mas daqui destas fragas, olhando a vastidão do espaço, por onde espraio as minhas cogitações estimuladas pela rádio, fico com largo receio de que isto irá logo começar mal, porque não deixará de haver excepções para amigos dos detentores do Poder. Na Galp e na CGD não deixarão de aparecer Gomes e Varas para, sem nada fazer, aumentarem os seus próprios activos. Não vai longe o tempo em que os gestores mudavam de fracasso em fracasso até à TAP, lançando-a quase na falência de que foi salva por um estrangeiro, contratado segundo o comprovado estilo futebolístico, seguidor do culto da excelência, da eficácia, da gestão por objectivos e da avaliação por resultados. Este é um exemplo que já devia ter sido aprendido e posto em prática, mas a que ninguém tem ligado. Os portugueses, em geral, somos avessos ao método e à dedicação sustentada. E os maus hábitos demoram muito a serem perdidos. É precisa uma terapia intensa e continuada para conseguir a cura e a recuperação. Será que o Governo terá a paciência e a vontade férrea para não voltar atrás e para conseguir, com êxito, implantar a ética, a moral e a legalidade?
Oxalá que sim. Força «camarada» Sócrates!!!
Sugere-se a leitura dos seguintes posts que, de forma mais ou menos directa, ajudam a compreender este tema.
Haja vergonha no Poder
Temos que apertar o cinto?
Maus governantes ao sabor de manifestações
Onirismo de alguns governantes
2007 - AEIOT
Portugal a saque, impunemente
Almirante Gouveia e Melo (XXXIII)
Há 1 hora
1 comentário:
Bom, muito bom. Vale a pena vir cá ficar informado.
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