quinta-feira, 12 de abril de 2007

OTA. Opinião de quem sabe

Recebi por e-mail de remetente identificado e, pelo valor dos argumentos, julgo com interesse para conhecermos mais pormenores do problema da OTA.

Não ouvi se o Prumero falou no assunto (deixei-me dormir), mas inicialmente foi anunciado. Porque me parece oportuno, transcrevo do Blog O VELHO DA MONTANHA. Os sublinhados são meus.
JGarcia

FILHOS DA P...OTA!

Ao que parece a decisão está tomada e, jura o Governo, nada impedirá o projecto de ir para a frente. Várias questões se põem sobre a eventual bondade desta obra, sendo que apenas tenho ouvido argumentos inteligentes "contra" e argumentos indigentes "pró".
Em primeiro lugar, se é que isso serve de indicador, tenho corrido Portugal de lés-a-lés e ainda não encontrei ninguém, mas mesmo ninguém, a quem o projecto agradasse. Depois, este Governo, pela pessoa sebosa de Mário Lino, tem-nos enfiado pela goela abaixo uma série de estudos, nos quais são omitidas questões da maior importância. Ao que nos dizem, a obra vai ser financiada por privados, mas de que forma estes privados se vão resarcir do investimento? Irão fazer uma obra de caridade? Mesmo que assim fosse, este novo aeroporto terá de ter acessos dedicados, os quais têm altíssimos custos que inevitávelmente vão sair de vários OGE's. Qual a perda de competitividade de Lisboa em relação a outras cidades Ibéricas? Como irá ser afectado o Aeroporto Sá Carneiro após a sua faustosa remodelação? Quem irá pagar os 400 milhões de Euros para a expansão – ao que parece inútil – da Portela? E já agora, para quê investir numa linha de Metro para o actual Aeroporto? Será para servir "à priori" as futuras urbanizações previsivelmente programadas para os terrenos da Portela?
Bom… Penso que mais vale deixar estas perguntas no ar, pois não lhes conheço as respostas e acredito que ninguém mas vai dar.
Vou pois falar de algo que conheço, e conheço muito bem, a própria Ota.
Em primeiro lugar devo começar por informar de que não sou nenhum ignorante no que respeita a aeronáutica e como passei três belíssimos anos da minha vida na Base Aérea nº 2 – a Base da Ota - onde aterrei e descolei muitas centenas de vezes, acho-me com alguma autoridade para abordar o assunto e embora os tempos não sejam os mesmos, há questões imutáveis que me suscitam a maior das perplexidades.
Começo por falar no Monte Redondo, ou "Mamelão", uma colina bem elevada que se encontra a escassa distância, no enfiamento da pista 36, ou seja na direcção Norte-Sul. Como oiço falar em duas pistas paralelas, decerto serão neste sentido, já que é o que corresponde à direcção dos ventos dominantes. Neste caso, só haverá duas hipóteses: Ou deslocam estas pistas para nascente – para poente é impossível por causa da Serra de Meca – e estas ficariam assentes em terreno pantanoso e alagadiço, com necessidade de complexas fundações, ou pura e simplesmente desmantelam e aterram o " Mamelão", o que se me afigura uma tarefa hercúlea e de custos exorbitantes. Mesmo com as pistas desviadas para nascente, o dito "Mamelão" continuaria a ser sempre um sério entrave à operação comercial de aeronaves de grande porte.
Sendo os ventos dominantes de Norte, a maior parte das descolagens seriam feitas em direcção a uma verdadeira barreira montanhosa: A Serra de Montejunto, a Serra de Aire e a Serra dos Candeeiros. Não se podia escolher melhor terreno para o caso de uma falha de potência à descolagem, ou outro tipo de emergência grave!
Por fim, mas não menos importante, é o caso dos nevoeiros. Quem costuma andar pela A23 e A1 conhece muito bem a formação e persistência de nevoeiros cerrados naquela baixada, e embora os modernos equipamentos de ILS consigam trazer o aparelho até ao início da pista de forma automática e segura, não conheço um único piloto que prossiga na aterragem se a não conseguir ver o terreno à sua frente. Não poucas vezes tive de ir aterrar em Alverca ou a Monte Real por causa desses espessos nevoeiros nascidos nas bandas do Tejo.
Poderia continuar com aspectos de detalhe, mas são minudências técnicas que decerto pouco interessam às pessoas em geral, mas uma coisa posso afirmar sem grandes dúvidas: A Ota é dos lugares menos adequados que eu conheço para construir um Aeroporto Internacional, que além de só conseguir a sua eventual viabilidade através de taxas altíssimas que inviabilizarão em grande medida os voos " low cost", apresenta sérios problemas de segurança e de viabilidade construtiva.
Um projecto destes só pode ter saído de uma postura megalómana do actual Governo, apostado em deixar a sua marca na História através de uma grande obra de regime, na melhor das hipóteses, pois a pior seria conhecer em detalhe a propriedade dos terrenos, as contrapartidas dos investidores e todo o cortejo de sinais que costumam acompanhar o mundo nebuloso da corrupção (lembrem-se do Aeroporto de Macau).
Caspité! Não conseguiriam arranjar uma coisinha mais barata e com menos impacto negativo?
Pelos vistos não, pois na realidade não passam de uns Filhos da P…Ota!

Comentário:
Realmente é deplorável que os "encanudados" deste País acordem tão tarde para uma evidência que um mero leigo já tinha constatado em 2005.
Depois estranham que o Salazar ganhe concursos...

3 comentários:

Anónimo disse...

Caro João Saores, trago-lhe um comentário que colocaram num texto meu no Aromas...

Anónimo disse...
O SENHOR 1º MINISTRO MENTIU NAS ELEIÇÕES PORQUE ELE SABIA DE ANTEMAÕ O QUE IRIA FAZER CASO FOSSE ELEITO, E CONTINUA A MENTIR APOS 2 ANOS DE GOVERNAÇÃO E CONTINUARA A MENTIR NOS 2 ANOS QUE LHE FALTAM PORQUE ISSO ESTA NO SEU CARACTER. EU NÃO GOSTO DE ME PRONUNCIAR ACERCA DESTES FILHOS..... ELES NÃO MERECEM.
ABRAÇO.

victor simoes disse...

Na verdade o que era preciso é seriedade nesta coisa do aeroporto na OTA, parece-me que não existe e é um capricho do Governo, pois aínda não descobri as vantagens. Mais grave será provar-se que existem interesses corporativos e financeiros por trás!
É claro que os estudos do Governo não estão isentos e escondem muita coisa.
Mas a hipoteca do futuro quem a pagará, será o povo como o costume.

Um abraço

A. João Soares disse...

Caros Relvas e Victor,

Neste caso como em muitos outros, o que está errado é a forma como é preparada (ou não é) a decisão. Esta, em vez de surgir na sequência de um diagnóstico do problema e dos factores que o condicionam e da escolha isenta entre as possíveis soluções, aparece, pelo contrário, de um capricho que, depois, é forçadamente sustentado por estudos encomendados para esse efeito.
Para essa justificação violenta da decisão tomada, gastam-se rios de dinheiro a pagar a assessores e consultores oportunistas sem escrúpulos, que se prestam a essas iniquidades.
Há algum tempo em entrevista na TV o ministro da Presidência, Silva Pereira, perante um interventor que apoiava uma alegação em estudos, disse que isso de estudos valem o que valem! Pois é, o seu valor é sempre muito discutível sejam do Governo ou da oposição. Basta dar um coeficiente mais alto ao factor que interessa enfatizar. No caso da discussão entre a Ota e Rio Frio, o factor ambiente foi classificado com o coeficiente de 25%, muito acima dos aspectos técnicos das manobras de aterragem e descolagem e da construção em terrenos de cota baixa e sujeita a inundação, etc.
Um estudo que à partida tem uma finalidade imposta não é credível. Para o ser tem de partir apenas dos dados que se forem encontrando durante a análise sistemática e metódica.
Mas, depois de a obra estar lançada, só depois, hão-de aparecer estudos realistas para justificar os custos inesperadamente elevados para encarecer a obra e a operacionalidade do aeroporto. Quem paga? É o contribuinte, tal como aconteceu no Centro Cultural de Belém, na Expo 98 e nos estádios do futebol 2004.
Mas o povo nem se dá ao trabalho de pensar nisto, preocupando-se mais com ninharias que nada afectam o desenvolvimento do País.
Abraços
A. João Soares