sábado, 19 de maio de 2007

Estado com obesidade inútil?

Da leitura do artigo «Desemprego sobe para nível inédito», e deste e deste, fica a saber-se que o Instituto Nacional de Estatística (INE), contrariando uma série de outros indicadores económicos, apurou que a escalada do desemprego em Portugal não pára e que este flagelo atingiu no primeiro trimestre deste ano 8,4% da população que se encontra disponível para trabalhar, contra 8,2% no trimestre anterior. Segundo as suas estimativas, são 469,9 mil desempregados, mais 11 mil do que no trimestre anterior e mais 40 mil do que no mesmo período do ano passado. Seria preciso recuar a 1986 para encontrar níveis de desemprego semelhantes.

Desde 2000 até agora, a população que está disponível para trabalhar aumentou em 379 mil, enquanto o número de empregados subiu apenas em 115 mil. Resultado? A população desempregada disparou 128%, com mais 264 mil pessoas sem emprego. Foi precisamente isto que se passou nos primeiros três meses deste ano. Dos 49 mil novos "activos", apenas nove mil estão empregados, enquanto os restantes 40 mil se juntaram ao longo rol de desempregados que agora ascende a 469,9 mil. Alguns partidos consideram tratar-se de "uma catástrofe", que prova a "governação falhada" de Sócrates.

Os números revelados foram alvo de críticas e de incompreensão, pelo Governo que, desta forma, colocou em dúvida a credibilidade do INE. Vieira da Silva, ministro do Trabalho, disse à Lusa partilhar da preocupação geral com o desemprego, mas desfiou números "que mostram um sentido contrário". Perante esta e outras faltas de confiança neste organismo público, pergunta-se porque não o eliminam, contribuindo assim para a luta contra a obesidade inútil do Estado? Poupavam-se os custos do seu funcionamento e o desgaste nestas polémicas degradantes da imagem do Estado.

Igual estupefacção conduz à incompreensão da não eliminação do Tribunal de Contas que gerou controvérsia acerca do número de contratos de assessores do Governo, calculado com base em números apresentados por este, mas que este contestou lesando a boa reputação de um órgão que deve ser prestigiado. O mesmo se passou em relação ao serviço de informática do ministério da Justiça que se mostrou incapaz de gerir o «site» do ministério, o que obrigou o ministro a contratar os serviços da licenciada Susana Dutra para essa tarefa! Porque não se eliminam os serviços que são ineficazes? Que só lançam confusões? que criam dificuldades aos governantes?

Não estará longe a data em que os governantes matam o mensageiro de más notícias, e destroem os serviços que são rigorosos, substituindo-os por amadores «fiéis à voz do dono» recrutados de entre familiares, amigos e confrades dos paridos do Poder. E depois passaremos a ser elementos do terceiro mundo, sem qualquer subterfúgio, dúvida ou ilusão

Mas, a realidade parece ser outra, existindo obesidade verdadeiramente inútil e nefasta não nestes organismos, nas sim nas volumosas assessorias, caras ao erário e que apenas têm a vantagem da luta contra o desemprego de protegidos que, sem essa protecção de familiares, de amigos e dos partidos, se arriscariam a vegetar como derrotados persistentes no mercado de trabalho.

Leituras sobre o tema:
Desemprego sobe para nível inédito
Desemprego ao nível mais alto da década
Cenário melhora no Norte e Lisboa

7 comentários:

Meg disse...

É triste esta realidade...
Mais uma empresa que se prepara para despedir 50% dos seus trabalhadores...
O que vem aí?
Negros horizontes, meu amigo
Um abraço

Jorge P. Guedes disse...

A verdade é como o azeite...

um abraço

Maria Faia disse...

Caro Amigo,

Reproduzo aqui o comentário que deixei ao Ludovicus no Pasquim do Povo:
Todos nós continuamos preocupados com o aumento do desemprego.
No entanto, permite-me aqui uma pequena “achega” a esta taxa de desemprego a que se chegou.
O INE tem vindo, ao longo dos anos, a considerar e a incluir nas suas estatisticas dos Empregados, todas as pessoas, e são milhares por esse país fora, que se encontram integradas em programas ocupacionais do IEFP ou em estágios profissionais e/ou formação profissional. Este tem sido um erro continuado que, como é óbvio, mascarou sempre a verdadeira taxa de desemprego.
Ora, retirando estas pessoas do número de empregados, o resultado está à vista… o número de desempregados sobe. Mas, pelo menos assim, temos uma noção mais realista da situação.
Há que fomentar medidas de empregabilidade e de desnvolvimento económico que permitam eliminar o nosso desemprego e, muito importante, deixar o Estado de financiar empresas estrangeiras, sem garantias de permanência que, quando encontram condições de funcionamento mais baratas noutros países (sobretudo com maior exploração de mão de obra), abandonam Portugal e os portugueses que os encheram de dinheiro. E ficamos por isto mesmo????
Quanto a mim, deveriam ser obrigados a devolver ao estado os subsídios recebidos mas…

A. João Soares disse...

Caras Amigos e Amigo, Meg, Maria Faia e Jorge,
No texto, nem me referi ao problema do desemprego, mas apenas ao descrédito que os governantes lançam em serviços públicos que eles deviam ser os primeiros a respeitar e prestigiar.
Quanto ao desemprego, aceito que o Governo não pode fazer muito a não ser legislar de forma a incentivar a economia. E, para isso, o ensino é o primeiro factor importante. Sofro quando vejo à porta de uma fábrica fechada gente nova a lamentar ficar sem emprego e não saber fazer ais nada. Ora, se houver um ensino pragmático, as pessoas saem dele preparadas a raciocinar sobre qualquer tema com lógica e racionalidade e, portanto, aptas a facilmente aprenderem novas rotinas. Sobre este tema, referi no post «Novas oportunidades», http://joaobarbeita.blogspot.com/2007/05/novas-oportunidades.html, um caso ocorrido há poucos anos na América que merece ser meditado. As pessoas não podem ficar à espera que lhes levam a casa um novo emprego, com tarefas iguais às do anterior. Há que procurar subsistência nem a+que seja em tarefas para analfabetos, e procurar novas oportunidades mais remuneradoras.
Há dias contaram-me um caso chocante que se passa com uma menina que se licenciou há cinco anos e, como ainda não encontrou emprego compatível com o seu título de Dra., está desempregada a viver à custa dos pais e nem sequer ajuda estes na papelaria-tacabacaria que exploram.
Que futuro terá esta jovem tão pretensiosa e arrogante?
Isto é um sintoma da miséria da nossa sociedade actual que não soube assimilar os avanços tecnológicos e as liberdades recentemente adquiridas.
Bom fim de semana
Abraços

Anónimo disse...

queria só deixar aqui um testemunho que li noutro blog e sem mais palavras... "Eu e a minha mulher, ambos com licenciaturas e mestrados em Economia e Gestão, ficámos desempregados (fim de contratos a prazo), mas não contamos para as estatísticas. Não estamos inscritos no Centro de Emprego porque não temos direito a subsídio e corríamos o risco de ser chamados para varredores ou de sermos enviados para um curso de formação em "empreendorismo" ou outra treta qualquer. Mal por mal... Como nós devem estar mais uns milhares, para além dos 470 mil. Vamos procurando emprego por todos os meios ao nosso alcance e por nossa conta e risco. Adiámos a vinda do primeiro filho e, aos 30 anos, passamos pela vergonha de continuar a sacrificar os nossos pais. Não se vislumbra futuro nenhum neste país de cunhas, tráfico de influências e compadrio. Sentimo-nos marginalizados e escorraçados da nossa terra como imprestáveis. O estrangeiro está a tornar-se uma hipótese consistente. Ir e NUNCA MAIS voltar é o que apetece fazer!"

Uma Triste realidade...

A. João Soares disse...

Caro Ludovicus,
É realmente uma triste realidade nesta nossa sociedade. Por um lado há o preconceito de não querer fazer nada que esteja abaixo do nível desejado. Por outro lado, há a falta de preparação para vida prática por forma a criar-se uma actividade por conta própria com uns pares de colaboradores. Por fim, há a burocracia que dificulta a criação de uma empresa que permita às pessoas obter sustento para a família de forma honesta e digna e, ao mesmo tempo, contribuir para a produção nacional. Conheço vários exemplos lá fora que são o oposto disto.
Assim, para onde irá Portugal???. Nem o simplex nos ajuda!!!
Um abraço

Anónimo disse...

Há pelo menos 10 anos que alerto para isto.

A manipulação de dados e de informação é uma realidade.

Se contarmos os que recebem subsídio de inserção ficarão com uma relaidade mais correcta...

Eu escrevi há tempos um texto onde apontei estes números, mas logo disseram não estar correcto com os IEFP...
Também disse que chegariamos até ao final do ano/Janeiro de 2008 com 10%, veremos!

Abraço

MR