quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Caso Charrua encerrado por pressão popular

A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, afirmou perante os deputados que "houve uma conduta violadora do dever de correcção de linguagem, o que é perturbador do funcionamento dos serviços." Fernando Charrua fez um comentário sobre o primeiro-ministro nas instalações da Direcção Regional de Educação do Norte (DREN), onde estava requisitado, e que a DREN considerou insultuoso. E, segundo ela, "depois de ter havido um insulto, era necessário ter havido um processo".

Apesar desta clareza sobre a falta cometida, a ministra decidiu arquivar o processo contra o professor Charrua, justificando-se aos deputados que assim procedeu por se ter verificado a existência na sociedade portuguesa de "dúvidas" sobre se este configuraria um processo por delito de opinião. Afirmou que "se prescindiu da aplicação de uma sanção de forma bastante generosa", frisando que "não podem existir dúvidas na sociedade sobre o facto de que os processos disciplinares na Função Pública não podem servir como meio de educação dos funcionários em relação a expressões menos correctas".

Merece ser meditada esta justificação da governante, que nos ajuda a compreender muito do que tem acontecido no País, por insegurança dos governantes, ausência de informação suficiente sobre as situações em que devem decidir, falta de uma directriz claramente definida e de objectivos realistas e coerentes entre si e o receio de desagradar a correntes de opinião, nem sempre orientadas pelo verdadeiro interesse nacional. Este receio não é de agora, infelizmente. Fez-se o túnel de Belas na CREL, para salvar pegadas de dinossauro que não estão visitáveis e há dúvidas sobre o seu estado actual, comprou-se a pedreira do galinha para evitar a destruição de pegadas de dinossauro, que neste momento já não devem ser visíveis devido ao efeito do tempo, parou-se barragem de Foz Côa para preservar gravuras neolíticas que o podiam ser de outra forma sem evitar a construção da barragem, a barragem do Alqueva foi atrasada com elevação de custos para não contrariar opiniões que acabaram por contemporizar, o mesmo aconteceu com a auto-estrada para o Algarve. Mais recentemente, foram decididos fechos de escolas, de maternidades, de centros de saúde, de urgências, e posteriormente, devido a pressão popular, algumas das decisões recuaram.

O recuo é um sinal de fraqueza na preparação da decisão inicial. Caso extremamente chocante é o do apoio, quase convite ou incentivo ao aborto voluntário, ao mesmo tempo que estão a ser dados subsídios para aumentar a natalidade, a fim de fazer face ao envelhecimento da população, como se refere no post «A IVG como modo de vida
». Estas contradições evidenciam não haver objectivos bem definidos a orientar a governação. Os fracos de espírito não sabem o que querem e vão para onde os empurram, neste caso, ao sabor de pressões populares. Não se pode gastar recursos em sentidos opostos, porque, como diz a Dinâmica que se aprende na Física, duas forças iguais de sentido contrário anulam-se.

6 comentários:

Magno disse...

Com recuos e avanços uma coisa é verdade!
A cobrar impostos é que só se avança!
A aplicar o dinheiro desses impostos nas necessidades reais de Portugal, isso é um recuo digno de um país do terceiro mundo!

Amaral disse...

João Soares
Eis a prova provada (passe o pleonasmo) que houve um mau juízo e mau julgamento com a demissão do Dr. Charrua.
Assim, arquiva-se o caso e ponto final. Tudo fica como dantes no quartel de Abrantes...
Abraço

A. João Soares disse...

Caro Magno,
Se para gerir uma qualquer empresa de média ou grande dimensão se precisa de pessoas com formação específica, porque é que os políticos são uns ignorantes e têm que gerir o País?
Os assessores deviam ser destinados a suprir essas incapacidades dos ministros, mas para isso, deviam ser escolhidos em concurso público rigoroso. O que acontece é o contrário, destinam-se a dar emprego, ou melhor, ordenado aos amigos e filhos de amigos que sem esse «emprego» não teriam competência para a competição nas empresas privadas.
E, desta forma, o País continua a desgastar-se com uma gestão por tentativas e erros, mais erros do que acertos, na descida cada vez mais rápida de uma rampa sem fim.
Abraço

Jorge P. Guedes disse...

Meu caro A João Soares:

Tudo começa na cabeça do governo. O maior exemplo do atamancar e enrolar situações vem do chefe do governo, que começa por referir na assemblaia da República habilitações que não tinha na altura e que andou a ver como havia de sair da situação com um mínimo de danos políticos.
Tivessem essas situações ocorrido em outro país e este homem era já um morto político.

a partit daqui, tudo se faz para devolver a aparência de democrata a um conjunto de funcionários partidários que nos desgoverna.
O caso Charrua insere-se nessa política de tentar recuperar o que, para mim, é irrecuperável pois nunca existiu - o ideal democrático da actual clique no poder.
Charrua é um homem, apesar de tudo, do milieu. Concertou-se assim uma solução que deixa as duas partes desavindas aliviadas e cantando cada uma a sua vitória.
no fundo, os derrotados fomos nós, os que não pactuam com golpadas politiqueiras de baixo calibre.

um abraço.

A. João Soares disse...

Caro J.G.,
É uma como diz, um jogo de trapaceiros pisando selvaticamente a relva do estádio que somos nós, que pagamos impostos, famílias que estão com a corda na garganta devido à incapacidade de os políticos governarem para obter justiça social e melhores condições de vida para a generalidade dos eleitores.
Os políticos são uma espécie de gente a quem não se pode comprar um carro usado!
Gastam os nossos impostos em «brincadeiras» entre si, decidem sem perfeita consciência das consequências das suas loucuras e, depois, se o povo, embora mal esclarecido, refila, voltam atrás com a mesma facilidade, fazendo discursos de aparente cariz democrático. Vivem e brincam como crianças filhos de pais ricos, estoirando o fruto do trabalho dos portugueses. Isto é independente os partidos. Todos se entendem muito bem!
Abraço

Anónimo disse...

Natalidade e a Segurança Social

Dizem alguns que a fraca natalidade portuguesa põe em risco o futuro da Segurança Social por dificuldade de substituição da população activa, o que implicará uma redução das contribuições para a SS. Contesto a afirmação: a baixa natalidade acontece nos países desenvolvidos (Luxemburgo, França, Alemanha,...) há muitas dezenas de anos e essa teoria nunca se confirmou e, pelo contrário, são os países com a população mais jovem (países africanos em geral) em que a miséria é maior. Também há países cuja população é quase exclusivamente composta por imigrantes e seus descendentes: EUA, Canadá, Austrália... Também não estão entre os mais pobres.

Com a actual taxa de desemprego, em que não há empregos para os jovens que temos, porque será que acham que deveríamos ter mais? Se mais filhos tivessemos maior seria o número de desempregados. A eventual falta de mão de obra (qualificada ou não) pode ser e é facilmente suprida com a aceitação de imigrantes. Portugal sabe-o muito bem.

A reposição da força de trabalho com recurso aos nossos filhos, embora louvável, implica um investimento de vinte e tantos anos: entretanto, tanto os pais como o país terão que prestar-lhes cuidados vários: alimentação, vestuário, lazer, saúde, educação e formação profissional. Quanto aos trabalhadores imigrantes, esses custos foram suportados pelos seus pais e pelos países de origem, por isso, vêm aptos para, de imediato, começarem a trabalhar e a descontar para a Segurança Social. Só por isso, ficam mais económicos ao país de acolhimento. Aliás, não temos nós já cerca de um milhão de imigrantes? Se quisermos poderão vir ainda mais e não faltarão candidatos. Porém, a imigração para Portugal deveria ser feita de forma selectiva, de acordo com as nossas necessidades. Não há risco de falta de mão de obra, pois todos sabemos que há países com excesso de população e outros sem trabalho para a sua população.

Muitos dos imigrantes nem irão sequer esperar para beneficiarem dos descontos feitos para a SS, porque o seu objectivo é juntarem alguns milhares de “euros” e regressarem aos seus países de origem, trocá-los por moeda local e construírem aí então o seu sonho e futuro. Portugal como país de emigrantes sabe bem disso. Que fizeram muitos dos portugueses que há algumas décadas emigraram para a França e Alemanha?

Assim, levantar-se este problema apenas tem um sentido lógico: o de convencer os portugueses a prescindir das poucas ajudas da Sociais, aumentar a idade das reformas para que os trabalhadores morram antes das atingirem sem beneficiar dos descontos feitos. Enquanto se continua a impedir o acesso ao trabalho aos jovens fala-se em fraca natalidade???