quarta-feira, 22 de agosto de 2007

O chefe-líder

Na sequência do tema tratado em Democratas ou ditadores?, transcrevo este texto extraído do blog Filhos de um deus menor:

O chefe que eu concebo

"O chefe que eu concebo é o homem completo, homem de coração, de razão, de vontade, que ama, julga e comanda" (Antoine Redier).
Onde é que há chefes assim?

Infelizmente a ânsia do poder nas sociedades de hoje não nos deixa chefes "concebidos" por "Antoine Redier".

Hoje encontram-se, isso sim, chefes neuróticos, com elevado sentido de desumanidade. Estes chefes neuróticos, quanto mais tolhidos se sentirem pelas suas inibições, tanto menos serão capazes de se impor. A verdade é que a ânsia do poder serve-lhes de protecção contra o risco de se sentirem ou serem considerados insignificantes, forjando assim uma ideia rígida e irracional do poder que lhes foi conferido por decreto - que os leva a convencerem-se de serem capazes de superar qualquer situação, dominando-a imediatamente por mais difícil que se apresente.

Estes chefes classificam os seus superiores, iguais ou inferiores hierárquicos em dois grupos; os «fortes» e os «fracos», admirando os primeiros e desprezando os segundos. Vão também ao extremo naquilo que consideram fraqueza. Sentem maior ou menor desprezo pelas pessoas que concordam consigo ou cedem aos seus desejos e por aqueles que mostram inibições ou não dominam as suas emoções por forma a manter sempre uma expressão impassível. Mas menosprezam igualmente essas qualidades em si mesmo, ao sentirem-se humilhados quando são forçados a reconhecer os seus «fantasmas» ou as suas inibições.

Tendem a julgar que têm sempre razão, e facilmente se irritam, ainda que em pormenores ínfimos, se lhes provarem que estão errados. Hão-de saber tudo melhor do que ninguém, atitude que, por vezes, se manifesta extremamente antipática.

Outra faceta característica do perfil deste tipo de chefes reside na exigência de tudo ser feito segundo a sua vontade. Tal exigência é susceptível de constituir fonte de incessante irritação se os que dependem de si não cumprem exactamente o que deles espera ou se o não fazem no preciso momento em que lhes é ordenado.

Uma das mais vulgares atitudes que integra este perfil de chefe reside na recusa a cedências. Têm dificuldade em estar de acordo com uma opinião de nutrem ou aceitar um conselho, ainda que seja considerado acertado, e a simples ideia de assim proceder desencadeia a rebelião. Os chefes em que prevalece esta atitude tendem a reagir contra tudo e, por estrito medo de ceder, assumem a posição inversa.

Mas o mais grave reside no facto de este tipo de chefes nem sempre terem verdadeira consciência das suas atitudes autoritárias ou, pelo menos, da sua importância. Não lhes convém reconhecê-las ou modificá-las, pois estas - atitudes autoritárias - desempenham para eles notáveis funções protectoras. Tão pouco os outros devem verificá-las: correriam o risco de, nessas circunstâncias, ficarem a dar ordens no deserto ou sozinhos na "parada". Deixando assim em crise as suas necessidades prementes de impressionarem, serem admirados e respeitados. Em crise também ficariam os seus desejos de deslumbrar os outros pela sua suposta inteligência e os seus notáveis dotes de comando.

Se considerarmos que muitas carreiras/nomeações profissionais ficam dependentes das informações de mérito dadas por chefes com tal perfil, facilmente se compreende que é necessário uma reflexão sobre muitos aspectos da actual realidade social/laboral.
«Comandar não é somente fazer-se obedecer, é acima de tudo exercer uma autoridade moral da ordem mais elevada» (Les Forces Morales, publ. Of. do M. G. da França)
Postado por Paulo Sempre

6 comentários:

Anónimo disse...

Comandar é dar o exemplo. É unir, vencer. É mandar em conjunto com...
De nada servem postos ou galões, se as pessoas são uns insipientes seres. Uns cagarolas que, apenas querem ostentação.

Comandar é ir à frente, incentivando os seus subordinados pelo exemplo e pela camaradagem. É exigir o que também pratica.

É sobretudo uma peça auxiliar para os comandados, que verão nele o seu CHEFE e não um manga de alpaca -yes man, em quem ninguém pode confiar.

É pelo exemplo que se pode chamar a atenção, se preciso for, punir!

Um belo tema.

Convido-o a ler o post "Polícia envelhe" no aromas!

Abraço ao Paulo e a si caro AJS

A. João Soares disse...

Obrigado pela opinião. O condutor de homens pode não ter de dar o exemplo, mas isso não dispensa a compreensão, até amor, aos colaboradores e a manutenção de clima de confiança incondicional. Um chefe pode ter sob a sua direcção especialistas variados de cujas funções ele pode nada saber, mas tem de saber conversar com eles sobre o efeito, o objectivo das suas actividades, mas deixa a eles os pormenores da forma como vão agir. Em altos escalões um chefe tem necessidade de se socorrer do apoio de uma equipa de staff, com especialistas variados que o apoiam na chefia de aspectos que ele não pode dominar inteiramente. Não podemos confundir um chefe de escalão de nível elevado, com um chefe de equipa, ou de patrulha.
Um abraço
A. João Soares

Anónimo disse...

Caro João Soares, permita-me discordar, quando diz que um chefe pode não dar o exemplo. Em qualquer hierarquia um chefe tem que dar o exemplo. Caso contrário está a mais.

O exemplo pode não ser físico ou guerreiro, pode ser apenas um exemplo de homem, de dignidade, na maneira como farda, ou veste,pelo interesse na matéria que comanda e nos seus homens. O seu staff deve ser um espelho dele, deve ser olhado como uma equipa e caro amigo, será sempre o responsável pelo que de bom ou de mau, se passe nas suas barbas, caso contrário, será apenas um cabide de farda!Um daqeles mangas de alpaca!!

Seja um Comandante-chefe,um Comandante de Regimento, um comandante de esquadra, de secção, ou de equipa/carro-patrulha.

Um chefe vai ao local mais perigoso, tenta acompanhar in loco, mesmo à distância, ou depois da operação.
Demonstra que não é apenas o "bicho de gabinete" que não comunica com os "inferiores"... isso é mau e dará resultados inversos.

Todos os postos são respeitáveis, depende como o servimos, como desempenhamos as nossas funções, ou se nos julgamos deuses, por causa de uma bichas mal amanhadas em cima.

Um oficial, um chefe de secção, dá o exemplo no horário, procura manter-se informado e não ser o último a saber das coisas, quando até nem tem interesse em as saber.

Digo-lhe que ainda há dias, um fechou a porta do seu gabinete e, uma "funcionária" desligou o pequeno rádio de bolso, por pensar que estava a fazer barulho, mas não é que o barulho continuou?...Sim era o tal "chefe de secção" que nada percebe de nada, depois de ter discutido coms as pessoas que comanda, porque o "comandante" lhe havia feito uma pergunta e não soube responder, porque nem se interessa pelo serviço...DORMIA a ressonar no seu gabinete de porta fechada, em plena hora de expediente -Um "estrelado" -não era um chefe de equipa que andava bem acordado em missão na rua!!!!!!

Sem mais, um abraço caro AJS

A. João Soares disse...

Caro Mário Relvas,
Obrigado por mais estas reflexões judiciosas e sensatas.
Não há aqui qualquer discordância. O chefe em qualquer organização tem que merecer a confiança e o respeito dos seus colaboradores, para o que tem de ser uma pessoa digna e competente com elevada formação moral e técnica e não pode ser ignorante do que se passa na sua instituição. Deve «saber falar com o seu pessoal» em qualquer assunto do seu serviço. Não pode é esperar-se que um Director de um hospital, não sendo médico, dê o «exemplo» de fazer um qualquer acto clínico em qualquer especialidade. No mundo altamente especializado dos tempos modernos, não pode esperar-se que um chefe seja enciclopédico. O director de uma fábrica não é obrigado a dar o exemplo ao operário de como se trabalha com uma ferramenta moderna altamente especializada. Para isso tem os quadros da empresa e esses devem ser apoiados para que o próprio sector seja eficiente. Um general não pode «ir à frente» de um pelotão de jovens guerreiros e ser melhor que que eles que estão no vigor da idade.
A avaliação do desempenho de cada um depende do conjunto de tarefas que competem à sua função e, nas suas, o chefe deve ser um exemplo de excelência. É por isso que deve ser avaliado.

Anónimo disse...

Afirmativo caro AJS!

Abraço

A. João Soares disse...

Eu pensava que íamos aqui ter MAIS COMENTADORES a falarem da sua experiência com os chefes ou como chefes.
Afinal do que «é que o meu povo gosta????!!!!»
Colocar um post é como jogar na lotaria. Nunca se sabe onde é que surge a polémica!!!!!
Mas, está certo. É preciso ter cuidado com as referências ao chefe, mesmo que apenas teoricamente!!!
Abraço