O bloguista «Mentiroso» deve estar muito pesaroso por, depois do seu alerta no blog Mentira a favor de uma condução segura na férias, ter de enfrentar a estupidez e insensatez dos condutores que originam as notícias trágicas de acidentes.
As mais recentes dizem que os acidentes de viação nas estradas de Portugal continental provocaram 14 mortos, 54 feridos graves e 702 feridos ligeiros na semana passada, segundo dados revelados esta terça-feira pela Direcção-Geral de Viação (DGV).
A PSP registou 13 mortos, 40 feridos graves e 500 feridos leves.
A GNR, contabilizou um morto, 14 feridos graves e 202 feridos ligeiros.
Esta foi uma semana atípica, uma vez que a GNR costuma registar maior número de vítimas.
Desde o início do ano, os acidentes de viação provocaram 551 mortos, tantos como em igual período do ano passado. O número de feridos graves e ligeiros registaram quebras de 311 e 876, para 2.070 e 28.167, respectivamente.
Podem cobrir a cara de vergonha os governantes e os legisladores que há décadas, a pretexto de acabar com esta tragédia, têm feito sucessivas alterações ao Código das Estradas, como se a causa e o remédio desta desgraça que enluta tantas famílias, por vezes em momentos festivos que era esperado serem de felicidade, estivesse na legislação e no valor de multas e cóimas, numa atitude sadicamente restritiva e repressiva.
Ninguém lê o código, nem ele é acessível à maioria da população. Talvez valesse a pena os responsáveis procurarem pensar analisar outros factores da tragédia, como a sinalização irreal das estradas, que serve mais para enganar e fazer caça à multa do que para ajudar a segurança dos utentes e olhar para a forma mais eficaz de suprir a ignorância, insensatez e falta de civismo dos condutores, através de um policiamento mais frequente e rigoroso. A eficácia do policiamento passa fundamentalmente pelas atitudes posteriores dos tribunais que não punem de forma «educativa» os homicidas por negligência que abundam nas estradas. A acção conjunta do sistema polícia-tribunal tem que ser rápida e eficiente quanto a resultados dissuasores a longo prazo.
Quanto a sinalização, já aqui dissemos que sinais incoerentes e exageradamente restritivos são convite a ser desrespeitados eles e todos os outros. Mas, se um dia surgir um sinal verdadeiro, haverá aí acidentes porque o condutor, ao ver 30 pensa, baseado na experiência, que pode circular a 60 ou mais e despista-se. Quem coloca os sinais deve ter maior sentido das responsabilidades. Já aqui referi a existência de um de 30 num troço que pode ser percorrido a 70 sem qualquer perigo.
Pensamento da semana
Há 2 horas
7 comentários:
Desculpe lá, meu caro amigo João Soares mas, já que volta ao caso da limitação dos 30Km. onde acredita que poderiam ser 70, tenho a fazer um reparo.
Andei muitos anos por esse mundo fora e verifiquei que não é só em Portugal que tal acontece. A única diferença que noto é nas mentalidades e comportamentos. Enquanto que aqui todos se acham suficientemente peritos na matéria para criticarem as regras e seguirem caminho ignorando os sinais, lá fora limitam-se quase sempre a cumprir a Lei.
Em Portugal, a dar ouvidos às frequentes críticas sobre o código da estrada e sua aplicação, teremos de concluir que, dentre dez mihhões de peritos na matéria, os governantes escolheram a dedo aquela meia dúzia que nada percebem da dita...
Meu caro Vouga,
É um assunto muito complexo em que é fácil ter sempre razão num ou noutro ponto. A falta de civismo é geralmente apontada como a principal causa. Mas demora a aquisição dessa virtude. E, entretanto, vão morrendo mais pessoas e muitas são inocentes.
Não se resolve com multas mais caras, mas sim pela maior probabilidade de o infractor ser multado, isto é mais intensa fiscalização e mais rápida aplicação da sentença.
Não jogo na lotaria porque a probabilidade de me sair a taluda é mínima. O infractor não cumpre as normas porque a probabilidade de ser por isso punido é mínima, de maneira que arrisca e continua a fazer do código letra morta. E pensa, «se for apanhado, não pago, demoro muito a ser chamado a tribunal, o juiz pode considerar que as provas não são suficientes para me condenar e, mesmo que me tire a carta, continuarei a conduzir porque há pequena probabilidade de ser apanhado, se não tiver acidentes». Há dias foi apanhada «uma senhora que conduzia sem carta há 36 anos!!!
Há muitos carros a circular sem seguro apesar de ter de se afixar no pára-brisas o talão do seguro!!!
Logo, para evitar tanta morte, é preciso uma actuação mais frequente das polícias, até que o civismo entre nas cabeças das pessoas.
Os responsáveis do topo devem actuar no sentido de que as leis são para cumprir por todos, mesmo por eles.
Um abraço
João
Realmente os números são dramáticos e assustadores. Lamenta-se que este ano as coisas tenham regredido.
As estradas vão sendo melhoradas, mas os acidentes acontecem. É realmente uma questão de mentalidade.
Muitas vezes os portugueses reparam que nem todos "comem pela mesma bitola" e então vai daí toca a abrir...
Abraço
Caro Amaral,
Refere-se às melhores estradas. É nessas que ocorrem os maiores acidentes. Há muita gente que se orgulha de atingir grandes velocidades, mas isso é apenas virtude da potência do motor e não da perícia do condutor. O bom condutor é aquele que vai e regressa, sem problemas de segurança, com comodidade para os passageiros e com economia da mecânica do carro.
Quando um incapaz resolve acelerar, fica à mercê da primeira dificuldade para se despistar e causar os estragos conhecidos.
Compare-se a viagem Lisboa-Porto com um grande prémio de Fórmula 1: O piloto não vai sempre a alta velocidade, regula-a conforma as circunstâncias, para na boxe duas ou três vezes onde se reabastece e recebe o necessário apoio mecânico e vai sempre em ligação por rádio com os técnicos da boxe.
Cá pelo rectângulo, há uns Fitipaldis que só sabem acelerar e, quando as coisas se turvem, despistam-se, batem de frente, capotam, etc.
Somos uns desgraçados, nisto como em muitas outras coisas!!!
Um abraço
Caro João Soares e comentadores,
o mal começa na falha da educação dada pelos pais em pequeninos. Continua na falta de rigor na educação escolar.
Continua e acentua-se no próprio ensino ultrapassado e facilitista das escolas de condução.
Persiste quando todos se insurgem contra a fiscalização das autoridades, que apesar de tudo é fraca!
Abraço
Como complemento escrevi um post no Aromas de Portugal!
Convido-o a comentar e em especial o anterior "Conversa entre dois camaradas", pois tenho lá um apelo em comentário, vindo de um camarada que está no Brasil, em que o amigo AJS poderá ser útil!
saudações amigas
Caro Relvas,
A falta de civismo tem mesmo esse perfil que descreve quanto às causas.
Mas enquanto o civismo não entrar no nosso menu, é indispensável defender a segurança das pessoas de bem, usando de eficiente repressão daqueles que colocam em perigo vidas alheias.
Um abraço
AJS
Enviar um comentário