segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Seria preferível a bússola ao catavento

O primeiro-ministro, José Sócrates, anunciou ontem, na Guarda, o aumento de benefícios fiscais para as empresas já instaladas ou a criar no interior do País.

O primeiro-ministro lembrou que "neste momento os benefícios fiscais para as actividades económicas no interior do País são de cinco por cento para as empresas que já existem. Vamos aumentá-las para o dobro e serão, neste Orçamento de Estado (OE), de dez por cento. Os benefícios fiscais para as novas empresas, que neste momento são de dez por cento, vamos aumentá-las para quinze por cento".

José Sócrates justificou esta medida, a integrar no próximo OE, com a necessidade de uma "discriminação positiva a favor do interior do País, para que aqui se localizem actividades económicas, para que atraia emprego industrial e para que o interior do País possa oferecer aos seus cidadãos as mesmas condições de oportunidade que oferece todo o País". Sócrates disse mesmo que "um Estado justo pode e deve fazer mais" pelo interior. E acrescentou «se há alguma coisa que é possível e desejável fazer em Portugal é contribuir para a valorização do espírito empreendedor. É o que estamos a fazer".

A Guarda foi bem escolhida para o anúncio desta medida porque se trata de um município que vive em suspenso devido ao anunciado despedimento de cerca de 700 trabalhadores da Delphi e às poucas alternativas de emprego.

Estas palavras são muito agradáveis de ouvir e a intenção que encerram é muito louvável, mas isto faz lembrar um cata-vento com a seta a mudar de rumo a cada momento, e seria mais desejável, mais tranquilizante e inspirador da necessária confiança, que fôssemos guiados por uma bússola cuja agulha nos indica sempre o Norte, com coerência e lógica. Com efeito, pergunta-se como actuar «para que o interior do País possa oferecer aos seus cidadãos as mesmas condições de oportunidade que oferece todo o País», se tem sido feito tudo para dificultar a vida aos cidadãos ali residentes fechando maternidades, centros de saúde, urgências, escolas, tribunais, conservadoras notariais, prediais, etc.? Quantos bebés têm nascido em ambulâncias a caminho de maternidades distantes por ter sido encerrada a que estava mais próxima?

É mais uma contradição deste Governo do género das muitas aqui referidas noutros posts em que se tornam evidentes os avanços em zigue-zague, com avanços e recuos, sem rumo definido, sem bússola, em que as palavras de hoje não condizem com as decisões já tomadas e, provavelmente, não serão concordantes com medidas concretas que continuarão a surgir dos vários ministérios.

Artigos hoje publicados sobre este assunto:
Benefícios fiscais sobem para empresas do interior
José Sócrates promete mais apoios às empresas do Interior

3 comentários:

Anónimo disse...

Uma medida que já peca por muito tardia, mas esperemos que surta algum efeito.

Abraço caro AJS

A. João Soares disse...

Caro Mário Relvas,
Todos desejamos que surta efeito. Ma isso apenas acontecerá se houver um conjunto coerente de medidas que atraia empresários e trabalhadores bem preparados. Nessas medidas deve ser incluído o recuo da decisões tomadas pelos ministros da saúde da educação e da justiça, que têm afastado as pessoas ainda válidas. Muitas aldeias estão totalmente desertas e outras têm apenas um ou dois idosos que estão à espera de ali morrer onde sempre viveram.
Confesso que não tenho esperança de surgir esse conjunto coerente de medidas para atrair pessoas para interior.
Um abraço

A. João Soares disse...

Sugiro a leitura do post Ambulâncias em risco de ruptura que apresenta uma consequência da polémica decisão do ministro da Saúde de fechar maternidades e urgências, sem ponderar as consequências.