Os jornais de hoje mostram haver opiniões contraditórias quanto à conveniência ou não da realização de um referendo sobre o novo tratado da UE. Conviria que as pessoas com voz audível no assunto nos esclarecessem sobre o significado real do tratado e do referendo. O significado teórico deste é conhecido e aproxima-nos da Democracia directa, mas a realidade é frontalmente oposta.
Recordemos o que se passou com o referendo sobre a IVG. Os políticos disseram que, por ser um problema de grande sensibilidade, não o decidiam na AR e deixavam a decisão ao povo para exprimir os seus conhecimentos, experiências e sentimentos. Parecia uma posição séria, honesta, democrática. Mas não passou de um logro, porque esses mesmos partidos saltaram para a rua e fizeram uma campanha tão intensa que constituiu uma terrível pressão nas consciências dos eleitores para votar SIM ou NÃO conforme eles (políticos) queriam. O resultado correspondeu à vontade dos partidos e à «festa» da campanha, pesada para os dinheiros públicos, e que nada trouxe melhor do que se a decisão saísse da AR, pelo voto dos deputados.
Apesar dessa autêntica lavagem de cérebros e de violação das consciências, acabou por haver muitas abstenções porque as pessoas mais desconfiadas em relação aos políticos não quiseram fazer o jogo de uns ou de outros e ousaram recusar as pressões que os estavam a empurrar. Essa falta de confiança nos políticos tem sido notada em muitas eleições. Os políticos deixaram de representar a vontade dos eleitores e estes respondem com a abstenção ou votando em independentes, que embora sejam do mesmo naipe, não estão a jogar pelo partido. É uma atitude do povo, que não é tão burro como os políticos pensam.
Quanto ao referendo sobre a UE, se tiver lugar, será conveniente levá-lo a sério, com os partidos a manterem-se silenciosos deixando o povo ser espontâneo e sincero. Só assim terá significado. Mas há quem alegue que o povo não está esclarecido ao ponto de poder emitir um voto consciente e fundamentado. Nesse caso evite-se o referendo e toda a festa de campanhas demagógicas que apenas servem para gastar recursos vários e para treinar os «boys» e «girls» que iniciam o estágio para a carreira política de assessores, vereadores, deputados, e por aí acima, à imagem dos seus parentes e amigos da oligarquia reinante.
O jornalista Manuel António Pina, no Jornal de Notícias, refere «o argumento de Vital Moreira, porta-voz oficioso do Governo, contra o referendo: o Tratado é complicado de mais para a mente simples do "cidadão comum", se o "cidadão comum" tentar lê-lo não passa da segunda página. Acha Vital Moreira que os "cidadãos incomuns" que se sentam na AR lerão o Tratado de fio e pavio e só o votarão depois de o compreenderem. Ora só quem não conhece o espírito crítico e a independência e craveira intelectuais que vão pela AR é que não lhe dará razão.»
Quererá dizer que, com referendo ou sem ele, o tratado da UE será aprovado de cruz. Os vindouros arcarão com as boas ou más consequências deste novo tratado que agora foi congeminado pelos génios da Europa que não serão muito melhores do que a amostra que temos em casa!
Momento cultural
Há 2 horas
9 comentários:
Este Tratado, como muitos outros, são como a Teologia. Está baseado em dogmas (pressupostos) e é só para uma minoria "esclarecida" entender. É triste. Mas, como as medalhas, há um reverso: tal como Carlyle, eu também "não acredito na sabedoria colectiva da ignorância individual".
Por mais nomes que se dê aos regimes políticos, o Poder é sempre exercido por uma minoria muito reduzida que, em geral, abusa os seus cargos. A arraia miúda paga e nem refila. E, se refilar, sujeita-se à ira dos poderosos que, em palavras, dizem defender a liberdade de expressão.
Um abraço
João
Essas desculpas de que o tratado é complicado para o comum dos mortais...
Afinal, eles têm medo de quê? Porque não promovem um debate público e depois se o povo assim quiser fazem um referendo?
As promessas eleitorais são só para ganhar votos? Não se cumprem?
Abraço
Caro Amaral
Não leve a mal a minha irreverência, mas não sei bem ao certo o que é isso de um debate público. Ou será que para haver um debate público não é necessário o tal público? Ou será um debate a que o público pode assistir pela TV?
Caro De Profundis,
O amigo nunca deixa a sua perspicácia na gaveta! Este tema é, realmente, muito complexo e a nossa ignorância é muito «abrangente». Há pouco, dizia-me um amigo que as pessoas da terra dele não fazem a mínima ideia do que é a UE e o novo tratado. Respondi-lhe que a quase totalidade dos portugueses como ele e eu, também não sabem, em consciência, se é melhor votar a favor ou contra. Haverá muita coisa que não levanta dúvidas mas há outras que impõem, não apenas um debate público mas um curso de direito e de política internacional que não está nas perspectivas da maior parte dos portugueses.
Se houver referendo, as pessoas votarão da forma que os seus partidos lhes aconselharem, como ovelhas dóceis.
Abraço
Caro A. João Soares;
Venho dos caminhos da 'blogosfera' e foi um prazer ter passado por cá.
Permite um abraço? :)
I.
Isabel Magalhães,
Obrigado pelas palavras simpáticas. Volte e explique-nos se concorda ou não com o referendo. Vota sim ou não?
O mal é que se houver referendo as pessoas votam inocentemente onde os políticos as mandam, como aconteceu no da IVG. Para isso, não era preciso gastar dinheiro com a campanha e o referendo, nem fazer a palhaçada dos jovens candidatos à «carreira» política».
O povo não se importa nada com isso, e vai em grande maioria abster-se.
Abraço
Caro AJS,
não entendo os critérios...Houve um referendo sobre o aborto?
Porque os tratados não devem ser recenceados?
Porque não explicam os tratados ao zé pagode?
Os cozinhados são feitos entre os iluminados...
Porque será? Aconselho o zé pagode a tentar saber mais sobre o tratado. O que o governo coloca à disposição para informar?
Critérios...
E sobre a possibilidade de a abstenção ser grande, a causa é que o zé pagode está transformado em zé bombo da festa e já não tem pachorra para o que lhes prometem.
Procuram é um país de acolhimento!
Abraço
Caro Mário Relvas,
Boas perguntas. Cada uma dá espaço para muita reflexão. O «pagode», em geral, nada sabe de nada, porque o ensino nada ensina, nada estimula para as pessoas procurarem ter dúvidas e buscarem esclarecimentos.
Os iluminados da «classe» política, aqueles que nunca mostraram saber fazer algo de útil na vida económica nacional, que têm de recuar em posições tomadas porque não souberam preparar essas posições com estudos realistas da situação e das finalidades pretendidas, que se rodeiam de assessores só para dar ordenado mensal aos filhotes dos, membros da oligarquia, que nada contribuem para uma maior eficácia e rigor da acção governativa, esse governantes consideram-se senhores absolutos da quinta lusitana com poder para fazerem as asneiras que lhes vêm à gana.
Mas, dados estas realidades, o referendo só serve para esses «poderosos» fazerem valer as suas teses, impondo-as ao «pagode» na campanha, e sacudindo a água do capote porque o povo votou!!!
Entretanto a campanha «de esclarecimento» serve de treino, de estágio, para os jovens candidatos a políticos que mais tarde irão ser «iluminados» ministros, como os actuais.
Caro Relvas, cada tema conduz a um maior esclarecimento do sistema doentio em que a nossa política sobrevive... porque o povo consente.
Um abraço
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