quinta-feira, 11 de outubro de 2007

A saúde do ministro da Saúde?

O ministro da saúde foi ontem ao Departamento de Psiquiatria do hospital de S. Teotónio, em Viseu, comemorar o Dia Mundial a Saúde Mental, tendo escolhido esta Instituição por os seus técnicos estarem a fazer um trabalho exemplar no apoio domiciliário aos doentes desta especialidade.

Encontrando-se entre o pessoal daquele Departamento, o ministro declarou, no seu habitual tom convincente que «a doença mental está no meio de nós». Os técnicos olhando entre si e para o ministro evidenciaram a sua concordância!

Certamente, o ministro não quis, na sua região natal, referir-se ao facto de estar ali «no meio» daqueles técnicos, mas há coincidências terríveis. No mesmo dia, quando em Cascais, os doentes e médicos de Oncologia se manifestavam contra a retirada desta valência do novo hospital distrital, o presidente da Câmara afirmou que considera «bastante confusa a postura do Ministério da Saúde sobre esse assunto».

Na actividade de estudo e análise da informação, quando dois indícios técnicos são concordantes, merecem ser tidos na devida consideração e não ser negligenciados nem desprezados. É certo que o ministro já disse que preza a sua saúde e não a coloca nas mãos de um qualquer SAP, mas sim ao cuidado de boas clínicas privadas. Esse cuidado muito judicioso deixa-nos menos preocupados. Mas aqueles indícios fazem pensar... Já há tempos houve louváveis recuos das decisões de fechar algumas maternidades e urgências e alguns centros de saúde, por ter sido considerado, perante as manifestações de desagrado de populações e autarquias, que tinham sido erradas, por deficiente estudo prévio.

Desejamos que o senhor ministro da Saúde, tal como os restantes, gozem de boa saúde, por forma a tomarem as mais adequadas decisões para bem da população do País.

12 comentários:

Henrik disse...

Honestamente, duvido...e é uma pena para todos nós. Sou claramente céptico quanto à política, não sei se por a ter estudado ou por outra razão qualquer. Mas, em rigor, julgo que falta muita seriedade na política. E de que seriedade falo eu? a política é manifestação clara de que a cooperação humana tem qualidades mas também defeitos. Não somos tão cooperantes quanto isso. Nesta questão prática julgo ser manifesto que o diálogo do ministro não se ajusta com as contradições das suas acções, é por isso que me mantenho céptico...

A. João Soares disse...

Caro Henrik,
Este post é irónico, enfatizando um trocadilho e juntando-lhe facto reais, mas suscita meditações sobre a realidade política do País.

Gosto de separar Política com maiúscula de política com minúscula. A primeira é uma actividade superior, a ciência e arte de governar um povo. A segunda é um jogo táctico de manobras de interesses e negócios, uma competição à busca do exercício do poder e da manutenção deste, logo que adquirido. Desde as falsas promessas, às mentiras, aos ataques baixos aos adversários, à propaganda ofensiva à inteligência do povo, tudo é válido. O povo para os políticos é como a relva dos estádios para os jogadores, que procuram vencer sem pensarem no sofrimento que causam ao relvado.

A busca dos interesses pessoais fica bem materializada em qualquer lista das colocações actuais dos ex-governantes. Os administradores de empresas não se inibem de dar emprego (isto é, salário garantido) aos ex-políticos, seus familiares e amigos, que lhes fizeram favores quando detinham o poder. E o povo vive anestesiado com a propaganda e até dá mais votos aos candidatos independentes do que aos dos partidos (casos da autárquicas de Oeiras, Gondomar, Felgueiras, Lisboa).

O seu cepticismo é comungado por muito boa gente, por uma ou outra razão. Mas, como não gosto de criticar sem sugerir uma pista positiva, neste momento, limito-me a pedir uma ajuda para se encontrar a solução. Não é fácil porque os políticos saem do povo e, neste, as virtudes não abundam, pelo que os políticos acabam por ampliar com muita visibilidade os defeitos dos portugueses. Mas uma coisa é possível. Pôr em prática as virtualidades da Democracia, acabando com nomeações devidas a critérios de confiança política e passar a fazer fazer concursos públicos com vista a mais competência e maior responsabilização pelo desempenho.
Para não desesperarmos, temos que ser um pouco utópicos e ingénuos!!!
Um abraço

Henrik disse...

Sem dúvida! O meu cepticismo, entenda-se, não me inibe ao agir. O que pretendo é afirmar a necessidade, precisamente, de uma reformulação do estado actual da política - com ou sem P maiúsculo, se se quer reformar e/ou renovar tem que «varrer» toda a política -, o que exige é válido, útil, e necessário, falta saber quando irão os devidos responsáveis tomar as acções necessárias, de uma vez por todas, porque de utopias estamos nós todos carregados (atenção eu incluo-me nessa colecção) e algo exaustos. Abraço.

A. João Soares disse...

Henrik,
Concordo piamente que o seu cepticismo não o inibe de agir, o que fica evidente nas suas intervenções nestes espaços virtuais.
Da minha geração já não se pode esperar muito mais do que «palavras», mas estas são necessárias para alertar os mais jovens para o problema e a necessidade de se prepararem para intervir activamente para «reformular o estado actual da política». A sua geração tem às costas a pesada responsabilidade de dar a volta a isto, mas com o cuidado de não repetir os erros de bruscas mudanças anteriores que, por mal executadas, deram acidente. Tal como no automobilismo, as guinadas bruscas são desaconselhadas.
Dos actuais políticos, começando pelas juventudes partidárias nada de bom se pode esperar para uma sã mudança, porque já estão viciados na táctica de defender os privilégios pessoais, à frente do interesse nacional. Mas nada pode ser feito contra eles por terem o poder. Para evitar o indesejado banho de sangue será conveniente tentar mentalizá-los para purificarem os seus ideais. Como fazê-lo? É preciso tentar.
Um abraço

Anónimo disse...

«a doença mental está no meio de nós»

Caro João Soares
Penso que o ministro se estava a referir a ele próprio.

A. João Soares disse...

Caro De Profundis,
Os nossos governantes falam tanto e dizem tantas «inverdades» que têm de ser cuidadosos naquilo que dizem, o que lhes causa tal tensão que, por vezes, lhes foge a língua para a verdade. Tem acontecido com vários. Sem querer, fazem confissões!!!
Abraço

Amaral disse...

João
Já diz o povo "Quem diz a verdade, não merece castigo".
Palavras para quê?
Bom fim-de-semana
Abraço

A. João Soares disse...

Caro Amaral,
Seria bom que Deus lhe iluminasse os neurónios e os colocasse ao serviço da saúde dos portugueses, a sério, sem falácias. Se ele estiver um mês sem fazer asneiras talvez isso seja considerado milagre dos dois pastorinhos e sirva para a sua canonização! Que seja feito o milagre!!!
Bom fim de semana, e um abraço

Anónimo disse...

"A doença mental está no meio de nós". Uma verdade de La Palisse que só os mais DM não poderão reconhecer.
Não estou a fazer uma avaliação à parte política do ministro, mas à frase isolada do contexto que o amigo A. João Soares muito polidamente se refere.
Efectivamente a DM é um mal cada vez maior em Portugal, onde se prescrevem antidepressivos a torto e direito tornando efectivamente as pessoas dependentes e com a sua rota em direcção à DM.

A completa alteração de modos de trabalho, o desemprego e outros fenómenos sociais levam a um incremento das DM.

Por isso a DM -doença mental está efectivamente no meio de nós. É preciso admiti-lo com responsabilidade e rever o método de combate ou de prevenção!

Abraço caro AJS

A. João Soares disse...

Caro Mário Relvas,
Realmente o amigo está a ser 'politicamente correcto' quando diz
»Não estou a fazer uma avaliação à parte política do ministro». É uma atitude coerente com quem quer evitar problemas. Mas se as condições de vida conduzem ao aumento das doenças mentais bem visíveis por quem anda na rua (percorro todos os dias, a pé, em média 10 quilómetros em áreas urbanas) o que faz o Poder para melhorar essas condições? Aumenta impostos, faz promessas que não cumpre, dificulta a vida retirando apoios de saúde e outros serviços públicos essenciais, para poupar dinheiro, enquanto aumenta o número de assessores e assistentes sem olhar a custos, mantém pensões milionárias acumuladas, etc.
Mas o Relvas não quer ver estas coisas e até retirou do seu blog alguns posts que podiam tocar nas «virtudes» dos políticos, um comportamento 'politicamente correcto'.
Abraço

Anónimo disse...

Caro AJS, tenho mais de 200 textos publicados nos mais diversos jornais onde combato a corrupção, o compadrio e a falta de acções cívicas por parte da população portuguesa, que somos todos nós.
Considero que faço uma luta diária na defesa e na informação da pessoa diferente e suas famílias, alertando para situações de injustiça social e outras que versam a tão propalada inclusão...que de incluso ainda tem pouco...

Acessibilidades e ensino especial são temas quase diários no Aromas de Portugal.
No entanto acho que os deficientes não devem ser utilizados como alavanca política e de outros pseudo movimentos. Ontem coloquei um post que insistentemente me fizeram chegar. Reagi dando o meu apoio e depois verifiquei que os ditos independentes dão louvores a Che e quem sabe, porque não mais me interressou ler, a Fidel...

O Aromas de Portugal e eu próprio, é claro, continuaremos pelo caminho da liberdade, mas não da libertinagem ou populismo.

E caro João Soares, se alguém tem elevado a voz nos mais diversos temas, mesmo naquele em que posso ser disciplinarmente (como sabe) "chamado à pedra" tenho sido eu!

Um abraço amigo

A. João Soares disse...

Caro Relvas,
Admiro muitas das facetas da sua personalidade e da sua actividade.
Um abraço