sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Desconfiança tradicional portuguesa

Transcrição

Jorge Casal deixou um novo comentário na mensagem ""QUEM NÃO CONFIA NÃO É DE CONFIANÇA" ditado popula...":

Há razão para sermos desconfiados.

A meu ver, a desconfiança e a falta de civismo são, antes de mais, produtos da ruralidade que constitui um rasto muito visível da cultura portuguesa. A confiança e o civismo são qualidades típicas da urbanidade. Lembro que o termo «civismo» é o próprio da «civitas» (cidade, meio urbamo, cosmopolitismo). Os aldeões são essencialmente desconfiados (e com razão). A cultura portuguesa tem ainda um forte cunho de ruralismo. Os rurais eram desconfiados porque estavam cercados de aldrabões.

A actual desconfiança dos portugueses é a continuidade da velha desconfiança dos rústicos. Mas também há novas razões para a desconfiança. Na aldeia desconfiava-se de tudo e todos: dos desconhecidos porque nada garantia que fossem gente de bem, dos citadinos que tomavam os aldeões por estúpidos, dos letrados porque se tinham superiores aos iletrados, dos funcionários que exigiam galinhas ou prendas para despachar um requerimento, dos políticos porque eram «uns comilões» (oh se eram! digo eu, e ainda o são!), dos patrões que se portavam como esclavagistas , dos feirantes que eram uma «ciganagem» e ninguém os proibia de vender gato por lebre. Só confiavam no «senhor prior» (desde que fosse o «nosso»...).

Hoje têm outras razões para desconfiarem: dos jornais que vendem papel e publicidade (gato por lebre), dos empresários que recorrem ás falências como eu bebo um copo de água, dos políticos que traficam influências e dos governantes que são gente a quem eu não comprava um carro em segunda mão. Vejam-me a polémica em torno do aeroporto «Ota versus Alcochete». Mas que grande aldrabice esse ministro do «Na Margem Sul? Jamais», e esse Sócrates, seu chefe, estavam prestes a impingir-nos. Foge!... Governo da trapaça. Esse Sócrates merece que se confie nele depois das últimas promessas eleitorais? A dentuça dele merece-vos confiança? A mim não. Reparem que, a cada anúncio de medida dura contra funcionários, professores, reformados, centros de saúde, contribuintes, etc, etc., sai a público a mostrar a dentuça de vitória. Ri-se, goza com a miséria alheia esse tipo. Cada vez que o vejo a mostrar a dentuça penso logo: «vamos ter merda». Fosca-se o homem da dentuça! Confiança? Só os imbecis! Fujam dessa gente!

O António abre o artigo com um provérbio popular. Eu vou inventar este: «Mais vale passar por desconfiado do que ser comido como parvo» porque também existe estoutro: «Gato escaldado de água fria tem medo».

Um abraço Jorge Casal

4 comentários:

Amaral disse...

João
Estes dois provérbios ilustram bem o artigo e o pensamento nele exposto. Claro que somos desconfiados porque temos motivos para isso.
Bom fds
Abraço

A. João Soares disse...

Cao Amaral,
Realmente, nada acontece por acaso. O que falta é curiosidade e paciência para mergulhar no passado real e descobrir as razões que produziram os efeitos que agora suportamos. Cada povo tem as suas tradições, qualidades e defeitos por razões ancestrais.
Jorge Casal demonstra que hoje continua a haver razões para sermos um povo desconfiado. E são grandes razões!!!
Um abraço

Al Cardoso disse...

E com politicos do calibre dos que temos, vamos continuar a ser dos povos mais desconfiados da Europa, infelizmente digo eu.

Um abraco do d'Algodres.

A. João Soares disse...

aro Cardoso,
Tem muita razão. Quase diariamente nos surgem notícias de falta de seriedade de que resulta prejuízo para o dinheiro dos nossos impostos em benefício de políticos e seus amigos e colegas de gabinetes de «estudos» que fazem «trabalhos» por encomenda, muito bem pagos, para os amigos do governo, a fim de estes terem argumentos para melhor nos enganarem. Veja as notícias das estradas de Portugal e das suas ligações a palíticos.
Porque é que os estudos não são encomendados por concurso público honesto? Para poderem encaminhar o dinheiro do erário para os bolsos dos amigos e deles próprios.
Assim, o povo português será cada vez mais desconfiado.
Abraço