Há já alguns anos, assisti ao lançamento de um livro no Palácio Galveias em Lisboa em que foi orador o professor Borges Macedo. O livro relatava casos concretos vividos na guerra de África e o apresentador iniciou a sua oração referindo o respeito que deve haver em relação à história, para o que foi estimulado pelo facto de no jardim haver uma colecção de retratos em azulejos dos reis de Portugal, excepto os três Filipes. Criticou essa falha porque eles também foram reis de Portugal, por mais que isso nos posa causar desgosto. Quer se queira ou não é um facto histórico a que não podemos fugir, e que nada adianta ocultar.
Vem isto a propósito de dois artigos de jornal que me chegaram às mãos, segundo os quais a União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) entrega hoje no Parlamento uma petição com 16 mil assinaturas, pedindo aos deputados que travem a criação de um museu dedicado a Salazar, em Santa Comba Dão. A URAP pretende assim contrariar a intenção de construir no Vimieiro (terra natal de Salazar) o "Centro Documental Museu e Parque Temático do Estado Novo". Para isso, a autarquia conta já com parte do espólio de Oliveira Salazar - um terço dos bens imóveis da herança da família, que recebeu por doação de um sobrinho-neto.
Quanto a esta polémica, o autarca de Santa Comba, João Lourenço, diz que o "Centro Documental" é sobre "a história dos 48 anos do Estado Novo". E se o antigo ditador é a figura central do projecto, é porque "foi ele que fundou o Estado Novo". A garantia é de que os mentores da obra não querem "uma homenagem" a Salazar. "Nunca ninguém falou nisso. Pelo contrário, a fazer uma homenagem, é a quem lutou contra o fascismo! Não queremos lições de democracia!"
A Decisão do TEDH (398)
Há 51 minutos
7 comentários:
Pois o problema reside aí.
Qualquer dia era um local de romagem de fascistas.
Um abraço
Caro Vieira Calado,
Podia ser isso. Tal como as imagens dos nossos reis Filipes e dos outros. Mas daí, com a vigilância e as escutas que estão a ser implantadas, não viria grande mal. Nos estádios de futebol há romagens muito frequentes e ninguém tem medo das desordens que daí vêm. Ninguém fecha as discotecas, onde há frequentes crimes de alta violência, ninguém proibe a Festa do Avante, nem as romarias a Fátima.
Penso que será apenas um preconceito, um falso medo e que resulta na intenção de ocultação das realidades de uma época de grande duração, com graves restrições de liberdades políticas, que seria bom conhecer para se aprender o que deve ser evitado e o que vale a pena ser imitado na política.
Destes preconceitos e medos acabam por resultar coisas inesperadas como a eleição do maior português de sempre. Conhecer a história, com o mal e com bem que ela nos mostra, só traz vantagens para a cultura de uma Nação.
A vida dos povos desenvolve-se condicionada pelo medo e pelo Amor, não devendo encostar-se demasiado a estas margens, antes mantendo-se no meio, com sensatez, lógica e coerência.
Abraço
Espero que do seu mirante veja o meu espaço e me visite:
http://saobanza.blogspot.com/
Boa noite para si!
Bem!
Afinal é tudo farinha do mesmo saco.
Dizem que Salazar Sobverteu a História. Não tenho autoridade para validar ou não a afirmação, uma coisa é certa: Estes estão a tentar escondê-la. Porquê?
Afinal um Povo é o seu passado com ou sem Zés do Telhado.
De notar que são geralmente os mais "ilustrados" que procuram "safar" os erros da História como procuram esconder os seus expedientes actuais.
Sempre desconfiei de coisas escondidas. Prefiro-as às claras.
Cada época tem de ser analisada no seu próprio tempo (não podemos chamar nomes aos homens que usavam cabeleiras no séc. XVII nem chamar tontos aos que usavam armaduras no séc. XII e não usavam garfo para comer, ou às senhoras que ainda no séc. XIX não usavam cuecas).
Também a acção dos personagens tem de ser percebida à luz de cada tempo, e até de cada lugar.
Isto para dizer que concordo inteiramente com o Museu, seja do Estado Novo ou de Salazar. Porque é preciso entender, e preservar a memória é uma forma de possibilitar o conhecimento.
Aliás, nem percebo a oposição ao Museu, a não ser por insanidade.
Concordarei igualmente com um Museu sobre Álvaro Cunhal, pois tem grandeza para isso, ou com um Museu sobre Mário Soares, uma das mais importantes figuras portuguesas d séc. XX, e talvez a mais importante do último quartel.
Isto não quer dizer que concorde com Salazar, que concorde com Cunhal ou que concorde com Mário Soares. Se calhar concordaria com todos nalguns aspectos e de todos discordaria noutros.
Mas o que está em causa não é isso, nem sequer se hipoteticamente o museu se poderia transformar num local de culto dos "fascistas" (que há-os agora mais do que havia antes). Nem a autarquia o deixaria, nem o povo o consentiria.
Não quereria entrar por aí, mas acho que tem "piada" ver como alguns estão sempre dispostos a "fabricar" a história, nem que seja "apagando-a". Mas a verdade é que, por mais que nos custe por vezes, a história não se apaga - e acrescento que por princípio de sanidade mental, pensamento científico, mas também de raciocínio dialéctico, nunca a história se apagará, por mais que alguns o tentem.
Há quem esteja habituado a tentá-lo e não estranho que muitos o quisessem fazer aqui e agora também. Acho até natural, considerando o seu passado, pelo menos ideológico, bem como o conceito muito "sui generis" de democracia.
O que está aqui em causa não é a opção ideológica ou a praxis de um tempo (a propósito, Salazar não era Mussolini, logo esse espantalho dos "fascismo" não se aplica em Portugal, porque os princípios subjacentes ao fascio não são os mesmos. Curiosamente os princípios ideológicos do fascismo, tal como boa parte da prática, funda-se nos mesmo conceitos e nos nos mesmos teóricos que vieram a originar o marxismo-leninismo, mas vale a pena entrarmos aqui nessa discussão, senão baralhamos quem apenas leu alguns manuais, porque os outros nunca lhos deixaram ler).
Enfim, para concluir devo dizer que não sou de esquerda nem de direita; normalmente sou do contra e não me lembro de alguma vez ter estado a favor de um Governo, que acho sempre maus (mas é o País que temos e se calhar o meu mau feitio).
E para algum esquerdista que leia isto, fique a saber que sou de uma família em que temos presos políticos, gente do PC, e que o meu avô e a minha mãe sabem o que é ter a PIDE em casa. Eu já só assisti à Guerra Colonial, com familiares mortos, e depois à Reforma Agrária. E trabalhei, como operário, na cintura industrial de Lisboa.
Claro que por honestidade intelectual jamais poderia ser comunista, pela simples razão que também não poderia ser fascista. Mas ganhei o treino, como disse atrás, para ser do contra.
Não tenho a veleidade de pensar que só eu tenho razão, mas também não tenho grandes dúvidas quando as coisas são limpas e transparentes.
Os verdadeiros "fascistas" são aqules que são contra o Museu do Salazar, não os outros.
Esta história faz-me lembrar que em jovem a minha mulher (então namorada) tinha uma amiga mulata, muito bonita e elegante, com um ar "diferente". Aquilo havia ali mistura de raças e um dia, porque não tenho preconceitos, perguntei-lhe se para além de sangue negro também tinha sangue indiano.
A miúda (era a Suzi) respondeu-me que eu estava a sonhar, porque ela não tinha sangue negro.
Calei-me por educação, mas compreendi que o racista não era eu, era ela. E comprovei isso algumas vezes ao longo da vida (como também já vi muito racismo, até entre brancos, e aqui pelo Alentejo - e noutros sítios, certamente - é possível ver como alguns brancos, alguns muito progressitas, por sinal, exploram os imigrantes de leste.
É que afinal há muitos racismos e há muitos "fascismos".
Caro A. Leitão,
Realmente «subverter a história» não parece ser uma intenção sensata e não promete ter resultado a prazo.
Falta a muita gente o culto pela verdadeira democracia, civismo e respeito pelos outros, sejam eles o que forem.
Um abraço
Ao anónimo, apesar de não deixar sinal da sua identidade, um anónimo assumido, merece que manifeste o meu apreço pela isenção e imparcialidade com que abordou este complexo fenómeno. Numa sociedade em que as pessoas passam ao lado dos problemas essenciais para a felicidade dos cidadãos e se preocupam com as tricas do melhor e do pior, este tema é muito difícil.
Procurar esquecer a história para que ela possa ser reformulada à vontade de ficcionistas não parece ser sinal de boa saúde mental.
Mais tarde ou mais cedo, a verdade vem à tona como o azeite na água.
Nos tempos de hoje os termos direita e esquerda já não têm a carga ideológica de outros tempos, mas a qualidade de português começa a ser valorizada e sê-lo-á cada vez mais apesar, ou talvez por isso, da União Europeia e da globalização.
Tenhamos esperança por melhores dias.
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