sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Referendo ao tratado de Lisboa?

O que valem as palavras
Por Manuel António Pina, jornalista do JN

Vários eurodeputados receberam Sócrates com vaias e apupos durante a proclamação da Carta dos Direitos Fundamentais no Parlamento Europeu. Sócrates teve que interromper várias vezes o discurso e, por um momento, o hemiciclo de Estrasburgo mais parecia uma final Porto-Benfica.

Pelos vistos, o "hooliganismo" pegou no PE, o que não surpreenderá sabendo-se que grande parte dos arruaceiros, que exigiam que o Tratado de Lisboa fosse referendado, pertence à selecta claque "eurocéptica" britânica (talvez seja altura de, como nos estádios, os plenários do PE serem vigiados por câmaras e os eurodeputados obrigados a soprar no balão).

No final, Sócrates desvalorizou o incidente, classificando-o de "folclore democrático".

Convenhamos, no entanto, que prometer uma coisa e fazer outra não deixa igualmente de caber na lamentável e comum categoria do "folclore democrático". "O PS - diz o Programa de Governo com que Sócrates se apresentou aos portugueses e com base no qual foi eleito - entende que é necessário reforçar a legitimação democrática do processo de construção europeia, pelo que defende que a aprovação e ratificação do Tratado deve ser precedido de referendo popular".

Já não falta muito para descobrirmos (mais uma vez) o que valem as palavras em política.

NOTA: Considero muito interessante este texto, embora já tivesse expressado a minha opinião contrária ao referendo como a seguir transcrevo:

O referendo ainda poderá ser decidido. Mas não tem significado, porque...
Para exprimir a vontade real do povo, não devia haver campanha de mentalização pelos partidos e cada um votaria segundo os seus sentimentos e conhecimentos sobre a matéria. Com campanhas dos partidos, a maior parte das pessoas vota em quem o seu partido aconselha.
A maior anedota em caso de referendos, foi com o da IVG. Os políticos disseram que, por ser um problema de grande sensibilidade, não o decidiam na AR e deixavam a decisão ao povo. Parecia uma posição séria, honesta, democrática. Mas não passou de um logro, porque esses mesmos partidos, fizeram uma campanha que foi uma terrível pressão nas consciências do povo para votar em quem eles (políticos) queriam. Houve muitas abstenções porque as pessoas mais desconfiadas em relação aos políticos não quiseram fazer o jogo de uns ou de outros. Essa falta de confiança nos políticos tem sido notada em muitas eleições. Os políticos deixaram de representar a vontade dos eleitores e estes respondem com a abstenção ou votando em independentes, que embora sejam do mesmo naipe, não estão a jogar pelo partido. É uma atitude do povo, que não é tão burro como os políticos pensam.

7 comentários:

Jorge P. Guedes disse...

O povo não é tão burro como os políticos pensam, mas ainda assim... é burro!
Vi nesta recente manada de elefantes que estiveram em Lisboa para adita cimeira euro-africana, uma série de papalvos abater palminhas enquanto olhavam para as câmaras da Tv, estrategicamente colocadas para fazer de uma vintena uma multidão.
Eram poucos, dir-se-á! Pois eram, mas em eleições há sempre mais, os suficientes "burros" para manterem de pé no governo a pior corja de politiqueiros que já vi em Portugal.
Quanto "ao outro" ter sido apupado e dizer que foi "folclore democrático", está dentro dos comentários arrogantemente parolos a que nos tem habituado.
Um dia há-de cair da poltrona, esse vaidozeco!

Um abraço revoltado.

C Valente disse...

As palavras não valem nada no meio de tantos assassinos
Saudações amigas

A. João Soares disse...

Mocho Real e C Valente,
o povo demora a acordar para ver o que se passa com o dinheiro dos impostos. Quanto à palavra assassinos, se não são todos, são uma grande parte. Com quem os poucos sérios têm de conviver!!! Engolem muitos sapos vivos. Bem fez o de Inglaterra em não querer sentar-se nas proximidades de um deles. Mas havia lá muitos outros. Claro que o petróleo, o gás natural, os diamantes e os minérios estratégicos constituem um analgésico que evita a dor da deglutição dos sapos!
E, no fundo, muitos estão a transmitir o recado que lhes foi dado pelas multinacionais, que pagam bem.
Entretanto, os verdadeiros interesses das populações ficaram de fora da porta. Não se resolve Darfur, nem a Somália, nem vários outros casos de que de quando em vez se fala.
Abraço

Amaral disse...

João
Não sei se deve ser feito ou não um referendo ao tratado. Sei que o tratado está muito embrulhado e deve ser esclarecido. Com referendo ou não deve ser explicado aos portugueses e depois decide-se se querem ou não fazer o referendo.
Bom fim-de-semana
Abraço

A. João Soares disse...

Amaral
O problema está aí, no esclarecimento, só possível para gente sabedora do assunto. Estou convicto de que mais de dois terços dos portugueses não leu nem conhece a Constituição a República e, por maior razão, não irá perceber o tratado da UE. O próprio Mário Soares, com traquejo em textos de direito, o acha muito confuso.
A propósito da interpretação de textos, recordo uma entrevista da francesa Simonne Veil em que, depois de dizer que não pratica qualquer religião, tendo lhe sido perguntado qual o texto que mais admira disse ser o «Pai Nosso», porque em poucas palavras encerra o essencial da religião católica. No entanto, a maior parte dos crentes recita-o maquinalmente sem nunca ter procurado perceber o saber ali concentrado em cada frase. Como será possível que essas pessoas, que não interpretam o Pai Nosso, passem a interpretar os meandros escuros do Tratado de Lisboa? Talvez fosse muito bom que 10% dos portugueses o compreendessem.
São as teias que os políticos tecem. Ou melhor, são a obra de políticos que se atribuem saber de Direito.
Abraço

ANTONIO DELGADO disse...

Amigo A.João soares,

Tenho andado muito ocupado e não li muito a imprensa nacional sobre aquilo que se tem escrito. Penso este fim de semana por-me, relativamente ao dia sobre tudo isto. Uma coisa é certa os jornais espnhois, alguns franceses e os ingleses, que consutei na net, não davam grandes destaques à cimeira e falavam em termos moderados mais e termos de efeitos mediaticos. Penso até fazer uma postagem este fim de semana com uma imgenm saida no El Pais sobre a assinatura do tratado. Imagem que é em si um verdadeiro editorial...obviamente para mim.

Um forte e fraterno abraço. António

A. João Soares disse...

António Delgado,
Dessa sua concentração irá sair mais um post elucidante da situação actual.
Será um prazer lê-lo
Abraço