quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Erros sistemáticos nas previsões da inflação

Quando, há cerca de um mês, aqui deixei a interrogação «Como se calcula a inflação?» não estava a fazer insinuações, mas tão somente a expressar uma dúvida muito pertinente, como confirmam os jornais de hoje. Não me chegou qualquer resposta a essa questão, mas as notícias hoje espalhadas por vários jornais tornam bem claro que os governantes , intencionalmente atiram-nos como quem usa uma arma de arremesso letal, números muito inferiores à realidade.

O facto de a inflação «prevista» ser sempre inferior à que vem a ser realidade, não pode permitir que se justifique com as incertezas próprias de uma previsão, pois se assim fosse, o erro poderia ser umas vezes num sentido, outras vezes no sentido oposto, o que não tem sido o caso, pois a diferença joga sempre contra os funcionários públicos e quem vê os seus proventos depender de tal número fictício.

Andamos a ser enganados. Intencionalmente. Como diz o Correio da Manhã de hoje «o engano na previsão da taxa de inflação para o ano passado permitiu ao Estado poupar cerca de 50 milhões de euros em remunerações certas e permanentes dos funcionários públicos.»
Segundo o Correio da Manhã, a inflação teve os seguintes números:
Em 1998, 2,0% (Prevista) / 2,8% (Verificada) + 0,8%
Em 1999, 2,0% (Prevista) / 2,3% (Verificada) + 0,3%
Em 2000, 2,0% (Prevista) /2,9% (Verificada) + 0,9%
Em 2001, 2,9% (Prevista) / 4,4% (Verificada) + 1,5%
Em 2002, 2,8% (Prevista) / 3,6% (Verificada) + 0,8%
Em 2003, 2,5% (Prevista) / 3,3% (Verificada) + 0,8%
Em 2004, 2,0% (Prevista) / 2,4% (Verificada) + 0,4%
Em 2005, 2,0% (Prevista) / 2,3% (Verificada) + 0,3%
Em 2006, 2,3% (Prevista) / 3,1% (Verificada) + 0,8%
Em 2007, 2,1% (Prevista) / 2,5% (Verificada) + 0,4%

Em 2008, fica-se na dúvida se a diferença ficará por mais 0,3% de 199 ou se irá aos mais 1,5% de 2001. Quem nos garante a diferença que saberemos daqui por um ano? O INE já se inclina para 2,5% em lugar dos 2,1% inicialmente previstos pelos governantes.

E os preços continuam a subir, muito acima dos números que nos são arremessados, o que nos leva a manter a pergunta «como se calcula a inflação?»

Bibliografia:
Como se calcula a inflação?
Engano na inflação rende 50 milhões
Engano útil do Governo
Função pública deve perder poder de compra pelo nono ano, jornal Público 16.01.2008

6 comentários:

Pena disse...

Talentoso e Estimado Amigo:
Numa sociedade como a nossa em que as pessoas vivem o dia-a-dia desencantados com o governo da Nação, refiro-lhe que o meu sentimento é o deles.
Prezado Amigo, o meu quotidiano foi fortemente abrangido por atitudes insensatas e incorrectas de posição e decisão política. Sou Professor e vivo num permanente desassossego de como "governar" a Educação e formação desmotivadas para com os Seres Humanos mais Puros e lindos que se conceberam:AS CRIANÇAS e os ADOLESCENTES.
Fiquei bloqueado por verdadeiros "ataques" à democracia e à liberdade de Educar.
Sinto-me apolítico, distante, sem incentivo como direccionar a formação e o Processo Ensino/Aprendizagem alegremente e com gosto pelo que faço na entrega e busca das suas realidades e das suas necessidades vivenciadas (Por um mês apenas que não atingi o topo do escalão remuneratório, congelado não sei porque artes democráticas), sem motivação a estes adoráveis e ternos seres que tudo merecem.
Agora somos alvo de avaliação por colegas que têm as mesmas qualificações que nós. Vá lá entender isto?
Quando fala em inflação errónea, revolta-me contra quem de direito.
Quem fez as contas? Não sabe fazê-las? Ajude-os, amigo por favor. Precisam de auxilio manifesto em tudo, mesmo tudo.
Sabe, sensato amigo, li parte do seu maravilhoso blog. Há tanto, tanto, que desconhecia!
Fiquei a olhar para dentro, para o meu desatento eu e vi só ignorância. Eu que sempre assumi em mim e na sociedade uma consciência e realidade políticas como tudo o que fazemos o é, com determinação e agilidade manifesta, acredite?
Você é uma preciosidade, acredite?
Voltarei sempre, prometo.

Abraço Forte de amizade e estima sincera.

Com respeito

pena

Desculpe se disse alguma inconveniência ou aberração!
Que desabafo! Assumo isto como um desabafo à Falha de "democracia".
Vêm mais impostos não é, mais ainda.
Oxalá calculem antes o poder inflacionário da sociedade e dos bens de consumo?
Saberão fazer contas?

A. João Soares disse...

Caro Pena,
Compreendo o seu desabafo, mas rejeito os adjectivos que me endereçou. Não sou tão sábio como poderá pensar. Apenas procuro estar atento ao que se passa e comparar uns casos com outros, para detectar incongruências e contradições. Adoro a lógica e os raciocínios silogísticos, enfim, a simplicidade.
Acho que a virtude consiste em simplificar o que é complicado e torná-lo compreensível pelas mentes mais modestas.
Temos que fazer justiça e não tirar aos políticos a competência que possuem. Muitos são professores universitários e sabem fazer contas. Mas há objectivos inconfessados que os levam a ser aldrabões.
Repare que em 2007, dizendo que a inflação por eles prevista era menos 0,4% do que a real, deixaram de pagar aos funcionários públicos 50 milhões de euros. Os funcionários públicos tiveram menos poder de compra e os políticos puderam gastar mais 50 milhões!!!
O erro tem sido sempre neste sentido. Isto não é por acaso. São uns malandros!
Mas prejudicam a economia em geral: se aqueles 50 milhões fossem pagos nos vencimentos, iriam aumentar o poder de compra dando movimento ao comércio e trabalho às indústrias.
Pense na estupidez do aumento do IVA: junto à fronteira toda a gente vai a Espanha fazer as compras desde a gasolina até aos alimentos, porque poupam muito dinheiro. O comércio do lado de cá tem fechado, falido. O Estado nem arrecada muito mais, porque essas empresas que deixaram de fazer negócio deixaram de pagar IVA e outros impostos.
Estas reflexões dão pano para mangas...
Obrigado pela sua visita e comentário.
Um abraço

Amaral disse...

João
NO meu tempo dizia-se "quem é burro que estude" e "com papas e bolos se enganam os tolos". Serve isto para dizer que é bonito apresentar números baixos para não aumentar salários e depois vem-se com a conversa que isto e aquilo...
Tudo a mesma cambada.
Abraço

A. João Soares disse...

Amaral,
E o povo, como anda adormecido e nem repara que em poucos anos se perdeu muito poder de compra. Não podemos nem devemos acreditar minimamente nas palavras dos políticos. São só mentiras mal intencionadas. Não merecem a mínima confiança. O povo deve começar a reparar que anda a ser desconsiderado. Deu-lhes o voto e eles depois fazem o que muito bem lhes apetece em benefício próprio, e o tal povo que eles ignoram, que se lixe.
Um abraço

ANTONIO DELGADO disse...

Apesar de não ser especialista em economia sei muito bem o que estas questões, nestes últimos cinco anos, me têm esvaziado os bolsos. Os erros de calculo de que fala talvez sejam filhos da pouca inclinação dos portugueses para o calculo e as matemáticas e quando são os NOSSOS NOSSOS POLITICOS a maneja-las o resultado fica demonstrado.
Sou de dizer, como já vi num blog "cada vez sobra mais mês no fim do ordenado". Como funcionário de Estado que sou não me considero privilegiado, entrei num concurso público onde pediam um trabalhador com determinadas características, concorri e depois de várias provas fui aceite. Mas não tenho duvidas que o meu poder de compra baixou drasticamente e as condições de trabalho têm-se deteriorado de forma acelerada. Há pouco estimulo e muita falta de confiança com o que se está a viver e para vir.E é ainda retido na fonte os impostos. Além disso a progressão das carreiras estão congeladas o que resulta noutra baixa económica individual. A carestia de vida aumentou de forma acelerada . Mas há um factor que nunca é atendido, nesta questão e no meu ponto de vista é muito importante: são os efeitos anímicos que isto tem sobre a população e as consequências graves com reflexos na própria forma de trabalhar e na da produção...não é nada de bom esta sisteatica falha, que parece só ajudar o eterno “levantai hoje de novo”...como se diz no hino e uma anátema da qual não nos livramos... De quem é
a culpa?
Será que tinha razão o tal Flávios que no tempos dos romanos registou, nas suas crónicas que os povos daqui não se governam nem deixavam governar?

um abraço.

A. João Soares disse...

Caro António Delgado,
A solução para o problema já diagnosticado por Flávio parece que a solução é utilizar para a governação, a receita da Selecção Nacional de Futebol: contratam um treinador estrangeiro de reconhecido mérito.
Chegado ele, os partidos são suspensos até o País entrar nos eixos. O Treinador, além de técnicos que traz, escolhe uns quantos nacionais de entre os mais honestos e organiza e põe em funcionamento um sistema de administração eficiente, para ficar em bom lugar no campeonato entre os melhores Países. Quando os resultados começarem a ver-se e quando a nova estrutura educativa, de Saúde, da Justiça. da Ordem pública, da Economia e das Finanças estiver a funcionar com normalidade, então os partidos serão reactivados com normas que permitam focar as suas energias em benefício do País e não de interesses pessoais e de tricas inter-pares.
Abraço